Talvez eu estivesse um pouco enlouquecida, porque desde então, se passou um mês desde o pequeno incidente com o café, e meu abusado chefe ainda não me demitiu. Ainda. O pior foi descobrir que o cara de quem eu estava começando a me aproximar era, na verdade, o próprio Chase Ward. Durante um mês, trocamos mensagens diariamente. Passamos a falar mais do que apenas provocações — o que só por si já era estranho — e começamos a contar nossos desejos, prazeres, sonhos, vida. Eu não pude deixar de aproveitar tudo isso. A cada dia que passava, eu entendia cada vez mais Chase Ward, o Sr. Chefe Abusado. Enquanto escondia minha identidade secreta, percebia o quão louco ficava quando o provocava "inocentemente", sem que ele soubesse que eu era a A. Era muito, muito bom irritá-lo de vez em quando. Eu sabia que ele odiava espuma no café e, na semana passada, comprei seu café com bastante espuma. Nossa comunicação na agência era, basicamente, gritos e berros — da parte dele. Eu o respondi calmamente, sabendo tudo o que aconteceu na sua noite anterior. Eu o fiz ficar vermelho um dia desses, comentando que adorava cueca estampada, depois de ouvi-lo conversar com uma mulher. Ele se tornou menos rígido e mais gentil, de modo que me permitisse mais alguns minutos no almoço e trocasse palavras comigo durante alguma reunião importante. Todas as informações que ele me confidenciou secretamente eram usadas contra ele mesmo, fazendo-o se sentir ainda mais confiante de que eu era a pessoa certa para ficar na agência. E ontem, conversamos pelo bate papo e ele contou que provavelmente tinha achado a secretária certa, além de ela ser sexy. Eu quase caí para trás.
As provocações não acabaram, é claro. Eu não havia imaginado, até então, como seria se ele descobrisse que eu era, na verdade, A., mas não me preocupei — viver uma vida dupla nem sempre é fácil —, deixei que tudo acontecesse da forma que ocorresse. Eu me sentia numa via de mão dupla, onde teria que decidir se continuaria agindo daquela forma e o enganando, ou contaria a verdade. Eu preferi o enganar. E isso era muito bom. Mais do que eu provavelmente posso dizer que seja. Tínhamos uma espécie de conexão; mesmo que ele nem me notasse na agência, eu o dominava por completo no chat anônimo. Eu tinha poder sobre ele, e Chase sabia disso. Eu me excitava constantemente e passou a ser um trabalho duro vê-lo todas as manhãs, depois de ter me dito à noite que amava chupar, de um jeito que enlouquecesse qualquer mulher, ou que estava tão duro, que seu pau mal cabia na cueca. Ahhhh, Deus… isso ainda vai me matar. A dor entre as pernas, a palpitação descontrolada e o frio na barriga foram controlados, e eu já podia dizer, com certeza, que era muito resiliente. Ele me provocava sem nem saber, desfazendo o nó apertado em sua gravata, descrevendo que roupa usava quando chegava em casa, ou como queria foder a mulher que nem conhecia direito. Era difícil resistir a não olhá-lo durante uma reunião, ou quando me chamava na sua sala.
O sr. Sheppard saiu de sua sala e eu baixei a cabeça, fingindo me concentrar na pilha de documentos na minha frente. Eu respirei profundamente e notei que chegou uma notificação de mensagem, interrompendo " Crazy in Love" da Beyoncé. Minha bunda se remexia na cadeira com o ritmo contagiante da música. Pisquei e peguei o celular escondido sob algumas pastas. Era ele. Mordi o lábio inferior.
Sr. Bolas Azuis: Eu sou louco por estar querendo saber quem você é? Você pode ser uma assassina em série, ou tão gorda, que talvez me derrube com um tapa.
Eu engoli a saliva e tentei não responder instantaneamente. Meus dedos se mantiveram planando sobre a tela, até que digitei:
A: Talvez.
Depois disso, o celular não apitou mais. Eu troquei de música, ainda deixando uma play list da Beyoncé, segundo a tradição das Hamilton. Dessa vez, escolhi "Bills, Bills, Bills". Voltei a dançar contidamente na cadeira ao som da música. Meus olhos passaram pelos papéis, que gampreava, parelhava e juntava, freneticamente. Quando finalmente consegui terminar uma pilha, fiquei empolgada. Faltavam mais algumas. O celular apitou mais uma vez, mas agora era Abby. Ela ligou. Eu atendi, tirando os fones e pondo o celular entre o ombro e o rosto.
— Oi, sua chata — eu disse, inclinando sobre a mesa e olhando para o outro lado do corredor. Chase ainda não saiu da sala. Era raro ele sair, mas sempre deixava a porta aberta ou entreaberta. De vez em quando a deixava fechada, mas só quando o sr. Sheppard, ou outro colega de trabalho entrava na sala. Eu dei de ombros. — O que foi?
— Não se esqueça — ela disse, o tom era uma advertência. Eu conhecia muito bem a minha irmã para saber que, se ela estava com o tom autoritário, era porque estava bem. Isso me fez sorrir. — Jantar às oito. — Sempre fazíamos aquilo, todos os meses. Na primeira semana de cada mês, íamos a um abrigo que acolhia sem-tetos e fazíamos um jantar. Abby sempre me arrastava, e eu comecei a adorar, também. Fazia com que meu peito explodisse de alegria. — O Mike vai com a gente. — Arregalei os olhos e encarei o telefone, como se aquela afirmação fosse a coisa mais bombástica que já tinha escutado na vida. — Ele disse que quer passar mais tempo comigo.
— Uau. Milagre de Natal? Espera… ainda não é dezembro. — Brinquei. Ela riu do outro lado da linha.
— Sua boba — a voz doce era um riso. Eu me recostei na cadeira. — Eu acho que ele está tentando se desculpar por ficar tão focado no trabalho e meio que esquecer da família. Eu disse a ele que não precisava, mas em vez de dizer "tudo bem", ele insistiu e disse que eu era a mulher mais incrível que já conheceu. — Eu podia ouvir seu coração batendo forte daqui.
— Aproveita e reponha os dias perdidos, está precisando — eu disse, sentindo as bochechas corarem um pouco. Ela me chamou de pervertida e eu continuei: — enfim o Sr. Pau elétrico vai ter um descanso.
— Anne! — Repreendeu.
— Desculpa… mas é bom ver que estão se acertando de novo. Fico muito feliz.
No último mês ela me visitou quase todos os dias. Ela dizia que ele estava se afastando, e que descobriu que a residente do hospital em que ele trabalhava era jovem e gostosa. Era difícil não chorar junto com ela, principalmente porque sou chorona e depois, eu não aguento ver pessoas tristes. Ainda mais a minha irmã. Eu não contei a ela sobre o Chase. Nem para Susan. Eu tinha que manter esse segredo para mim mesma.
Abby desligou a ligação e como eu já havia terminado os documentos que Chase me pediu mais cedo, levei para a sua sala, feliz por ser tão competente. Eu esqueci de bater a porta, e ao contrário do que havia imaginado, a porta não estava trancada, só recostada. Eu entrei na sala e escutei grunhidos baixos vindos da mesa dele. Não entendi, até que ele girou a cadeira que estava de costas para a porta. E então, eu o vi.
Ele estava de olhos fechados, vermelho, enquanto segurava o membro rígido e vigoroso na mão, descendo e subindo com os dedos, freneticamente. Fiquei paralisada diante da cena e com um gemido másculo, que se internalizou dentro do meu corpo, percorrendo-o até a área mais sensível no meio das minhas pernas, derrubei os papéis no chão. Ele abriu os olhos.
Ele abriu a porra dos olhos.
Foi o momento mais excitante e vergonhoso que já passei.
Os bicos do meu peito arrebitaram e, como se dissessem " olá, prazer em conhecê-lo", marcaram a blusa rosa que usava. Merda… estava sem sutiã.
Ele ficou lá, parado, olhando para mim com o pau na mão, estarrecido, provavelmente. Nossos olhares se cruzaram, e vi a fúria cruzá-lo como uma tempestade de domingo. Os olhos azulados, intensos, explodiram em mim. Eu virei para trás, cobrindo os olhos.
— Desculpa, desculpa… — as palavras pularam da minha boca, mas não tinha certeza se eram convincentes. Eu não podia vê-lo, mas agradecia por ele também não poder me ver. — Eu não queria… ai, meu Deus…
— Caralho! — Gritou. — Sai daqui, porra! — sua voz era tão bruta, que senti como se os gritos fossem chutes. Eu corri para fora, tão envergonhada, que poderia me enterrar no cemitério dos idiotas.
Ele continuou resmungando palavrões. Ele fechou a porta.
Ai. Que. Merda.
Cheguei na minha mesa e fingindo que nada tinha acontecido, coloquei os fones de ouvido e peguei o celular. Notei que minhas mãos tremiam e meu coração batia tão acelerado, que poderia produzir energia para uma cidade inteira. Não. Toda eu estava elétrica, pulando, vibrando… babando. Ai, meu Deus! Eu acabei de ver o pênis do meu chefe!
Me inclinei na mesa, jogando o celular sobre a bolsa. Eu gargalhei como uma bruxa má. A risada histérica demonstrava o quão descontrolada estava naquele momento. Meu estômago revirou, dando tantas cambalhotas, que pensei que fosse morrer naquele instante. Se eu fechasse os olhos, poderia ver Chase se masturbando, a expressão de prazer em sua face, os gemidos arrancados de sua garganta… todo o membro… rígido, forte, duríssimo.
Controla a periquita, Annelise.
Concentre-se.
Respirei fundo, deixando o ar me invadir e sair de mim, calmamente. Mais calma, sentei na cadeira, as pernas tremendo, e voltei ao trabalho.
Tentei esquecer o pau de Chase nos próximos minutos seguintes ao grande acontecimento e consegui. Concentrei-me numa pilha de emails que deveria ter respondido há uma semana. Depois, Susan me chamou para almoçar. Eu disse que iria e conversamos um pouco sobre o péssimo encontro que teve. Ela disse que o cara fedia e a levou para um rodízio de carne. Ele comeu quase cinco quilos. Ela fugiu dele, num minuto depois e então, bateu à porta do amigo de cama.
Às uma da tarde, a porta do escritório do meu chefe bem-dotado abriu. Ele saiu de lá, em cima de seu pedestal invisível, como sempre. Ele andou na minha direção, e parou na minha frente, os lábios selados abriram, e de lá saiu:
— Desculpa — rosnou.
Eu pisquei, olhando para ele, sem entender.
— Por ter… visto aquilo.
Se ele soubesse…
— Sem problemas… eu… eu… já esqueci — eu disse, abrindo um sorriso forçado. Segurei a caneta com tanta força, que pensei que fosse quebrar. — Além do mais, eu não bati à porta. Então… eu quem devo desculpas, sr. Ward. — Baixei a cabeça, sentindo as bochechas queimando. Eu não queria que ele me visse daquele jeito.
Chase se inclinou, recostando na mesa. Ele apoiou as mãos no tampo e eu engoli em seco, levantando a cabeça, até poder ver os olhos disparando. Ai, meu Deus… ele é muito lindo. Notei o rosto liso, a boca curvada num sorriso tímido, os olhos ardendo num fogo que me queimava por inteiro.
— Não peça desculpas. Não fica bem em você. Eu que fui pervertido por… me dar prazer durante o trabalho, srta. Hamilton. — Admitiu, a voz firme acendeu uma rajada que subiu como uma explosão de fogos de artifício dentro de mim. Eu sorri. — Então, me desculpe. Isso não vai mais acontecer.
Ah, que pena…
Eu assenti.
— Ficaria muito feliz se aceitasse tomar um café comigo na hora do almoço. Eu sei que não é apropriado, mas tenho boas notícias para você, e… — ele tirou as mãos de cima da mesa e respirou fundo. O peitoral estufou, o terno marcou a linha esculpida do peito. Ele enfiou as mãos nos bolsos. A postura confiante era quase um pecado. Ele ficava ótimo em cima do pedestal. — Quero conversar um pouco mais com você.
Meu corpo congelou.
O que ele queria falar comigo?
— Ok. Está bem.
— Ótimo.
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