Resumo de Capítulo 34 – Uma virada em O Cafajeste já tem Dona de Érica Mayumi
Capítulo 34 mergulha o leitor em uma jornada emocional dentro do universo de O Cafajeste já tem Dona, escrito por Érica Mayumi. Com traços marcantes da literatura Romance, este capítulo oferece um equilíbrio entre sentimento, tensão e revelações. Ideal para quem busca profundidade narrativa e conexões humanas reais.
Uma semana havia se passado desde que Thiago saiu de casa. Eu estava sozinha, e tendo que me desdobrar em três para dar conta de fazer tudo o que precisava. Não era fácil acordar cedo, cuidar da casa e dos filhos ao mesmo tempo, fazer comida, ir trabalhar, voltar de madrugada e recomeçar tudo de novo no dia seguinte. Sem contar aquelas noites mal dormidas por causa de Lizie e Alex.
Nunca mais vi Thiago. Não sabia para onde tinha ido, e nem se continuava na França. Não apareceu nem mesmo para ver os filhos.
O que me revoltava. Afinal, onde estava todo aquele amor e carinho que dizia sentir pelos filhos? Parecia que havia desaparecido...
Naquela manhã, acordei ouvindo o som da campainha tocar. Eu estava com sono depois de ter passado a noite inteira tentando fazer Lizie e Alex dormirem. Mas não podia deixar o desgraçado continuar tocando a campainha como se fosse um alarme de incêndio, ou então as crianças acordariam de novo.
Levantei correndo e fui abrir a porta do jeito que estava, descabelada, remelenta, de pijama e descalça.
Quando abri a porta, não esperava aquele rosto.
- Tyler?
- Uau! Você fica ainda mais linda com essa cara de sono. – Ele sorria, encantador.
- O que você faz aqui? – Perguntei.
- Sou só um garoto de recados. Vim trazer isso. – Ele me entregou um envelope pardo. – Agora é melhor eu ir.
- Não! – Exclamei. – Por favor, fique mais um pouco. Entre. – Abri passagem.
Eu estava tão carente e sozinha esses dias que qualquer visita era muito bem vinda. Não aguentava mais ficar sozinha naquela casa imensa, embora Jean viesse sempre que podia, às vezes acompanhado de Dona Amélie e seus bolos deliciosos.
Tyler ficou surpreso com o meu convite para entrar, mas não recusou.
Qualquer um pensaria que só o tinha convidado para entrar para conseguir informações sobre o que Thiago andava fazendo, mas a verdade era que isso nem tinha passado pela minha cabeça. A única coisa que eu queria nesse momento era esquecer o que aconteceu naquele dia que fui humilhada pelo meu próprio marido e seguir com a minha vida.
Levei-o para a cozinha, para fazer um café, já que ainda não tinha comido nada.
- Sua casa é bonita. – Ele falou – Foi você que decorou?
- Não. Thiago já a comprou assim. – Respondi, colocando a água para ferver.
- Então é isso? Está querendo saber notícias dele? – Perguntou.
- Não. Não é nada disso, muito pelo contrário. Agradeceria se não dissesse nada sobre ele.
- Então por que estou aqui? – Ele estava confuso e eu não saberia o que dizer sem parecer uma garota desesperada por atenção.
- Eu só... – Comecei – Eu só estou cansada de ficar sozinha pensando em coisas desagradáveis. – Não tive coragem de olhar em seus olhos quando disse essas palavras, por isso fiz de conta que estava muito ocupada com o café e dei as costas para ele.
Houve um silêncio constrangedor e me arrependi por ter estragado tudo. Deveria ter deixado que ele falasse de Thiago, pelo menos o clima ainda estaria leve.
- Você acabou de roubar o meu lugar no pódio. – Tyler falou, sua voz soando logo atrás de mim, e não mais vinda da mesa.
- Seu lugar? – perguntei, confusa.
- É, você sabe, eu sou o melhor estragador de climas que você vai conhecer, depois de você, é claro.
Eu dei risada, não sabendo como ele tinha adivinhado meus pensamentos. Mas ele tinha razão. Tinha conseguido acabar com o clima bom entre a gente. Depois daquela declaração de Tyler, o clima parecia leve de novo, e eu o provoquei:
- Eu acho que na verdade você é um consertador de climas.
Ele riu, e vendo que a água já estava fervendo, falou:
- Me dê. Eu termino de fazer o café. Parece que você vai cair de sono a qualquer momento.
Sentei na pia, ao lado dele, e fiquei observando ele fazer o café. Sem me olhar nos olhos, ele disse:
- Eu sei que Thiago não vai gostar nada disso mas... – Fez uma pausa – Se quiser posso vir fazer companhia para você de vez em quando.
- Eu não preciso de...
- Não é caridade. – ele me interrompeu – Ou qualquer outra coisa que você pense que eu esteja fazendo. Realmente gosto de você e gosto da sua companhia. Vou convidar os caras para virem comigo. – Fiz menção de protestar, mas ele não me deu tempo, acrescentando – E não se preocupe, Thiago não vai ficar sabendo.
- Sim, ele pensou e achou melhor esperar um tempo antes de pedir a guarda, até que Lizie e Alex não dependessem tanto da mãe. Sabe que jamais conseguirá a guarda se ainda estiverem na fase de amamentação.
- Foram vocês que o convenceram, não foi? – Perguntei. Eu conhecia Thiago e sabia que não era do feitio dele voltar atrás com o que disse. Não tão rápido pelo menos.
- Não o convencemos, na verdade. Ele já estava bem arrependido de tudo o que disse quando...
- Pare! – O interrompi. – Não quero saber nada sobre ele, lembra? Nem mesmo se está arrependido ou não. Quem tem que lidar com isso é ele, eu não tenho nada a ver com isso.
O meu maior medo ao falar de Thiago era acabar acreditando em tudo o que Tyler me dizia e acabar ficando com pena e cedendo às suas vontades, quando sabia que provavelmente só estava me contando mentiras. Não podia esquecer que, acima da nossa amizade recentemente descoberta, Tyler era amigo de Thiago.
Ele respeitou a minha vontade, e voltamos a ficar em silêncio. Lendo o documento, peguei uma caneta e assinei, reparando que a assinatura de Thiago já estava no papel.
Então recoloquei o documento no envelope e entreguei a Tyler. Ele pegou em silêncio.
- Está tudo acabado. – Falei, mais para mim do que para ele.
Não havia mais nada que me prendesse a ele, e quando o documento fosse entregue no respectivo órgão da Inglaterra, estaria livre.
Pensei que fosse me sentir aliviada por ter acabado com um casamento que começou errado de todas as formas possíveis. Mas tudo o que eu sentia era um imenso vazio que não sabia como preencher.
Antes daquele casamento, existia em mim o sonho de um dia casar por amor. E, durante um tempo ínfimo em que fui casada, pensei que pudesse realizar esse sonho de menina, mesmo que não tivesse escolhido meu próprio marido. E o tombo foi grande quando essa ilusão terminou e eu tive que ir embora. E novamente as esperanças ressurgiram quando descobri que estava grávida e ele veio atrás de mim, querendo uma vida ao meu lado e ao lado dos nossos filhos. Só para, mais uma vez, sofrer outra decepção. Talvez eu devesse me contentar em nunca conseguir realizar esse sonho plenamente. Era muito complicado estar casada.
Sentimentos contraditórios me dominavam. Queria poder ser livre daquele casamento que tinha virado quase uma doença. E, ao mesmo tempo, sentia uma perda inigualável ao entender que meu sonho havia finalmente chegado ao fim. E que o fim não era o “felizes para sempre” que sempre imaginei. Talvez tivesse chegado a hora de enterrar para sempre aquele sonho de menina que nunca conseguiria realizar.
Sem saber os rumos sombrios pelos quais a minha mente vagava, Tyler terminou de comer em silêncio e se levantou, dizendo:
- Preciso ir. Já estou atrasado para ir trabalhar, e ainda tenho que entregar isso para Thiago. – Ele me indicou o envelope. – Mas eu volto, como prometi. Provavelmente no fim de semana, já que eu trabalho durante o dia e você durante a noite. Até mais Elena.
Ele me abraçou e saiu o mais rápido possível, sem esperar que eu o acompanhasse até a porta. Mas eu não o culpava por ter fugido daquele jeito. Eu também fugiria se estivesse sendo afogada na depressão alheia.
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