O sol mal rompe o céu quando a dor já consome os corações. Ravi chega com os olhos em brasa, parecendo ter atravessado um incêndio por dentro. Não dormiu, não comeu, e não fala. Seu silêncio é um grito abafado. Ele tenta se manter inteiro, mas está à beira do colapso.
Eduardo, cheio de culpa, mal encara Dona Maria, que com a sabedoria mansa dos anos, percebe. Enxuga as mãos no pano de prato e aponta a cadeira.
— Senta. Come. Não vai achar teu sobrinho de estômago vazio.
Eduardo hesita, mas obedece, sentando-se ao lado de Ravi. Jonathan já está à mesa, tentando comer, enquanto Lua, risonha, brinca. Dona Maria a pega no colo para que ele termine o café. O telefone toca. O hospital.
— Sim... Claro, agora de manhã... Vou sim. — Ele desliga e se levanta.
— Precisam de mim. Vou com Eduardo... e com Lua.
— Com a Lua? — questiona Ravi, surpreso.
— Algo me diz que Marta precisa ver a filha.
Logo estão prontos a caminho do hospital, Eduardo dirigindo concentrado, devagar, como se transportasse cristal e na verdade ele sente assim, sabe que Lua, é a vida e a âncora que Marta e Jonathan vão precisar.
O corredor da UTI tem aquele ar frio. Mas há algo mais no ar, uma expectativa trêmula, como se todos ali estivessem prendendo a respiração. Jonathan e Eduardo caminham lado a lado, mas o silêncio entre eles grita.
A médica plantonista os encontra na porta. Tem olhos cansados e postura de quem já anunciou muitas verdades duras na vida. Mesmo assim, fala com cuidado:
— Marta passou a noite estável. Os exames estão dentro do esperado, os sinais vitais reagindo bem. — Ela faz uma pausa, um peso caindo no olhar.
— Estamos prontos para tirá-la da UTI... mas está na hora de contar a verdade. Ela vai sentir muito.
Antes que eles respondam, a psicóloga se junta ao grupo. Jovem, voz acolhedora, o olhar atento de quem sabe onde a dor se esconde. Combinam os próximos passos em poucas palavras. Há urgência, mas também compaixão.
A equipe se prepara, dessa vez sem aventais, luvas, toucas, contato corpo a corpo, é o que ela vai precisar. Jonathan respira fundo antes de entrar. Ele não se sente forte o suficiente. Mas vai.
Marta está acordada. Os olhos vasculham o quarto, ansiosos. Quando vê Jonathan, seus ombros cedem e a expressão se parte. Ele vai até ela e a abraça com uma delicadeza desesperada, como quem segura algo que pode quebrar a qualquer segundo.
— Eu te amo, Marta. Tô aqui. — Sua voz falha.
— O que aconteceu, Jonathan? — sussurra ela.
— Você tá me abraçando como se eu tivesse morrido.
Ele fecha os olhos, a mandíbula tensa. Não consegue falar. É a psicóloga quem assume, a voz um fio firme e doloroso.
— Marta, precisamos conversar. É sobre o Jeff.
A expressão dela muda no mesmo instante. Os olhos arregalam. O corpo treme. Ela já sabe. O silêncio diz tudo antes da frase chegar.
— Não... não... diz que ele tá bem. — Ela tenta fugir da verdade. — Diz que ele tá com você, que só não pode vir...
A psicóloga se agacha ao lado da cama, devagar, como quem lida com vidro quebrado.
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