Capitulo 2
Amanda:
Foco no que é importante: pegar pedidos de doces.
Espero os clientes da padaria irem embora, percebo que a Ju está muito ocupada, enquanto isso eu me sento em uma das cadeiras disponíveis e fico babando nas coxinhas da vitrine e me imaginando em uma praia, de biquíni e óculos de sol, comendo quantas coxinha eu quisesse...
- Amanda? Vem cá, garota - Ju me chama quando já está livre.
Ju é uma mulher negra de aproximadamente 40 anos, é cliente da minha mãe há bastante tempo, a padaria exige muito trabalho e ela nem sempre consegue trazer novidades para vender, por isso encomenda da minha mãe.
Caminho até ela esperançosa, espero que ela faça um grande pedido, vai ser puxado para a minha mãe, mas posso ajudá-la e então teremos um dinheirinho à mais.
- Ju, bom dia - sorrio encostando no balcão.
- Veio tira pedido, né fia?
- Sim, Ju, minha mãe está disponível esses dias, tá afim de uma boa arremessa de doces? ou bolos, sei lá? vejo que você está sem opções para os clientes... - digo dando algumas batidinhas de leve no vidro do balcão.
Ju faz um semblante desanimado, tirando a minha esperança.
- Ah, Amanda, essa semana eu não vou pegar de novo não, o povo estão comprando tudo fiado e só o que é importante, pão e leite, a situação está difícil demais, se eu botar doces nessas vitrines vão estragar tudo...
Solto o ar e respiro fundo.
- Entendo... - murmuro desanimada.
Minha mãe vai ficar triste...
- Talvez semana que vem eu peça algumas unidades...
- Tudo bem, vou tentar na quitanda da Carmem.
- Tá afim de comer uma coxinha e levar um leite pra casa? - Ju pergunta quando estou prestes a me virar e ir embora.
Sinto uma festa no meu estômago só com a possibilidade de eu comer alguma coisa nesse exato momento.
- S-sim, eu adoraria - sorrio sem jeito.
A Ju vai até a vitrine de salgados e envolve uma linda coxinha em um guardanapo.
- Aqui, come essa coxinha porque tá na cara que você está precisando - entrega para mim, pego-a como se fosse um baú de ouro, - aí depois que você lavar a louça eu te dou o leite pra você levar pra casa - diz me passando o catchup e a mostarda - ontem foi aniversário da Bia e a louça do churrasco está toda na pia.
Ok. Terei que lavar louça por essa coxinha.. . Mordo um magnífico pedaço... Hmmm, está tão bom... Vai valer a pena...
(...)
Enquanto eu comia a coxinha, alguns clientes chegaram para comprar pão, fiquei com um pouco de raiva da Ju, o que custava ela comprar alguns doces? Será que ela não entende que precisamos muito? Arg, ela fez churrasco no aniversário da neta dela e ainda reclama que as coisas estão difíceis.
Sei lá, melhor eu parar de pensar assim.
- Amanda, já comeu, né? Pode entrar lá na cozinha e lavar a louça - Ju fala lá do balcão.
- Tá, vou lá.
Entro para dentro da casa da Ju em destino à cozinha, fechando a porta que liga a padaria ao resto da casa. Às vezes ela me pede pra lavar louça em troca de alguma coisa, minha mãe sempre reclama me dizendo que um leite ou 100g de mortadela não vai mudar a nossa vida e que eu merecia mais por lavar louça, mas eu vejo como lucro, não aceito perder uma oportunidade de lucrar seja lá a miséria que for, entre ganhar nada e ganhar pouco, prefiro ganhar pouco, acho que nessa parte sou igual ao meu pai.
Antes de chegar na cozinha, reconheço a camisa azul e o boné vermelho virado pra trás que o idiota da camionete estava usando, ele está de costas falando ao telefone. O quê esse idiota está fazendo a casa da Ju?
- Que porra, Marquinhos! eu não falei que tu tinha que tá aqui? o doutor está com pressa, você sabe que só você tem as coordenadas do bagulho! Tá demorando demais, viado! Onde que tu tá, caraio? - ouço-o falando com raiva.
Me escondi quando percebi que ele iria olhar em minha direção. Ufa, ele não me viu. A vontade de dizer poucas e boas por ele ter jogado leite em mim é grande, mas o amor pela vida é maior.
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