Capítulo 9
O tempo tem um jeito estranho de transformar pequenos detalhes em algo maior do que deveriam ser. E talvez seja isso que está acontecendo agora. Marta não percebe de imediato, mas a rotina se moldou de forma diferente nos últimos dias. A amizade com Eduardo floresce em meio aos gestos simples, trocas sutis que falam mais do que palavras. Se Jonathan percebeu? Provavelmente não. Mas e quando ele perceber?
Enquanto a água esquenta para o café de Jonathan, Marta observa Eduardo com o canto dos olhos. Ele entra na cozinha com um sorriso despreocupado.
Ele se senta, observando enquanto ela prepara bolos e a sua tradicional tapioca, que o motorista também aprendeu a apreciar. O aroma preenche a cozinha, criando um ambiente acolhedor.
— Sabe, você cozinha bem demais. O patrão teve sorte de encontrar você. — Eduardo comenta, pegando um pedaço de bolo antes mesmo de ela servir.
— Sorte nada, ele é exigente — Marta brinca, se sentando em frente a ele. — Mas e você? Hoje só trabalha até meio-dia, não é?
— Sim, folga rara, hein?
Ele ri.
— Vou dar uma revisada no carro, logo volto. — ele fala dando uma piscadela e sai.
Enquanto isso, Marta se move com precisão, arrumando tudo de forma impecável. O bolo feito com dedicação, os pães e os frios organizados, o café exatamente do jeito que Jonathan gosta. Mas ele não aparece. Ela toma o café da manhã. Seu coração aperta no peito, mas ela se obriga a ignorar essa sensação incômoda. Ele não se importa com a sua presença, e ela não deveria se importar com a dele.
O serviço da casa prossegue. Marta abre as janelas, troca lençóis, sacode cortinas. O ar fresco invade os ambientes, levando um pouco da atmosfera carregada da mansão. Mas ao tocar a porta do último quarto, um arrepio percorre a sua espinha. Um peso estranho sobre os seus ombros. A madeira é fria sob os seus dedos, e sua respiração vacila por um instante. Algo naquele lugar a impede de seguir em frente. E, no entanto, ela sabe que precisa organizar a casa, então empurra a porta devagar, sentindo que está prestes a atravessar um limite que jamais deveria cruzar.
O quarto é um santuário. A essência de uma mulher preenche cada canto, cada detalhe meticulosamente preservado no tempo. Perfumes caros ainda exalam suas fragrâncias suaves. Vestidos impecáveis estão pendurados no closet, esperando uma dona que não volta. E então, no centro da parede, um quadro captura a sua atenção. Jonathan. Mas ele não está sozinho. Ao seu lado, uma mulher que lembra... Ela mesma. Felizes, apaixonados, imaculadamente vestidos para um casamento que aconteceu em algum tempo perdido. Um casamento que ela não sabia existir.
Marta sente o coração disparar. Jonathan é casado. Mas onde está a sua esposa?
Os olhos dela vagam pelo quarto, absorvendo cada peça daquele enigma. Suas mãos deslizam pelos tecidos caros, os sapatos alinhados, os pequenos tesouros intocados. E então, ela vê. Um porta-joias delicado, esculpido com riqueza de detalhes. Suas mãos tremem ao pegá-lo. Ela dá corda, e uma melodia suave invade o silêncio. Dois noivinhos giram em uma dancinha lenta e encantadora. Marta fecha os olhos por um instante, perdida em uma lembrança distante, de infância, de tempos mais simples.
Um trovão explode no ar.
— O QUE DIABOS VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO AQUI?!
A voz de Jonathan é um golpe. Marta se vira assustada, o corpo paralisado de pavor. Ele está ali, no batente da porta, com os olhos faiscando de ódio. As mãos dela tremem, e o porta-joias escorrega por seus dedos. O impacto contra o chão é como uma facada. A madeira estala, o vidro estilhaça. Os noivinhos quebram em pedaços minúsculos.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: O CEO e o filho perdido: A segunda chance do destino