Ele se alarmou:
- Você não gostou?! Posso comprar outro, se quiser. Que tal um com nome agora que já escolhemos?
Isso só fez com que chorasse mais.
- É perfeito. Obrigada.
Ele relaxou e pegou Lizie no colo novamente.
É, ela realmente era a queridinha do papai.
Eu passei uma semana no hospital, para que o médico tivesse certeza de que Lizie e Alex estavam fortes e saudáveis o suficiente para irem para casa. Thiago ficou esse tempo todo dormindo na poltrona e se recusando a ir para casa ou fazer revezamento com Jean.
Ninguém além de Dona Amélie apareceu para me visitar. Eu sabia que Thiago havia contado sobre Lizie e Alex para Lisa e Eduardo Evans, seus pais. Sabia também que eles queriam vir ao hospital visitá-los, e que Lisa infernizava à vida de Thiago com tantas ligações que o celular tinha que ficar sempre desligado.
No começo eu não entendia porque ele não deixava os pais virem nos ver e se recusava a passar o endereço do hospital. Mas depois de pensar um pouco eu entendi. Ele estava me dando espaço. Provavelmente pensava que se eu quisesse que viessem eu mesma os convidaria.
E embora estivesse tentada a acabar com todo aquele inferno que Lisa estava fazendo com Thiago, telefonando toda hora, eu não estava com vontade de receber visitas.
Queria um tempo tendo meus filhos só para mim. Só para nós, me corrigi.
Eu estava vivendo num mundo de fantasia, querendo prolongar aquele momento tanto quanto pudesse. Fingir que éramos uma família feliz e sem problemas, que Thiago me amava e que tudo estava bem. Queria deixar todo o passado fora do hospital, embora eu soubesse que só estava adiando o inevitável.
Thiago se mostrava um pai atencioso. Se esforçava em ser o melhor pai do mundo. E isso me incluía também. Fazia todas as minhas vontades.
Não sei se era fingimento ou era real, mas queria aproveitar aquilo o quanto pudesse antes de voltar ao mundo real, aos problemas que nos aguardavam do lado de fora.
Quando a semana terminou e tivemos alta, pegamos um táxi. Jean estava com problemas administrativos na boate e não pôde nos buscar. Teríamos que nos virar.
Antes que pudesse dar o endereço ao taxista, Thiago deu outro endereço.
- Para onde vamos? – Perguntei.
- Precisamos passar em um lugar primeiro. – Foi toda resposta que consegui obter o caminho todo.
Não protestei, a verdade é que qualquer desculpa para prolongar a nossa trégua era bem vinda.
O táxi entrou em um bairro que eu pensava ser de classe média. As casas eram mais bonitas do que no bairro onde vivia, maiores e espaçosas, embora não se comparassem às mansões onde morava na Inglaterra.
Pelo menos as ruas eram limpas, não fedia e o tráfego de pessoas era menor. Um lugar tranquilo para morar.
Por um instante, invejei os moradores daquelas casas bonitas e com quintais bem cuidados.
Eu era dessas pessoas que adorava observar a arquitetura dos lugares. Embora não entendesse muito disso, gostava de admirar casas bonitas e bem construídas, e se tivesse talento para desenhar, talvez agora fosse uma arquiteta, e não estivesse morando num lugar tão horroroso. Eu seria independente e poderia me sustentar.
Paramos em frente a uma casa de dois andares, com uma varanda no andar de cima e um amplo quintal na parte de baixo. Era a casa mais bonita da rua, na minha opinião.
Fiquei curiosa.
- Quem mora aqui? – Perguntei.
- Você verá. – ele sorriu em resposta.
Segurando Lizie nos braços, ele abriu a porta e esperou que eu descesse. Com Alex nos braços e carregando a mala da maternidade, desci.
Observando ao redor, esperei Thiago pagar o taxista e se aproximar do portão.
Ele tocou a campainha e esperamos.
Ele tocou novamente e continuamos esperando.
- Acho que, quem quer que seja que more aí, não está em casa, ou não quer recebê-lo. – Falei.
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