Meu CEO Mandão romance Capítulo 19

Bobby arrastou Abby, eu estava logo atrás, carregando Nick e Dick. Eles avançavam como se ao fim do dia fossem receber um prêmio para quem fosse mais empolgado. Eu apertei a coleira com tanta força, que os nós dos meus dedos ficaram brancos. 

— Espera, garota! — Mike correu, passando por nós. Nelly o levava para passear com sua coleira rosa de matar — literalmente. — Mais devagar. 

— Segura, Mike! — Gritou Abby, logo depois caindo na gargalhada. Eu sequei as gotas de suor que desciam por minha testa. Abby sentou-se e Bobby choramingou. Ela puxou sua coleira, e ansioso, ele pulou em cima dela, cobrindo seu corpo quase que por completo. Bobby era enorme. — Bobby! — Repreendeu Abby. Ela tentou retirá-lo de cima, mas a cada tentativa fracassou, sendo engolida por lambidas. 

Nick e Dick pararam. Eles sentaram e inclinaram as cabeças para o lado, observando o ataque de Bobby. 

— Quer ajuda? — Perguntei. Talvez o tom da minha voz tenha sido alto demais, porque Nick, Dick e um outro cachorro voltaram a atenção para mim. 

Abby não parecia nenhum pouco infeliz com o ataque, então dei de ombros e baixei, ajoelhada ao lado dos cachorros. Nick e Dick são irmãos, mas Bobby é como um irmão adotivo. Os três sempre estão juntos. 

Eram duas da tarde. Eu sempre ajudava Abby a cuidar dos cachorros no sábado. Ela era voluntária de um clube de proteção aos animais e todos os sábados, tinha o compromisso de cuidar dos cachorros. Eu me tornei fã do clube a partir do momento em que vi Nelly, a mãe Nick e Dick. Ela era uma garotinha esperta. Foi a primeira de quem Abby começou a cuidar. Assim que nasceu seus filhotes, eu fiquei responsável e, num belo dia, quando o centro recebeu um chorrinho que acabara de ser deixado na porta, Abby se voluntariou a adotá-lo. Por mais que não passe de um filhote, Bobby é gigantesco. Nelly virou sua mãe adotiva e passaram a ficar inseparáveis. Abby não queria separá-los, ainda não, pelo menos até que ele precisasse de mais espaço. 

O parque era tranquilo, o dia estava ensolarado e não fazia tanto calor. Era ideal. 

Mike correu de volta, trazendo Nelly já sem coleira. Eu tirei a coleira de Nick e Dick, que prontamente fugiram de meus braços. Bobby deixou Abby respirar um pouco, mas não correu. Deitou-se, virou de barriga para cima e começou a chacoalhar as patinhas. 

— Seu bobo! — Abby brincou, coçando a barriga peluda de Bobby. Ela voltou o olhar para mim, a testa franzida por causa do sol. — E aí? Como está? — Eu respirei fundo, dei de ombros e ela ergueu uma sobrancelha. Eu cruzei as pernas, ela deixou o cachorro em paz e se aproximou, engatinhando até mim. Mike começou a pular, chamando a atenção dos cachorros. — Eu quero saber de tudo. Desde a comida que comeu no almoço, até o que aconteceu hoje de manhã quando acordou. 

Eu pus a mão no chão e enfiei as mãos na grama. Terra e mato vieram junto quando puxei, então revirei, olhando atentamente. Abby sentou-se ao meu lado e apoiou os braços, espalmando as mãos atrás das costas, então, pousou a cabeça no meu ombro. 

— Eu estou bem — murmurei. O tom da minha voz dizia tudo, menos que eu estava realmente bem. Ela percebeu, porque notei quando exclamou um "uhum" baixinho. — Sério. — Garanti. — Eu olhei para ela. — Porque é tão difícil acreditar em mim? 

Sua expressão de "já ouvi a mesma coisa mil vezes" transpareceu o rosto risonho. 

— Está tudo bem. Na verdade, melhor do que isso. — Exalei. O ar que prendia meus pulmões aos poucos se soltou, mas meu corpo não estava relaxado. Eu podia sentir a tensão  vibrando por meus músculos. — Eu não sei. — Olhei para a frente, me sentindo perdida de repente. 

— Lembra do que disse? Pode falar qualquer coisa. — Ela lembrou. — Ainda tem problemas com o chefe? 

Eu tive que segurar o lábio inferior, porque se ela notasse que começou a tremer, perceberia que todo o meu problema se resumia a ele. Era ruim dizer que sim, mas mentir seria muito pior. 

— Sim. 

Eu decidi parar de conversar com Chase no Secret People Chat. Foi a melhor decisão que poderia ter tomado, mas também a pior. A sensação de problema não resolvido tomava conta de minha cabeça todas as noites quando eu deitava a cabeça no travesseiro. Além disso, perceber que eu havia feito Chase sofrer era praticamente declarar que eu era a pior pessoa do mundo. Seja o que fosse que o deixava arredio e irritado com términos, parecia ter piorado com a situação atual. 

— Ele voltou a ser o babaca que era. Agora trata todo mundo mal de novo, e eu virei praticamente sua escrava. Ele desconta as irritações em mim, grita comigo, me xinga… eu não suporto mais. — Eu engoli o nó da garganta. Abby franziu a testa e levantou a cabeça, passando a me encarar. Seu olhar condescendente encheu meu coração. — Eu não sei o que devo fazer. Quinta-feira ele me ameaçou, dizendo que eu era imprestável e que, praticamente, não servia para nada. — Minha expressão se contorceu, mas eu tive que ter muita força de vontade para não deixar as lágrimas se apossar de mim. Abby colocou a mão nas minhas costas e afagou-me por cima da blusa de listras. — Disse que ia me demitir. Eu preciso do emprego… mal consigo pagar a casa de repouso da Madeleine… Frank disse que se eu não pagasse, teria que despejá-la. 

— Ah, querida… — um tom firme e manso soou da boca de Abby. Ela me puxou para perto. — Você sabe que sempre pode contar comigo, não é? 

Eu fiz que não. 

— Não, Abby. Não. Você não pode se envolver nos meus problemas como se eu fosse incapaz. 

Eu não sabia se era o orgulho que falava ou outra coisa, mas não poderia deixar que Abby colocasse mais esse problema em suas costas. Ela sempre fazia isso e nem percebia o quanto pesava. 

— Anne… você precisa de ajuda. — Eu lancei um olhar sério. — Anne… — insistiu ela. 

Eu me desvencilhei de seus braços e levantei, correndo para longe. Abby começou a gritar, me chamando. Eu não queria que visse as minhas lágrimas e não me importava se parecia uma louca correndo. Eu só precisava de um tempo. Eu precisava respirar. 

Minhas pernas ganharam velocidade, e enquanto corria com a cabeça baixa, sentia as lágrimas escaparem dos olhos. 

Eu as amaldiçoei. 

De repente, dei de cara com alguém. Caí, soltando palavrões. 

Minha bunda doía. Eu tentei levantar, mas, então, ele caiu sobre mim. Protegendo os olhos, berrei. Começando a bater nele. 

— Ai! — A voz grave e firme soou como uma rajada. Chase segurou meus braços. — Para! Está me machucando. 

Notei que ele não estava se referindo a mim, mas sim a Bobby, que pulou em cima dele. 

— Sai — Chase berrou. 

Eu tentei tirá-lo de cima de mim, que por sua vez, tentava tirar o cachorro de cima dele. 

Alguns minutos depois, finalmente livre de Bobby, nos sentamos à sombra de uma árvore. Ele contou que estava correndo pelo parque e que, de repente, Bobby começou a persegui-lo. Antes de esbarrar em mim, não tinha percebido que eu estava por perto — provavelmente por estar ocupado demais correndo de um cachorro de quase um metro e meio. 

— Sempre corre por aqui? — Perguntei. Ele fez que sim. — Legal. 

Bobby era repreendido por Abby, e choramingava sem parar, enquanto tentava se livrar da coleira. Mike e Abby tiveram que nos salvar do Bom Gigante Amigo versão canina. 

— Quem é aquele carinha? — Perguntou Chase, apontando para Nick e Dick, deitados na grama ao lado de Nelly. Como Nick e Dick são idênticos, franzi o cenho, sem saber direito a quem se referia. 

— Nick e Dick. — Eu disse depois de um tempo. Chase assentiu e voltou o olhar para mim, seus olhos intensos encontraram os meus. As lágrimas haviam deixado um rastro no meu rosto. 

— Estava chorando? — Perguntou ele. Chase fez um rastro com o dedo no rosto, imitando o que tinha no meu. 

Eu passei os dedos na cara, limpando o rastro gravado pela terra que grudara à pele. 

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