Eram oito da noite e eu havia acabado de chegar no abrigo. Vi Abby carregando algumas caixas e Mike estava do seu lado, segurando uma panela. Corri até eles, e quando me aproximei, percebi que a fila se estendia da porta até a mesa.
— Boa noite — Mike disse, colocando a panela em cima de uma das mesas do canto do salão. Abby depositou as três caixas que carregava numa cadeira. — Abby?
Abby virou na direção de Mike e foi até ele, seu sorriso era definitivamente muito bonito. Eu fiquei feliz por vê-lo no rosto dela.
— Pode entregar os bombons? — Perguntou Mike, apontando para as caixas. Ela fez que sim e eu me aproximei dele.
— Oi, Mike — levantei a mão num aceno. Ele sorriu em resposta e andou até a mesa onde uma mulher atendia algumas pessoas. — Como vai? A Abby me disse que você viria hoje, fiquei surpresa.
Ele deu de ombros e olhou para ela, que abriu alguns pacotes de bombons.
— Eu percebi que fiquei muito infeliz longe dela por conta do emprego — ele voltou a atenção para mim e sorriu. — Sua irmã é uma mulher bastante especial. Agora eu entendo porque ficava brava comigo quando eu não estava por perto.
Franzi a testa e tirei a bolsa do ombro, pousando-a ao lado da mesa. Mike passou por mim e se dirigiu até ao balcão do outro lado do salão, onde uma cozinheira fazia a sopa. Abby se aproximou de mim.
— Oi, maninha — ela me cumprimentou, estendendo um bombom. — Que bom que veio. Vamos precisar mesmo de ajudantes. — Eu peguei o doce e Abby pousou as mãos na cintura, percorrendo a longa fila. Eu acompanhei seu olhar. Um brilho errático de tristeza rasgou-lhe. — É muito triste saber que tanta gente está numa situação dessas.
Eu a puxei para mim e enlacei seu braço.
— Ainda bem que você existe. — Encostei a cabeça no braço dela e fomos agarradas à mesa principal, onde as pessoas sentavam-se para jantar. Havia uma fila formada perto da mesa, e as outras estavam dispostas ao longo do salão.
— E você me ajuda — ela piscou.
Sorri.
Andamos, entregando bombons a todos que estavam na fila. Desde crianças, adolescentes, adultos e idosos. Todos, que até então transpareciam olhos tristonhos, sorriram, quando oferecemos sorrisos e bombons. Haviam quase cem pessoas.
Quando terminamos, os garçons começaram a servir os pratos. Mike se aproximou, o sorriso no rosto quase explodia. Ele ficou do nosso lado, observando as pessoas se alimentando. Tinha algo de prazeroso naquilo. Ver o sorriso nos rostos sofridos significava que estávamos fazendo a coisa certa. Mike passou o braço ao redor da cintura de Abby, e lembrei de Chase. Sorri.
Ele foi legal, hoje. Me pergunto o porquê de tanta mudança.
De um dia para o outro, o ogro horrendo virou um príncipe maravilhoso? Bom, embora fosse um príncipe maravilhoso por fora, por dentro era horroroso.
Abby e eu fomos à cozinha ajudar a lavar a louça quando os primeiros pratos começaram a retornar. Ela ficou do meu lado, vestindo o avental e a touca ridícula que deixava uma mecha de cabelo pendurada.
— Como foi o trabalho, hoje? — Ela perguntou, olhando para mim. — Seu chefe ainda pega no seu pé?
Eu queria que ele pegasse em outras coisas…
Eu fiz que não.
— Na verdade, não. Ele foi gentil comigo, até. Me convidou para um café na hora do almoço e trocou mais do que quatro frases comigo. — Eu disse, me inclinando na sua direção. Ela ergueu as sobrancelhas e passou água no prato. — Eu acho que ele gosta de mim. Que ele confia, sabe?
— É?
— Por mais que tenhamos começado com o pé esquerdo, sinto como se cada vez mais tivesse a oportunidade de conhecê-lo. Eu não o vejo mais como o Sr. Babaca Metido. O vejo como um homem ocupado demais e que, às vezes, é rude. — Confessei, voltando os olhos para o prato que ela me entregou. Eu peguei e passei o pano, enxugando-o. — No fundo, ele não é tão cretino.
— Hum — ela sorriu maliciosamente, olhando para mim. — Alguém está apaixonada pelo chefe? " No fundo, ele não é tão cretino" — brincou, repetindo o que eu disse de uma forma engraçada. Eu bati de brincadeira no seu braço. — Fico feliz por saber que está gostando do novo emprego, e que está feliz por estar nele. — Ela disse.
Ela respirou fundo e voltou a atenção para os pratos novamente.
— Ao menos uma de nós está — seu tom mudou completamente. Seu corpo retesou e ela pigarreou, balançando a cabeça e olhando para mim. — Desculpa, você não precisa ouvir isso.
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