Felipe
Merda. Eu não sabia que eu era broxa.
Certeza que essa porra é tudo culpa do Marquinho, aquele vacilão covarde do caralho, ele não perde por esperar.
Hoje eu mudei meus corre, fiquei em casa e não fui nas paradas que já estavam combinadas, eu peguei uma responsabilidade com as mãos e agora preciso ser cabeça.
Mandei a novinha embora, passei uma vergonha do caraio, mas é o que é e pronto. Não adianta ficar de bobeira.
Ver a Amanda dando uma de faxineira hoje mexeu comigo e não me esqueço do rostinho de princesa gostosa que ela estava olhando pra mim.
Isso deve ser muito errado. Merda. A mina é virgem e quase foi abusada hoje. Eu devo ser um maníaco do caraio de estar sentindo atração por ela.
Eu não vou sair e deixar ela sozinha aqui. Não posso.
Bebi uns gole e cai na cama.
(...)
O dia amanheceu e já ouvi o meu celular tocando. Lembrei que dia é hoje.
Tomei um banho e vesti um shorts, com o cabelo ainda molhado sai pra fora e logo vi a Amanda esfregando o chão do corredor da casa.
— Que bagunça é essa? — perguntei já tendo o meu pé molhado.
— Quanto antes eu limpar, antes poderei voltar pra minha casa e ficar longe dessa loucura toda — explicou fazendo força pra carregar o balde de água.
Eu já estou torcendo pra ela cair de novo e a água do balde molhar ela todinha.
— O meu quarto está precisando de uma boa faxina, principalmente em cima da minha cama — avisei dobrando os braços em cima do meu peito.
— Quer que eu jogue água em cima da sua cama e esfregue também?
— Mas daí eu teria que ficar uns par de dias dormindo em outro lugar, você me ajudaria com isso?
Ela me olha torto e eu poderia jurar que ela seria capaz de me dar uma voadora nesse momento.
— Onde está aquela lambisgoia de ontem? — perguntou quase vomitando as palavras.
— Já tomou café da manhã? — mudei de assunto.
Ela me fez lembrar de um episódio constrangedor que eu prefiro não me lembrar.
— Não tomei café da manhã, eu vim aqui pra trabalhar, não pra comer.
— Vamos, eu disse aos meus sogros que cuidaria bem de você — brinquei indo já direção dela.
— Gracinha.
— Vem, pare de ser vacilona, — puxei-a pra mim e nós dois quase caímos, me segurei na parede com uma mão e com a outra segurei ela.
— Tá bom, eu estou mesmo com fome, já faz tempo que acordei e já limpei várias coisas, tem certeza que tem alguma dona que limpa aqui? Coitada da mulher, de certo como ela não dá conta desses homens porcos que frequentam essa casa, — disse meia bravinha.
— A senhorita está destemido hoje, né?
— Eu já vi que você prefere me torturar limpando e esfregando ao invés de simplesmente me matar, — quase se desequilibrou, mas eu a segurei.
— Eu posso ter outras formas de torturar você, sabia? — passei a mão em seu cabelo e sorri largamente.
— O que temos pro café da manhã? — perguntou tentando se soltar de mim.
— A gente vai ali na padaria da Val, conhece? — essa ideia me veio agora, vai ser legal ir lá com ela.
— Já ouvi falar, mas nunca vim pra esses lados de cima.
Entendi. Então a novinha é mesmo uma mocinha bem de boa, que ainda não conhece muito da vida, apesar de viver na comunidade mais perigosa do estado.
— Você vai gostar, daí a gente aproveita e trás pão com mortadela pros mano que vão chegar daqui a pouco pra uns corre aí, — expliquei me lembrando que é mesmo uma boa ideia.
— Não prefere me deixar limpando as coisas, daí você trás pão com mortadela pra mim também? — sugeriu.
Jamais.
— Se esqueceu que eu sequestrei você? Você não pode sair do meu lado, não vou te perder de vista — enfiei a minha mão por sua cintura e apertei.
— Eu estou começando a pensar que você gosta de mim, — falou olhando pra minha cara, tendo que virar bem o pescoço para isso.
Tão pertinho da minha boca.
— Se eu não gostasse de você, você não ia tá aqui, vamos rapa logo, né? O dia tem que começar.
Dali fomos pra padaria da Val à pé mesmo, eu tô com uns pensamentos aqui e eu acho que vou ter que ficar com ela.
Só assim pra mim voltar ao normal.
— Hum, eu precisava disso — falou depois de morder um pedaço da coxinha de frango.
O que eu preciso é de outra coisa.
O meu celular toca.
— Já tamo aqui, vei, onde você tá?
— Já colo aí, vim buscar uns pão pros manos.
Quando desliguei o celular a Amanda já veio me falando:
— Já sei, preciso andar depressa.
— Pode demorar o tempo que precisar, deixa comigo.
Enquanto ela comia eu fui pegar os pão com as mortadela e comprei refrigerante.
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