O clima na mansão não podia ser pior. Em um canto os murmúrios começaram a serem formados, enquanto no outro Enzo mantinha o seu olhar impassível e imutável. Enrico viu Enzo andar cabisbaixo e parou em sua frente.
–Ocorreu algo? – Enrico perguntou curioso ao vê-lo com o olhar perdido – Encontrou Emma?
–Enrico... vá ajudá-la – tornou com a voz fraca – eu.. não posso, não agora.
Enrico o olhou confuso, mas ao ir em direção de onde Enzo havia vindo, surpreendeu-se ao ver Emma no chão chorando apenas enroladas com um lençol. Correu ate ela, segurou em seus ombros, a forçando a se levantar.
–Emma, o que houve? Cadê Raoul?
–Ele... não quer mais me ver – disse com a voz fraca. Ergueu-se com dificuldade ao se apoiar em Enrico. Deixou-se ser guiada sem ao menos reparar nas pessoas onde para onde estava indo. Só deu-se conta de onde ele a levou quando escutou o barulho da porta se fechar. Olhou em volta e o encarou – onde estou?
–Em meu quarto – disse carinhosamente – o que houve?
–Ele descobriu... que.. não tivemos nada em Toscana.
–Aquele idiota é bem lerdo – sussurrou para si mesmo. – então ele não quer falar com você? – a viu negar com o semblante entristecido e lagrimas nos olhos – porque não volta pro seu quarto e vai se vestir? Ai quando estiver mais calma, a gente conversa.
Emma assentiu ao ir em direção a porta. Apertou o lençol contra o seu corpo e olhou para Enrico antes de sair.
–Obrigada – balbuciou entristecida.
–Porque essa família é tão complicada? – se perguntou ao sentar-se na cama. Enrico não estava com paciência para ir atrás de Enzo, mas sabia alguém teria que ir. Levou a mão aos cabelos e após pensar decidiu o que deveria fazer. Arrumou as suas malas e caminhou em direção ao quarto de Emma. Bateu na porta incontáveis vezes até perder a réstia de paciência que sentia. Tentou abrir a porta e ao perceber que ela estava aberta, estranhou. Entrou no quarto escutando o barulho do chuveiro. A chamou varias vezes, mas não escutou resposta. – Estou entrando – gritou do lado de fora do banheiro. Colocou a mão na maçaneta e surpreendeu-se ao constatar que ela estava aberta também. Olhou para a jovem sentada embaixo do chuveiro cujas lagrimas misturavam-se com a água. – Porque não me disse que não estava bem? – virou-se abruptamente ficando de costas para não vê-la nua – ei, você está bem?
–Não sei... – murmurou com voz chorosa – parece que meu coração foi dividido.
–Emma.. não me preocupe tanto – suspirou aliviado – vou arrumar as suas coisas para adiantar. Quero que saia daí o mais rápido possível, ok?
–Tem certeza? Tem certeza que quer me ajudar?
–É claro. Eu já disse, sou sua fada madrinha – sorriu antes de sair fechando a porta atrás de si – Não conhecia esse lado selvagem de Raoul.. é como dizem... os homens na cama são oposto na vida. – murmurou consigo mesmo ao lembrar-se das marcas que vira no corpo de Emma. Procurou por suas malas, encontrando dentro do guarda-roupa. Colocou as roupas dela dentro de qualquer jeito e assim que fechou a viu sair do banheiro enrolada em uma toalha. – não precisa ficar tão triste, tudo vai se ajeitar. Eu tenho certeza.
Ela nada disse, apenas foi ate onde a sua mala estava, pegou um conjunto e caminhou de volta ao banheiro.
–Porque eu fui mentir? Se eu tivesse contado a verdade... tudo poderia ter dado certo? – se perguntou após fechar a porta.
***
Raoul controlava a sua fúria. Desde o momento em que havia a deixado, soube que era o errado a se fazer, mas não conseguiu pensar em nada. Desejava apenas se afastar dela. Entrou no primeiro avião que conseguiu e não demorou para estar de volta a Itália. De volta ao seu apartamento que tanto lembrava ela.
***
Com fúria nos olhos Enrico invadiu a sala de reuniões atraindo a atenção de todos. Raoul o olhou inabalável já imaginando o motivo de sua visita.
–Senhores, sinto por isso, mas tenho que me ausentar por alguns minutos – Raoul disse ponderado ao se levantar de sua cadeira e seguir ate onde Enrico estava – já retorno – prometeu ao segurar no braço de seu primo e o puxar em direção a saída. Assim que a porta da sala de reuniões foi fechada atrás de si, Raoul o soltou e com o olhar em chamas o esmurrou, fazendo-o cambalear e cair no chão atordoado – seu cretino, isso tudo é culpa sua.
–Minha? – balbuciou ao levar a mão onde apanhou – O único cretino insensível aqui é você.
–O único que me enganou com suas brincadeiras foram vocês três.
–Três? – murmurou confuso – eu, Emma e.. Enzo? – perguntou após pensar um pouco, sorrindo em seguida – ora, o único que não quis perceber foi você. Se ate Enzo que é lento percebeu... isso é uma vergonha para o presidente da Felicitá.
–Enrico não brinque com a sorte – falou esquecendo-se de onde estava – desta vez eu só lhe bati, mas da próxima irei tirar tudo de você. Acho mais sensato que saia.
–Não posso – resmungou ao se erguer do chão – eu prometi ajudar uma pessoa. Posso ser um mulherengo como vocês dizem, mas não suporto ver alguém chorar por nada. – o encarou sério ainda surpreso por vê-lo em sua frente – Ela não fez por mal. Raoul, ela só tem 16 anos. O que espera de uma adolescente? Espera que ela seja madura para perceber que falar a verdade poderia uni-los, mas do que uma mentira? Esta agindo como se nunca tivesse essa idade. Admito que tive culpa, mas convenhamos você foi um idiota por não perceber a verdade no dia seguinte. Não havia vestígios. Não havia provas. Sejamos sensatos.
–Cale-se.
–Raoul.. vá falar com ela. Deixe-a se explicar corretamente e..
–CALE-SE –gritou – estou cheio de você e Enzo tentarem fazer de minha vida um jogo, onde os únicos vencedores sejam os dois. Eu decidirei sobre a minha vida. EU. Então pare de vir atrás de mim e diga a ele para fazer o mesmo.
–Mas.. Emma..
–Não quero saber – disse friamente – faça o que quiser com ela, só desejo sua assinatura daqui a alguns meses.
–Raoul.. acabará se arrependendo.
–Digo o mesmo a você – falou antes de lhe dar as costas e retornar para a reunião. Enrico permaneceu parado pensativo. Ele já não sabia o que fazer para contornar aquela situação.
– Talvez eu devesse armar alguma coisa? – perguntou-se.
***
Enzo hesitou antes de bater na porta do quarto de Enrico onde sabia que Emma estava. Ele retornara de Nova York horas depois que Enrico entrou em um avião com ela. Ele precisava de tempo para analisar seus pensamentos. Já estava voltando para o seu quarto quando a porta se abriu e viu o olhar perdido da garota por quem havia se apaixonado.
–Emma.. – murmurou o seu nome trazendo nostalgia a si. – você.. está bem?
–Vou ficar – tentou sorrir otimista, mas sem sucesso. Segurou a alça de sua mochila com força ao ver o seu olhar – Tenho... que ir trabalhar.
–Não precisa ir hoje, se não quiser.
–Eu vou. Eu tenho que ir. Obrigada por ter me acolhido durante esse tempo.
–Vai voltar pra ele?
–Como se ele quisesse isso – murmurou para si mesma – não. Vou voltar pra minha casa.
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