Annelise estava mais imprestável que o normal, hoje. Parecia distraída, tanto, que quando mandei ela comprar um café, ela trouxe um chocolate quente.
Eram duas horas quando sentamos na mesa da sala de reuniões para um breve almoço. Ela havia comprado um sanduíche de peito de peru para si e um bolo de cenoura para mim. Eu pedi um pedaço de seu sanduíche, porque o bolo tinha deixado um gosto adocicado em minha boca. Ela me deu de bom grado, mas fez uma careta quando pedi mais. Conversamos sobre como eu tinha finalmente transando e ela pareceu envergonhada, talvez até mesmo um pouco excitada. Notei, também, que parecia incomodada quando eu a tocava. Pedi desculpas finalmente para ela. Ela me contou que não tinha gostado do meu comportamento no último sábado.
— Problema seu — eu disse. — Você é muito sensível, srta. Hamilton.
Sua bochecha corada era um incentivo especial. Ela usava óculos de armação fina, os cabelos desgrenhados e roupa apertada de sempre. Não usava muita maquiagem, e mesmo assim não deixava de ser bonita.
— E você é abusado, sr. Ward.
Dito isso, ela levantou, jogou as embalagens fora e eu ergui uma sobrancelha, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, meu telefone apitou.
Uma pequena parte de mim — tá legal… todo o meu corpo — queria que fosse A.
Mas não era.
Eu vi o nome de Kathryn no identificador de chamadas e atendi o celular. Me surpreendi quando minha irmã começou dizendo:
— O papai… ele piorou. — Meu coração quase saiu pela boca, pulsando loucamente dentro do peito. — O médico disse que não foi nada muito grave mas… — sua voz era embargada, o que me fez achar que estava chorando.
Cadê a porra do Paul para ajudá-la?
— Estou indo. — Percebendo o meu estado, Annelise parou, olhando para mim e perguntou:
— O que aconteceu?
— Cancele todos os compromissos do dia. Imediatamente.
Eu corri da sala de reuniões e fui direto para o estacionamento. Procurei meu carro, entrei e dirigi até o hospital.
Quando cheguei, vi Kathryn em pé, parada na frente de uma máquina. Percebi, chegando mais perto, que ela estava chorando. Seu corpo tremia.
— Kathryn — eu disse. — Como ele está? — Eu a tomei nos meus braços e lhe dei um abraço apertado, daqueles que você precisa mais do que a outra pessoa. Ela ficou calada, mas podia sentir sua respiração contra meu pescoço. A segurei firme, impedido de escapar dos meus braços. — Você está bem?
Ela suspirou, e do outro lado do corredor, vi Paul se aproximando ao lado de um médico. Ao me ver, fez cara de poucos amigos e cruzou os braços.
— Ele está bem — Kathryn sussurou. — O médico disse que ele está bem. — Seu corpo ainda tremia. Eu procurei seus olhos e os fitei. Levei a mão até seu rosto e sequei suas lágrimas, que caíam dos olhos freneticamente. Meu coração estava mais pesado, inchado e latejando de dor. — Mas… — ela respirou fundo, olhando para mim. — Mas ele não sabe se o papai vai resistir por muito tempo. — Eu vi a dor que aquela situação causava nela e mesmo assim, fingia não perceber.
Eu era um filho da puta mesmo.
Babaca, como Annelise disse.
Segurei seu rosto ternamente. Ela calou-se e voltou a me abraçar com força, passando os braços ao redor do meu corpo como se necessitasse me sentir. O calor de seu corpo aquecia o meu, invadindo-me em ondas pacíficas de afeto e carinho. Eu beijei seu cabelo e Paul se aproximou. O médico despediu-se dele e entrou numa das salas do corredor.
— Oi — a voz endurecida era bruta. Eu não respondi, apenas segurei Kathryn com mais força. — Kathryn — ele chamou — posso falar com você?
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