O Cafajeste já tem Dona romance Capítulo 19

- Como?! – Isso sim era algo digno da minha total atenção.

- Isso mesmo que você ouviu. Antes que você começasse a gritar como louca, o que eu queria ter dito é que sinto a sua falta e quero fazer parte dessa família. Amo você e meu filho. E não há nada que seja mais importante do que a minha família.

Sonhei tanto em ouvir essas palavras... E, ao mesmo tempo, não conseguia tomá-las como verdadeiras, afinal se passaram tantos meses. E foram tantas mentiras.

- Não estou pronta para te perdoar, e nem sei se um dia estarei – falei, mais calma depois do meu surto. Deve ter sido a surpresa de saber que ele abandonou tudo por mim.

- Eu entendo. E não preciso de uma resposta agora. Sei que você necessita de um tempo, e eu estou disposto a dar o tempo que você quiser, só te peço para que me deixe participar e acompanhar a vida do meu filho.

O meu primeiro pensamento foi um grande e redondo “não”. Mas esse era só o meu pensamento de esposa traída. Como mãe eu sabia que seria egoísta da minha parte privar o meu filho de receber o amor do pai por um mero capricho meu.

Como o destino era irônico nesse sentido. Tantas mães querendo que seus filhos recebessem um pouco de amor dos pais e, enquanto isso, tudo o que eu queria era que o pai do meu filho se mantivesse tão longe quanto conseguisse, mas ele parecia querer ficar tão perto quanto fosse possível.

De certa forma, ver que esse homem, o homem que eu amava, gostaria de estar perto do nosso filho, só me fazia amá-lo ainda mais. E o odiei por despertar isso em mim, um amor que eu tentava a todo custo enterrar nos últimos cinco meses.

Foi pensando em tantos filhos que eram abandonados pelos pais, sendo criados só com o amor da mãe, que eu resolvi ceder. Porque, de certa forma, preferiria ter que aguentar Thiago o tempo inteiro por perto, do que descobrir o desprezo que sente pelo próprio filho. Pelo nosso filho, me corrigi.

- Eu jamais privaria meu filho do amor a que tem direito. – Respondi, por fim.

Ele sorriu. Pela primeira vez desde que chegou, eu vi aquele sorriso novamente. Não tinha consciência de quanta falta sentia daquilo. Algo que antigamente era tão corriqueiro e nunca parei para prestar atenção.

E, de certa forma, era um sorriso diferente dos de antes. Enquanto os de antigamente eram abertos, esse era um sorriso tímido, como se fizesse tempo que não aparecia e estivesse descobrindo como fazê-lo novamente.

- Então... – Ele falou – Isso significa que eu posso ficar morando aqui com você?

- O que?! – Exclamei.

Não. De jeito nenhum eu permitiria isso.

THIAGO

Eu sabia que havia ultrapassado todos os limites com aquela pergunta. E me arrependi de ter dado brecha para uma resposta. Que veio certeira  em  forma de uma negativa:

- Não. É claro que não! 

- Seja razoável, Elena. Eu estou pobre agora, não tenho onde morar. – Tentei convencê-la. 

Obviamente isso não era inteiramente verdade. Eu tinha sim bastante  dinheiro ainda, já que nunca fui uma pessoa de esbanjar horrores, mas como poderia fazer com que me desse outra chance se não passasse a conviver comigo diariamente e percebesse que mudei? Além do mais, se eu tivesse que passar muito tempo em um hotel, em Paris ainda por  cima, certamente  ficaria pobre muito mais rápido do que o planejado. 

Poderia ter ligado para o meu pai e pedido para ele me ajudar  financeiramente, já que os negócios  dele permitiam pagar um hotel naquela cidade por tempo indeterminado. Mas se fosse assim, qual seria a vantagem para mim? E eu não queria ter que pedir dinheiro ao meu próprio pai. Eu era quase pobre  agora, não mais um milionário, e deveria me acostumar com a minha nova realidade. Ao lado da mulher que eu amo. 

Essa era a minha vida agora. 

Elena estava muda, como se não soubesse o que fazer comigo. Então tomei isso como um convite para que eu me sentisse em casa. 

Peguei minha mala, que estava esquecida perto da porta, e fui em direção ao minúsculo corredor, olhando todos os cômodos, que não eram muitos. Então parei na última porta  e falei:

- Vejo que temos só um quarto. Mas a cama é de casal, acho que cabe nós dois embora talvez fique um pouco apertado, ainda  mais com o tamanho da sua barriga. 

- De jeito nenhum você vai dormir na mesma cama que eu! – Ela veio atrás de mim. 

- Não se preocupe. Tomarei cuidado com a sua condição de grávida. Prometo lhe dar todo o espaço que precisar, também prometo que ficarei horas acariciando sua barriga e conversando com o nosso filho. – Fiz de conta  que ela não tinha dito nada, como se tivesse concordado comigo. Eu a venceria  pelo cansaço. Estava admirando aquele berço simples encostado  em um canto e as diversas sacolas dentro dele, provavelmente coisas para  o bebê. Estavam ali por não haver espaço no resto da casa. Elena não deveria saber onde colocar tudo aquilo.

- Não vai encostar na minha barriga! – Ela me tirou dos meus devaneios – E obviamente vai me dar todo o espaço que eu necessitar, pois não vai dormir comigo na mesma  cama! 

- Vou deixar minhas coisas nesse canto do quarto. Acho que logo teremos  que nos  mudar, não é? Vai ser meio apertado vivermos nós três nesse apartamento. Uma criança precisa de espaço para gastar as energias. – Continuei. 

- Vai ter espaço de sobra assim que você for embora!

Será que ela não entendia que eu não iria a lugar algum? 

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