O Cafajeste já tem Dona romance Capítulo 16

Cinco meses depois...

Eu nunca vi um homem se divertir tanto comprando coisas de bebês, mas Jean era assim. E um dia seria um ótimo pai. Melhor que o meu, pelo menos.

Minha barriga já estava imensa, e, nesse momento estávamos comprando tantas roupas de bebês quantas Jean conseguisse carregar, já que ele insistia em que eu não me esforçasse. O que ele dizia na verdade era:

- Você já está carregando mais peso do que eu. – Ele dizia por causa da barriga, e do meu tamanho.

Eu estava imensa.

E ainda faltavam alguns meses para nascer.

Jean e eu éramos amigos.

Quando eu chorava sem motivo aparente, ele aparecia com um chocolate quente. Eu estava mais sensível do que o normal, e embora as vezes ainda chorasse por causa de Thiago, não era mais tão frequente quanto antes.

Quando eu estava enjoada, era ele quem segurava meus cabelos, mesmo que eu o mandasse cair fora do banheiro. Ele não me dava atenção.

Quando eu estava com desejos de comer coisas estranhas, era ele quem saía de madrugada para buscar.

A única coisa que ele não podia fazer nada era quanto aos meus desejos sexuais que me matavam. Tinha noites que sonhava com Thiago. Eram sonhos eróticos que me faziam acordar molhada e desejosa.

Hoje era o dia que começava a minha licença. O médico tinha dito que não seria bom continuar trabalhando em estado tão avançado de gravidez. E Jean me obrigou a ficar em casa, não importando quantas vezes eu dissesse a ambos que poderia continuar trabalhando, que a gravidez não atrapalhava em nada.

Não me deram atenção. Por isso que hoje havíamos saído de compras.

Jean não precisava, necessariamente, estar na boate. As coisas por lá funcionavam sozinhas.

E ainda não havíamos comprado nada para a chegada do bebê. Nem roupas, nem móveis.

Se não tive a sorte nem de descobrir o sexo!

Mas isso não impediu Jean. Que, além de carregar todas as sacolas, ainda fazia questão de pagar tudo, sob o pretexto de que eu deveria economizar para quando o bebê nascesse e que ele, diferente de mim, tinha dinheiro sobrando e ninguém com quem gastar.

Na terceira loja que entramos, desisti de discutir e só passei a aceitar tudo o que ele quisesse fazer.

Só quando entramos numa loja onde vendiam berços e outros móveis, foi que eu voltei a discutir:

- Jean, não precisamos comprar o berço ainda. Vamos esperar para saber o sexo primeiro. Ou vamos ter que comprar tudo em cores neutras e, francamente, estou enjoada de coisas brancas, amarela e verde-água.

- Tudo bem então. – Suspirei, acreditando que ele desistiu de gastar ainda mais comigo e com um filho que nem era dele – Vamos arriscar então. Eu tenho a sensação de que vai ser menino. Porque se depender desse seu médico só vamos saber quando a criança nascer. Ele é muito devagar!

A atendente nos olhava com um sorriso, como se estivesse lidando com um casal entusiasmado pela paternidade. E era o que parecíamos. Jean me ignorou e disse que queria dar uma olhada em berços e outros móveis.

Enquanto ele comprava o que queria, como se fosse uma força da natureza, a nostalgia me engolfou novamente. E não pude deixar de imaginar como seria se fosse Thiago que estivesse ali comigo, fazendo todas as minhas vontades.

Eu não tinha dito a ele sobre a gravidez. Na época, pensei que fosse o melhor. Não queria sofrer mais uma desilusão com o mesmo homem. Não iria me humilhar de novo. Afinal, se ele não me quis ao seu lado, por que iria querer criar o meu filho? A resposta, na minha mente, era óbvia. Não iria querer.

Foi por isso que resolvi não contar nada. E mesmo que a decisão estivesse tomada e eu seguisse com a minha vida, tinha momentos que não poderia deixar de refletir como seria se fosse ele cuidando de mim, e não Jean, com quem eu sentia que era, muitas vezes, um projeto de caridade. Não queria me sentir assim, e sabia que não era intencional da parte dele. Mas era o que parecia.

Quando saímos daquela loja, após Jean ter pago tudo o que queria e dado o endereço para entrega, voltamos para casa com as compras.

O quarto do bebê não era bem um quarto. O apartamento era pequeno demais para ter dois quartos. Na verdade, tinha dado um jeito de abrir um espaço para colocar um berço no meu quarto, já que era o único do apartamento.

Embora eu fosse acostumada a viver no luxo, naqueles meses, eu posso dizer que fui feliz, mesmo que às vezes as coisas se complicassem um pouco, como a primeira vez que tentei limpar a casa. Não sabia nem por onde começar. E quando o cheiro horrível de cândida invadiu o prédio inteiro, numa tentativa de lavar o banheiro sozinha, Dona Amélie teve que ir me socorrer.

Em algumas coisas também pedia ajuda de Jean. Mas quando se tratava de serviços domésticos, ninguém melhor do que Dona Amélie, que, por algum motivo que eu desconhecia, havia simpatizado comigo. Sempre que dava, ainda tomávamos o chá da tarde juntas.

No começo, pensei que as pessoas me virariam as costas por causa da minha gravidez, como provavelmente teria acontecido se ainda morasse em um bairro nobre. Às vezes eu esquecia que tinha deixado tudo aquilo para trás. Ali, eu era bem cuidada. As pessoas eram mais acessíveis e menos esnobes.

Uma vez ou outra, quando tinha tempo, ainda pensava na Inglaterra. Mas, diferente do que pensei que aconteceria, não sentia saudades. De nada. Talvez um pouco de saudades de...

Não. Me recriminei. Não sentia falta de absolutamente nada.

Eu estava evitando ao máximo pensar nele. E, na maioria do tempo, conseguia. Pelo menos durante o dia quando estava acordada. Já durante a noite... Era inevitável não pensar.

Mas a vida segue. Mesmo que não seja a mesma, a vida segue e o tempo não para.

THIAGO

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