Eduardo chega ao sítio já com a tensão martelando em seu peito. Estaciona devagar, respira fundo e segue direto para o casarão principal, onde sabe que Ravi e Jonathan o esperam. A madrugada ainda dança em sua mente, os olhos de Darlene, o gosto dela, a entrega intensa… e o malldito cartão que ainda arde como brasa no bolso da calça.
Ele entra sem bater. Os dois já estão no escritório de Marta, trancados, como haviam combinado.
— Precisamos conversar agora — diz Eduardo, a voz firme, mas carregada de algo que Ravi percebe de imediato, a inquietação.
Jonathan levanta os olhos, alerta.
Ravi fecha a porta sem dizer nada. Jonathan apenas observa, os olhos atentos, o maxilar travado. Eduardo tira do bolso o cartão, coloca sobre a mesa com cuidado, como se o simples toque pudesse sujá-lo.
— Esse homem me abordou na boate. Disse que consegue qualquer bebê por encomenda. Não mediu palavras. Entrega perfis como se fossem mercadorias: loiro, negro, asiático… homem, mulher… tudo o que você quiser. E mais — ele lança um olhar carregado para os dois — ele disse que comigo tudo era mais fácil. Que com uma mulher bonita ao lado, ninguém suspeita de nada, facilita a adoção.
— Filha da putta… — murmura Jonathan, estreitando os olhos.
Ravi já pegou o cartão. — Vou mandar esse número agora mesmo para um contato. Quero grampo, rastreamento, tudo. Se esse cara tá metido em tráfico de bebês, vamos derrubar ele por inteiro. — Ele já digita frenético no celular. — Ninguém mexe com a gente impunemente.
— Tem mais. — Eduardo continua, a voz mais grave.
— Caio apareceu pouco depois. Cumprimentou a Darlene… normal, como se fosse coincidência. Mas logo depois tava trocando ideia com o mesmo cara. Rindo, conversando baixo… muito íntimos para o meu gosto.
Jonathan franze a testa.
— O Caio? Tá de sacanagem? O cara é milionário, vem de uma família idônea e ta se metendo com isso?
— Não tenho certeza de nada ainda. Mas tem algo errado ali. Ele pode estar envolvido ou sendo usado. Mas fiquei com um pé atrás.
Ravi já está debruçado sobre o notebook, traçando rotas, salvando locais suspeitos, cruzando informações. Jonathan, no entanto, mantém o olhar em Eduardo. Silencioso. Pensativo.
— Tá tudo aí? — pergunta, apontando para o cartão, depois para os olhos do amigo. — Porque tem mais coisa, né?
Eduardo tenta desviar o olhar. Jonathan se inclina.
— O que foi? — pressiona.
Eduardo passa a mão pelos cabelos, tenso, e solta o ar com força.
— Eu… eu fiz merda. — A voz sai mais baixa.
— Merda da grande. Eu me envolvi com a Darlene.
Jonathan fecha os olhos, como se absorvesse um soco.
— Tá dizendo que vocês transaram?
— Sim. — Ele confirma, a culpa quase visível.
— Eu sei, cara. O Miguel confia em mim. Seu Heitor disse que me considerava da família. E eu… eu não consegui manter o meu pau dentro das calças. Droga!
— E o pior — continua, a voz falhando — é que ela era virgem, Jonathan. Eu tirei a porrah da virgindade dela. Sem nem perceber.
Jonathan dá um passo à frente, chocado.
— Que tipo de idi0ta você é que não percebeu que ela era virgem?
Eduardo abaixa a cabeça, sem coragem de responder.
— E vocês se preveniram? — Jonathan pergunta com uma urgência cortante.
Eduardo engole seco, fica pálido, os olhos arregalam. O silêncio diz tudo.
— Não acredito… — Jonathan passa as mãos no rosto, começa a andar de um lado para o outro.
Ele para alguns metros adiante, encosta o carro e deixa a cabeça cair no volante.
— Merrda…
Pega o celular. Liga. Uma, duas, três vezes.
Nada.
A respiração pesa. O peito aperta. O silêncio da chamada não atendida faz mais barulho que qualquer grito.
Ele grava uma mensagem:
— “Darlene… sou eu. Preciso falar com você. Me escuta, por favor. Eu… eu não sei o que tá acontecendo aqui dentro, mas não dá para fingir que não foi especial. Me procura. Ou me espera. Porque… eu vou atrás de você. De verdade.”
Desliga.
Fica ali, parado, encarando a escuridão da estrada como se esperasse que, por algum milagre, ela surgisse caminhando na direção dele, com aquele baby doll curto e aquele olhar de quem abriu mão de tudo por uma noite. A mulher que ele não queria se envolver… mas agora parece impossível deixar pra trás.
Ele apoia os braços no volante, o olhar perdido.
E se ela estiver chateada? E se ele tiver estragado tudo?
Mas acima de tudo, uma certeza cresce:
Ele quer viver isso. Por inteiro. Sem fuga. Sem covardia.
Só resta saber se Darlene… quer o mesmo.
Completamente sem graça, ele volta para o sítio.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino