Nós descemos novamente e ele me levou para a cozinha.
Ele fez um cachorro quente que estava delicioso.
- Admita que não é só o meu chocolate quente que é delicioso. – Jean falou.
- Se eu admitisse em voz alta nós três não caberíamos dentro dessa casa. – Brinquei.
- Nós três?
- Eu, você e o seu ego gigante.
Ele gargalhou. Depois ficou sério e perguntou:
- Está melhor?
- Eu vou superar. – Foi toda a resposta que dei.
Não queria mentir. A verdade era que, embora sorrisse, não me sentia nada bem. Tudo estava tão confuso em minha mente e, mesmo que eu tentasse me convencer de que não ligava para a opinião de Thiago, eu ligava. Me importava com o que pudesse pensar a meu respeito. E doía imaginar que era aquilo o que pensava de mim.
Era seu filho que estava dentro de mim. Como poderia duvidar disso? Eu me sentia como a pior merda entre as merdas.
- Eu vou até o seu apartamento agora. – Ele se levantou, embora nem tivesse terminado de comer ainda. – Quer alguma coisa específica de lá?
Neguei.
Jean estava me dando espaço. Me dando um tempo para ficar sozinha. Ele sabia que era disso que eu precisava no momento. O que me fez pensar, como alguém que me conhecia a tão pouco tempo poderia me entender melhor do que o meu próprio marido?
Era gentil da parte dele sair da sua própria casa para que eu tivesse um pouco de espaço para chorar.
Terminei de comer e sentei no sofá, esperando ele voltar. Então comecei a ouvir vozes vindas do corredor, ou do apartamento ao lado.
- Onde ela está?! – Essa era a voz de Thiago. Sim, ele já devia estar de volta.
- Saia do meu caminho! – E esse era Jean.
Então me arrependi de ter sido covarde e não ter voltado para buscar minhas próprias coisas e enfrentá-lo eu mesma. Jean e Thiago estavam se enfrentando e isso não terminaria bem. Tinha criado uma confusão.
Levantei do sofá, pensando se deveria ir até lá acalmar os ânimos. Então refleti: O que uma mulher grávida poderia fazer, além de acabar inflamando ainda mais a situação? Sim, era provavelmente o que aconteceria. Além do fato de ter sido eu a causante de toda essa animosidade.
Preferi esperar. Um pouco nervosa com a demora, comecei a caminhar pela sala, numa tentativa de me acalmar. Não funcionou. Ao menos ali eu estaria segura. Ou isso era o que eu imaginava.
As vozes se aproximaram, imaginei que estariam logo do outro lado da porta. Ainda discutiam. Thiago ainda exigia saber onde eu estava. Então a porta se abriu e Jean entrou. E, por uma fração de segundo, meus olhos se encontraram com os de Thiago. A primeira coisa que me passou pela cabeça era que ele não estava nada bem. Expressão cansada, olhos vermelhos, a roupa amarrotada.
Quando me viu ali parada, Thiago entrou no apartamento, como um raio, antes que a porta fosse fechada na sua cara, parando na minha frente. Com medo, dei um passo para trás.
- Ela não quer falar com você. – Jean falou – Saia da minha casa.
- Volte para casa – Thiago falou, me olhando – por favor.
Neguei com a cabeça e, num acesso de ódio mortal por tudo o que me fez, falei:
- Vou ficar com Jean, não acho bom que o filho dele fique na mesma casa que você.
Ele se encolheu com as minhas palavras. Não sei o que aconteceu para que mudasse drasticamente desde que saiu da minha casa, mas não queria saber se estava arrependido, se percebeu o que fez ou se era um puto milagre divino, seja o que for que o transformou, não me convencia. O mal precisava ser cortado pela raiz. E era isso o que eu estava fazendo, me convenci. Não seria mais um nome no noticiário de tragédias.
Esse era o mínimo que eu poderia fazer por mim e pelo meu filho. Nos poupar.
- Agora saia. – Falei – Eu fico enjoada só de olhar para a sua cara.
Dei as costas para ele, pensando que havia terminado aquela conversa. Não se dando por vencido, ele caiu de joelhos e me agarrou a mão. Me virando.
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