Amanda
Quem diria que hoje eu iria me meter em uma encrenca desse tamanho?
Aqui estou eu no banco passageiro da camionete do Felipe, pelo menos não estou no porta malas.
O clima aqui está muito esquisito. Cara, eu estou no banco da frente do carro do "dono do morro", eu nunca me meti nesses assuntos errados e as pessoas com quem converso não me contam nada... Alguns comentários vagos as vezes me fazia ter uma ideia de quem era ou como era o maior bandido da comunidade, mas eu nunca imaginei que ele pudesse ser tão amigável.
É, mais ou menos. Eu ainda não sei bem ao certo quais são os planos dele para mim. Limpar a casa? Me fazer de empregada? Tá, se for só isso ele realmente é amigável. Mas alguma coisa me diz que isso não vai ficar só nessa.
— Amanda, o Marquinho vai se dar mal, eu tenho planos pra ele — Felipe disse ao virar uma esquina.
Olhei-o e ele está com a sua atenção total no trânsito cheio que estamos passando: pessoas, bicicletas, crianças, carrocinhas de papelão e etc, tudo atrapalhando que a gente chegue logo em minha casa. Eu dei o endereço pra ele e ele disse que sabe exatamente onde fica, por isso eu não preciso ficar indicando o caminho.
— Hum, tanto faz... — respondi com pouca vontade.
Não espero nada dele. Sei muito bem que o Marquinho é amigo dele e ele com certeza vai passar pano.
Felipe esticou a sua mão direita e segurou o meu queixo virando o meu rosto, fazendo-me olhar pra ele.
Uma leve tensão me perturba. Por que ele tem mãos tão quentes?
— Como assim? Você tenta roubar, você paga, ele tenta te estrupar, ele paga, ninguém sai impune comigo no comando — falou olhando bem dento dos meus olhos para me fazer entender que ele está falando sério.
— Não foi o que pareceu quando você o deixou ir... — espero não estar abusando da sorte, mas o que precisa ser dito, precisa ser dito.
— Eu já disse que tenho planos pra ele, ele está sendo vigiado e não poderá escapar do seu destino, — ele soltou o meu rosto e voltou a sua atenção para o trânsito.
— Eu gostaria que o destino dele fosse ter as pernas abertas à força, ter o pau temperado com Sazon e limão e que os cães viessem comer tudo com ele bem acordado gritando — falei cheia de ódio.
— Aí, merda, senti a dor aqui em mim — resmungou.
— Não sinta, você não é um estuprador, né? Não precisa morrer de uma forma tão brutal — falei e notei que a minha barriga está dando piruetas, não acredito que eu vou passar mal auqi dentro do carrão chique dele, ele vai me matar.
— O que eu sou, então? Como eu deveria morrer? — perguntou rindo, não entendo porque caraio que ele tem que sorrir dessa jeito.
Ai a minha barriga.
— Ladrão, traficante, assassino, acho que é tudo, menos um estuprador, né? — comecei a massagear a minha barriga, tenho certeza que aquele lanche não fez bem pra mim...
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