- Sente-se – Ele falou – Eu vou servi-la.
Me sentei. Ainda refletindo o que faria com ele todo aquele tempo. Seria impossível passar o dia todo em casa tendo que olhar para a cara dele. Acabaríamos nos matando. E logo agora que tinha começado a minha licença. Jean bem que poderia me deixar voltar a trabalhar. Iria falar com ele logo depois do café da manhã.
O bacon e os ovos estavam uma delícia. O que era surpreendente para alguém que nunca tinha cozinhado na vida.
- Essa não é a primeira vez que cozinha, não é? – Perguntei.
- Não. Estive morando sozinho nos últimos cinco meses. Precisei aprender uma coisa ou outra.
- Não mora mais na mansão?
- Não. Não conseguia ficar lá.
- Por quê? – Perguntei.
Seus olhos fixaram nos meus e me arrependi daquela pergunta. O motivo era bem óbvio, na verdade. Eu também não conseguiria ficar lá, depois de viver tantos momentos bons e saber que eram mentiras. Resolvi mudar de assunto:
- Semana que vem tenho uma consulta. Você pode ir se quiser. – Ele me olhou sério, e eu acrescentei, rapidamente – Mas não se sinta obrigado a nada. Se não quiser ir tenho certeza que Jean pode me levar.
- Eu vou. – Houve uma pausa constrangedora, até que ele falou, de forma brusca – Quem é esse cara afinal? Vocês estão juntos?
Arregalei os olhos. Não acreditando na cara de pau de vir me cobrar qualquer coisa quando, obviamente, ele poderia fazer o que quisesse. Isso era muito machista, na minha opinião. Meu sangue ferveu. Respondi:
- Nós transamos algumas vezes. – Era mentira. Mas eu queria, de alguma forma, que ele sentisse o que eu senti quando me traiu. – Você sabe, os hormônios da gravidez não são fáceis de controlar. Todas as noites o desejo era avassalador, então ele dormia comigo. Na verdade, essa foi a primeira noite que ele não dormiu aqui.
Eu estava exagerando um pouco na mentira. E pensei que ele fosse perceber. Mas o que aconteceu foi completamente diferente.
Olhei em seus olhos e vi o ódio. Seus dentes estavam cerrados e suas mãos em punhos em cima da mesa. Havia uma veia saltada em seu pescoço que me fez pensar se ele não sofreria um AVC a qualquer momento.
Mas nenhum desses sinais me preparou para a explosão que se seguiu.
Ele se levantou e me puxou de pé com brusquidão. Estávamos cara a cara. Meu nariz quase roçando em seu queixo. Suas mãos apertaram meus braços ao ponto de sentir dor, mas não deixei transparecer que estava me fazendo mal. Com uma voz fria, que nunca tinha escutado, ele falou:
- Foi por isso que não me mandou avisar sobre a gravidez? O filho não é meu, é isso?
Fiquei calada. Um pouco em choque com aquele tratamento que nunca usou comigo. Ele apertava cada vez mais forte.
- Como uma puta qualquer abriu as pernas para o primeiro vagabundo que apareceu na frente e achou o quê? Que o idiota aqui assumiria um filho que nem é meu? Achou que quando nascesse esse bastardinho teria direito a tudo o que era meu?
Suas palavras eram como facadas em meu peito. Nunca pensei que fosse ter aquele tipo de comportamento e nem dizer todas aquelas atrocidades. Tão pouca consideração tinha pelo que vivemos? Tão pouco se importava comigo e com aquela gravidez para me tratar daquele jeito?
Senti uma pontada de dor em meu ventre. Dei um gemido baixinho, mas ele não parou por aí. Ou não se importava com o que me acontecesse ou não havia percebido que estava com dor. Provavelmente era a primeira opção, pela forma possessa como se comportava.
- Você não pense que eu não pedirei um teste de paternidade. – Ele continuou – E se for mesmo meu, entrarei na justiça e o arrancarei de você. Você sabe que não tem condições de brigar comigo na justiça quando eu tenho muito mais condições financeiras de bancar essa criança do que você. – Ele fez uma pausa – Ficarei morando com você até que essa criança nasça.
Finalizado suas palavras, ele me soltou. E eu desabei no chão, tremendo e com aquela dorzinha começando a se tornar incômoda, embora não fosse uma dor insuportável. As lágrimas caíam por meus olhos, sem que eu conseguisse segurá-las.
Aquele era o motivo para eu nunca acreditar em Thiago. Mais uma vez ele havia conseguido me quebrar.
Ele havia saído da cozinha e provavelmente do apartamento também. Mas eu não ficaria ali nem mais um minuto. Sabia que voltaria uma hora.
Com pernas trêmulas, me levantei e fui em direção à saída. Precisava encontrar Jean. Nunca em toda a minha vida precisei de alguém como naquele momento.
Ainda sentindo algumas pontadas no ventre, um pouco enjoada e com tontura, consegui chegar até a porta do apartamento do meu vizinho e bati.
Não levou nem um minuto para abrir. Quando ele me viu, seu sorriso se dissipou.
- O que houve? – Ele perguntou, preocupado – É o bebê? Está com dor? Pelo amor de Deus, Elena! Diga logo o que aconteceu! – exclamou.
- Não é o bebê. – Consegui dizer em meio ao choro – Posso entrar?
Ele me deu passagem e eu entrei. Sentamos no sofá e ele repetiu:
- O que aconteceu?
Eu o abracei e pelos próximos minutos só consegui colocar para fora todo o meu desespero, a minha raiva e a minha desilusão.
Não conseguia acreditar que aquilo estivesse acontecendo comigo. Não pedi para ele aparecer na minha vida. Tudo o que eu queria era que ficasse longe de mim e do meu filho. As coisas pareciam tão bem naquela madrugada, me fazendo sentir inteira novamente e, agora, algumas horas depois, estava pior do que antes.
Talvez eu não devesse ter feito aquele comentário a respeito de Jean, mas imaginava que também não fosse para tanto. O que ele fez comigo... As coisas que disse... Ele simplesmente parecia outra pessoa. Alguém com quem eu não gostaria de me envolver. Nunca.
Pensar no que aconteceu nessa manhã me dava calafrios. Em meu íntimo sempre tive aquela certeza de que Thiago nunca me faria nenhum mal. Pelo menos não físicamente. Mas, por um instante naquela cozinha, pensei que fosse apanhar.
E isso contribuía para o meu mal estar.
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