AMANDA
Duas semanas se passaram desde que eu deixei o Felipe lá no quarto dele de pau duro pra fora. Meus pais me deram mais corda pra eu viver a minha vida, acho que foi bom eu ter sido dura e verdadeira com eles, afinal eu não sou mais uma garotinha de doze anos. Decidimos que vamos ficar aqui na comunidade mesmo, vamos comprar uma casa mais confortável que tenha um ponto de comércio em frente para abrirmos uma mercearia onde vamos poder vender de tudo, inclusive os alimentos feitos pela minha mãe. Meu pai disse que não é o lugar que faz a gente e sim a gente que faz o lugar. Aqui é um lugar gostoso pra quem sabe como que se deve viver, for inteligente o suficiente pra se manter digno e honrado. Não vai ser nada glamouroso ou que vai chamar a atenção para nós,
Não entendo como eles se sentem honrados usando dinheiro do crime, enfim, eu não me importo. Só quero ficar bem e deixar a minha família bem também, ter algum conforto, coisa que por anos nos foi negado... Mas vai dar certo, agora, nossa mercearia vai ser top e vamos administrar bem como sempre fizemos com a nossa vida, só espero que o crime fique longe de mim a partir de agora.
(...)
Eu e o meu pai estamos lavando a casa onde vamos nos mudar, enquanto a minha mãe e o meu irmão estão arrumando as coisas pra trazermos pra cá, os nossos vizinhos estão ajudando ela desparafusando os móveis para desmontar e mais tarde o caminhão do seu Juca vai encostar lá pra gente bardear as coisas.
— Amanda, você vai votar no Pereirão, né?
— O voto é confidencial, pai.
— Sabemos que é o Felipe quem está por trás de tudo, mas temos que lutar pela comunidade, fazer a nossa parte com o povo.
— Mesmo que haverá muita lavagem de dinheiro, propina, drogas e sabe-se mais o que mais de injustiças envolvidas?
— Não, haverá apenas a resistência da comunidade, só isso, saiba que o seu voto fará toda a diferença entre a vitória e a derrota.
— O senhor não deveria ter se envolvido com a política, pai, temos coisas mais importantes para nos preocuparmos, como por exemplo nós mesmos.
— Quando foi que você se tornou essa garota tão decidida e difícil de lidar?
— Eu sempre fui assim, pai, a diferença é que agora eu demonstro...
— Conhecer o Felipe fez você crescer.
— Sim, pra alguma coisa serviu.
Detesto quando eles falam do Felipe. Qual parte do "nunca teve nada entre eu e o Felipe" que eles não entendem? É um saco, eles precisam me ajudar a me manter firme na minha decisão de me afastar.
Também não é como se o Felipe tivesse vindo atrás de mim me pedindo perdão por me usar daquela forma.
Enfim, dane-se ele. Não posso chorar o leite derramado, até porque ele estava certo: eu gostei, foi muito bom, foi tenso também e até um pouco dolorido, mas como foi bom... Por isso não posso me apegar tanto a isso, foi uma troca de favores e está tudo bem pra mim.
Felipe
— Está dando tudo certo, mano, mas eu tenho certeza que é agora que o bagulho vai pegar preço, minha vó sempre favava que depois da calmaria vem a tespestade.
— Não é o contrário disso, não?
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Nas Mãos do Dono do Morro