Aquela noite na boate, quase no horário de ir embora, Jean entrou no escritório, dizendo:
- Elena, precisamos conversar.
Suspeitei que o assunto fosse sério pelo tom de voz que ele usou. Raramente falava de forma tão sóbria.
- O que foi? – Perguntei.
Ele se sentou na cadeira em frente à escrivaninha em que eu trabalhava, e falou:
- Eu percebi que você faz um trabalho muito competente administrando a boate, e que consegue resolver todos os problemas sozinha...
- Pelo amor de Deus, Jean. Por que eu sinto que você está me demitindo? – Falei. – É isso, não é? Você não precisa mais de mim, encontrou alguém melhor. Provavelmente alguém que não tenha dois filhos para cuidar sozinha, e nem tenha tantos problemas. Alguém que possa trabalhar com as bebidas para que você possa voltar a fazer o seu trabalho no escritório e...
- Elena...
- Meu Deus, por que logo agora? Eu não poderia ser demitida em um momento pior...
- Elena...
- Como vou fazer para pagar as minhas contas e sustentar meus filhos? Se não tinha pretensão nenhuma de conseguir fazer tudo isso estando empregada, imagine agora então, uma desempregada que...
- ELENA ! – Ele gritou. – Acalme-se. Não é nada disso. O seu emprego é garantido aqui na boate.
- E então? Por que me deu esse susto? – Perguntei, um pouco indignada.
- O que eu queria dizer é que eu gostaria que você cuidasse permanentemente da boate para mim. Já faz um tempo que andei pensando em abrir uma filial, mas nunca tive a oportunidade porque não poderia tomar conta de duas boates sozinho e não havia ninguém que eu confiasse para colocar no meu lugar. Mas agora há. Eu tenho você, querida. Eu confio cegamente em você e sei que você vai saber levar isso aqui melhor até do que eu. – Minha visão ficou embaçada por causa das lágrimas. – E eu sei que você tem que cuidar melhor dos seus filhos e que o seu salário atual não dá para nada. Mas eu estou disposto a fazer um acordo. Sabe, como administradora, você vai ter direito a um salário muito melhor, e além disso, também vai poder trabalhar de casa, não precisando vir até aqui todos os dias, seu trabalho pode ser realizado durante o dia. Eu imagino quão pouco você deve estar dormindo por causa das crianças. Suas olheiras são enormes e você mal consegue se manter em pé.
Eu estava muda, sem saber o que dizer. O silêncio preenchendo o aposento.
- E então? Topa? – Ele perguntou.
- Mas é claro que sim! – Exclamei. Feliz por ver que a minha sorte estava mudando de novo.
Uma vez tinha lido que nenhuma felicidade dura para sempre, assim como nenhuma tristeza é eterna. E eu sabia que era verdade. Embora parecesse durar uma eternidade, a tristeza um dia acaba, sendo substituída por novos motivos para sorrir.
Quando o fim de semana chegou, eu já estava um pouco mais animada, embora me sentisse mais só do que nunca. Tinha combinado com Jean que, enquanto ele não abrisse a filial eu não assumiria o cargo de administradora oficial, o que significava que estava indo trabalhar todos os dias. O que era bom. Não sei se aguentaria ficar em casa aquele tempo todo. Ainda era sufocante permanecer em casa. Eram nesses momentos que eu me sentia mais só.
Quando ia dormir, ficava rolando de um lado para o outro, sentindo a falta dele. Talvez um dia eu conseguisse abafar aquela opressão em meu peito, mas por enquanto, era difícil até respirar, imagine então dormir.
Por isso fiquei animada quando o fim de semana chegou, o que significava que Tyler apareceria como tinha prometido.
E não me decepcionou. Quando deu sete horas da manhã, acordei com o som da campainha tocando.
A noite anterior tinha sido uma daquelas noites mal dormidas por causa de Lizie e Alex, e fazia só uma hora desde que tinha conseguido colocá-los para dormir. Mas nem me importei com o meu cansaço, quando me lembrei que não estaria mais sozinha.
Pulei da cama com uma energia que nem de longe eu sentia, e corri escada abaixo, indo atender a porta, sem nem ao menos me importar por ainda estar descabelada, remelenta e de pijama.
Quando abri a porta, levei um susto quando encontrei não só Tyler, como Jonathan e James também, todos carregados de sacolas.
- Tyler! – Gritei, me jogando em seus braços cheios de sacolas.
Ele me abraçou de volta, e depois se afastou, dizendo:
- Ei! É o mesmo pijama do outro dia! Já não está na hora de colocar para lavar não?
Olhei para mim mesma e percebi que ele tinha razão. Senti meu rosto esquentar enquanto ele gargalhava.
Só então percebi a cara de desconcerto dos outros dois.
- Oi. – Falei, tímida, sem saber o que fazer, ou dizer a eles.
- Deixa a gente entrar, Elena. Isso aqui está pesado. – Tyler reclamou.
- O que é tudo isso? – Falei, abrindo passagem – Quer ajuda?
- Não precisa. Agora sobe e se troca. Isso aqui é comida para um fim de semana. – Fez uma pausa enquanto eu fechava a porta – E não tranque a porta! – Ele gritou – Nossas malas ainda estão no carro!
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