ELENA
Em dez minutos eu já estava no carro dela.
- O que aconteceu? – Ela perguntou. – Você parecia tão bem hoje no almoço. Talvez um pouco irritada, mas achei que passaria.
- Ele me enganou esse tempo todo, Mel. Quero ir embora daqui.
- Tudo bem. Vou te levar para casa.
- NÃO! – Gritei – Não quero ir para a casa do meu marido, quero só desaparecer.
- Desaparecer por que?
Então contei a ela tudo o que havia descoberto. Ela fez tudo o que uma melhor amiga poderia ter feito naquele caso. Ela me consolou quando precisei, ficou revoltada quando a raiva retornava ao meu corpo, xingou ele de todos os nomes possíveis quando eu já não tinha mais ideia de que xingamentos usar, e depois ela procurou uma solução quando eu não conseguia dizer mais nada por causa dos meus soluços.
- Posso matá-lo se quiser. – Falou.
- Não. Só quero o divórcio.
- E para onde você quer ir se não vai para a casa dele?
- Para a casa do meu pai. Ele me colocou nessa e ele vai me tirar dessa.
Com um rumo decidido, ela ligou o carro e partimos.
Meia hora depois ela estacionou em frente ao casarão. Meu celular já havia tocado algumas vezes. Era Thiago. Não atendi. Não queria falar com ele ainda. Era muito cedo. Talvez daqui a 5 anos fosse muito cedo para conversar com ele.
- Eu te espero aqui no carro. – Mel falou.
Eu assenti.
Mary se assustou quando abriu a porta e viu minha cara. Eu devia estar péssima.
- O que aconteceu, minha menina? – Ela perguntou.
- Onde está o meu pai? – Perguntei.
- Na sala. Você precisa de alguma coisa?
- Não. Só me leve até ele. – Talvez eu tenha sido um pouco grossa, mas meu dia não era dos melhores. E o meu humor só piorava com o passar das horas.
Eu ficava o tempo todo imaginando o que o meu marido estava fazendo com ela. Será que a amava do mesmo jeito que fazia comigo? Era melhor? Mais atencioso? Dizia que a amava como nunca teve coragem de me dizer?
Essa última pergunta era a que mais doía imaginar. Meu próprio marido nunca me disse, em dois meses de casamento, que me amava. Me machucava pensar que poderia dizer a uma amante. Alguém que ele conhecia a mais tempo e por quem nutria sentimentos de verdade, com quem não tinha casado por obrigação.
Seria por isso que nunca havia me dito que me amava? O seu coração já tinha dona? Enquanto eu era só alguém de quem ele não conseguia se livrar e que precisaria tolerar pelo bem da empresa? Seria eu só mais um negócio lucrativo?
Eu precisava que meu pai desse um jeito de finalizar esse contrato de casamento.
Ele estava na sala, quando eu apareci.
- Elena? O que faz aqui?
- Preciso da sua ajuda, pai.
- O que aconteceu?
- O casamento. Como faço para me divorciar?
- O que? Por que quer o divórcio assim, do nada? Não estou entendendo, Elena.
- O MEU CASAMENTO – Gritei – QUERO ME DIVORCIAR. NÃO VOU AGUENTAR VIVER ESSA VIDA DE MERDA NA QUAL VOCÊ ME METEU! VOCÊ ME METEU NISSO E AGORA VAI ME TIRAR DESSA!
Então caí no choro. Acho que meu pai ficou realmente espantado com a minha reação. Ele se sentou ao meu lado no sofá e disse:
- Eu pensei que vocês estivessem se dando bem depois do que eu presenciei na empresa. Não é assim?
- Não. Eu quero o divórcio, pai.
- Elena, você não está entendendo. Não pode se divorciar dele.
- Por que não?
- Thiago Evans e eu temos um acordo. Um divórcio acabaria com a imagem das nossas empresas. Se você pedir o divórcio eu serei obrigado a entregar minha empresa a ele. E se ele pedir o divórcio, tem que dar a empresa dele para mim. Esse é o acordo.
- Mas a empresa agora não se tornou uma só com a fusão?
- Exatamente. Somos sócios em porcentagens iguais. A empresa é metade minha e metade dele. Mas se ele pedir o divórcio, ele perde a metade que lhe pertence, assim como se você pedir o divórcio eu perco a minha metade da empresa.
Eu não podia acreditar que isso estava mesmo acontecendo. Meu próprio pai preferiria perder a folha do que a empresa. Isso era demais para mim. Eu estava absolutamente sozinha.
E no fundo da minha mente ficou uma dúvida: Thiago havia feito de propósito só para ficar com 100% da empresa? Ontem eu não acreditaria que ele pudesse ser capaz de uma coisa dessas, mas agora, eu percebia que tudo era possível. Para aqueles dois homens, percebi, nada tinha mais valor do que o dinheiro e o status. E eu estava bem no meio de tudo isso. Não pude deixar de pensar se aquele tipo de contrato estava de acordo com a lei. Mas eu sabia que mesmo que fosse ilegal, ninguém se importaria, eram as empresas de ambos que sustentavam praticamente toda a Europa. Ninguém se importaria com a filhinha infeliz de um dos homens que controlavam a economia de um continente inteiro.
- Então é isso? – Perguntei - Tenho que ficar nesse casamento até o fim da minha vida?
- Sim. Não tem volta agora. O acordo foi assinado antes do casamento.
- Está me dizendo que não vai me ajudar?
- Eu gostaria muito, mas isso não está mais em minhas mãos. – Foi tudo o que disse. E nem se importou em perguntar qual era o tipo de problema que eu estava tendo com o meu marido. A minha utilidade só durou, para ele, o tempo que durou aquela cerimônia de casamento. Isso era muito cretino de sua parte. Eu deveria ter sugerido que ele próprio se casasse com Thiago se quisesse manter os negócios dele, mas agora era tarde demais.
Eu não precisava ouvir mais nada. Meu próprio pai estava me virando as costas. Então eu tomei uma decisão. Aquela seria a última vez que eu o veria.
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