O desejo reprimido é como um incêndio subterrâneo. Queima em silêncio, invisível, até que algo o faça emergir e consumir tudo ao redor. Jonathan sente esse fogo dentro dele toda vez que olha para Marta. E tenta ignorar. Mas como ignorar algo que o persegue até nos sonhos?
A rotina na mansão se mantém, ambos fingindo que nada existe além do que foi estabelecido desde o começo. Ele toma seu café da manhã, hoje com bolo caseiro e pão feitos por Marta. O aroma delicioso preenche a cozinha, mas não tanto quanto a presença dela, que o observa discretamente enquanto ele come. Jonathan sente o olhar sobre ele e se força a não encará-la. Engole o café e, ao sair, avisa:
— Hoje não precisa fazer o jantar para mim. Vou sair, não tenho horário para voltar.
Ela apenas assente com um pequeno sorriso, escondendo qualquer vestígio de desapontamento. A verdade é que Marta já se acostumou a esperar por ele, a servi-lo, a manter o ritmo da casa de acordo com a presença dele. E quando ele não está... algo parece faltar.
Ela decide então tirar o dia para si. O que Marta não sabe é que Jonathan, mesmo longe, a monitora constantemente pelas câmeras instaladas na mansão. Não por desconfiança, mas porque ele precisa saber. Saber onde ela está, o que faz, se está segura... e, talvez, se sente a falta dele como ele sente a dela.
Enquanto Jonathan trabalha, Marta arruma a casa. Ao entrar no quarto dele, encontra uma camisa sobre a poltrona. Não pensa muito antes de levá-la ao nariz e aspirar o cheiro dele. Fechar os olhos e sentir a presença dele mesmo na ausência. Quando percebe o que está fazendo, solta a peça apressadamente, o coração disparado.
Ela decide cuidar de si. Hidrata os cabelos, esfolia o corpo, faz uma limpeza de pele, passa o melhor creme que tem. Não porque espera que alguém veja, mas porque se sente bem assim. E já que não vai precisar servi-lo no jantar, veste apenas um baby doll leve e confortável, senta-se para assistir TV e, sem perceber, pega no sono no sofá.
Enquanto isso, Jonathan termina seu dia exaustivo de trabalho. O telefone toca. É Ravi, seu amigo pessoal e CEO da Protection Security, além de chefe do departamento de segurança cibernética e TI do Grupo Schneider.
— Hoje é dia de tirar o pau da miséria, meu amigo. Vamos para a boate. Rui também vai estar lá.
Jonathan até cogita ir ao Encantuss, onde tudo é mais discreto e controlado, mas acaba cedendo à insistência de Ravi. Talvez sair seja exatamente o que precisa. Talvez afogar-se em whisky e mulheres faça esse fogo dentro dele apagar.
A música eletrônica pulsa no ambiente, reverberando pelo chão de mármore preto e iluminando rostos sedentos por adrenalina e prazer. As luzes estroboscópicas cortam o ar carregado de álcool, perfume caro e promessas vazias. Jonathan, Rui e Ravi encostam no bar, olhos atentos ao desfile de corpos femininos que preenchem a pista de dança.
— Hoje a noite promete, hein? — Rui solta, bebendo seu whisky com gelo, os olhos faiscando ao encontrar um grupo de mulheres que riem juntas, já levemente alteradas.
— Promete nada, ela já começou, irmão! — Ravi rebate, apontando discretamente para uma morena de pele dourada e vestido justo, que lança olhares provocantes em sua direção.
Logo, o trio está espalhado pelo salão, cada um com uma mulher diferente. Jonathan sente as mãos da loira deslizando por seu peito, lábios quentes nos seus, corpos colados ao ritmo da música. Ele beija a loira com intensidade, tentando se perder no momento, mas mesmo enquanto sua língua explora a boca dela, uma imagem insiste em surgir em sua mente: Marta. Ele estreita os olhos, tentando afastar a ideia. Não agora. Não ali.
— Vem comigo, gato — a loira sussurra, puxando Jonathan pela mão em direção a um canto mais reservado.
Ele olha para Ravi e Rui, que estão na mesma sintonia. Eles trocam sorrisos de cumplicidade. Naquela noite, não existiam regras. Não existia amanhã. Apenas desejo, bebidas e corpos prontos para se perderem sem culpa.
Jonathan não está no clima, dispensa a loira e bebe mais. Muito mais do que deveria. Sabe que está alto, mas longe de estar bêbado. Ele sempre tem controle, mas agora, pela primeira vez em muito tempo, sente-se perdido.
Algo dentro dele grita para ir embora. Sem que os amigos percebam, chama Eduardo para levá-lo de volta. O carro desliza pelas ruas silenciosas enquanto Jonathan, com a cabeça pesada, sente seu corpo responder a algo que ele não quer admitir. O que vai encontrar ao chegar na mansão? Marta ainda estará acordada? O que ele fará se vê-la?
O desejo lateja. A tentação é insuportável. Mas ele já foi longe demais para recuar agora.
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