Amanda
— Fala, menina, quantos tem aí?
— O suficiente para irmos embora, mãe, recomeçaros em outro lugar, a senhora pode abrir uma padaria e...
— Filha, quantos que tem aí dentro menina? — foi a vez do meu pai perguntar.
— Seissentos e vinte mil, é o que tem dentro da bolsa, — desembuxei.
Minha mãe começou a dar risada, uma risada nervosa.
— F-filha, q-que história é essa? D-de onde esse dinheiro? Me de a bolsa pra eu ver, — meu pai disse estendendo a mão para que eu lhe desse a bolsa.
Dei-lhe.
— Pai, vamos embora daqui, vamos morar lá com a tia, desse jeito a gente pode abrir uma padaria pra mãe trabalhar e...
O meu pai acabou de abrir a bolsa e agora está pegando os pacotes de dinheiro nas mãos.
— Filha, fala a verdade, como vocês conseguiram esse dinheiro?
— Pai, você não quer o dinheiro?
— É claro que a gente quer, obrigada, minha filha, você está sendo a salvação da nossa família — minha mãe me deu um beijo na testa.
— Sua mãe está certa, — meu pai concordou.
Me surpreendi com a facilidade em que eles aceitaram o dinheiro mesmo fazendo uma ideia da origem dele. Mas é isso, não vou julgá-los... Ninguém sabe por tudo o que a gente já passou e não ganhamos nada em sermos um exemplo de honestidade.
Logo começou uma festa em casa, meu pai, minha mãe e meu irmão dançaram e pularam de felicidade, enquanto eu me perguntava se aquilo realmente iria acontecer: eu iria mesmo embora e tudo iria acabar assim?
Tá certo que não tem quase nada para acabar, na prática eu e o Felipe não vivemos nada, mas dentro de mim acontece um furacão revirando tudo e deixando à mostra todas as minhas dúvidas, medos e fragilidades. Não estou me reconhecendo. Eu sempre fui tão dona de mim e dos meus sentimentos, nunca deixei ninguém pisar na minha dignidade... Por que eu deixei ele fazer tudo o que fez comigo? Por que dentre tantos rapazes me desejando eu fui fraquejar justamente por ele que não tem intenção nenhuma de...
Nossa, babacão mentiroso. Ele disse que se eu quisesse ele queria também, disse que se eu quisesse eu poderia sentar.
Aff.
— Quando podemos ir embora? — perguntei cheia de raiva para os meus pais, que me olharam espantados com esse meu assunto repentino.
— Filha, não sei se irmos embora é a melhor coisa a se fazer, — minha mãe sentou-se ao meu lado.
— Mas não é isso que sempre desejamos? Ter dinheiro o suficiente pra ir embora e morar junto com a tia, faz quanto tempo que a senhora não vê ela?
— O problema é que eu fico nervosa por você, filha, olha, esse dinheiro é seu, você pode usá-lo como quiser, se quiser a gente vai embora agora mesmo... Mas você realmente quer desistir do seu amor?
— Mãe, vocês conhecem o Felipe há menos de uma semana!
— Mas e você? Não somos nós que estamos com as nossas vidas em jogo aqui, é você, filha, você que está deixando o amor passar, você que está perdendo a chance de ser feliz... Você que vai criar um filho sem o pai...
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