O Padrasto 1 romance Capítulo 10

Eu só queria ter o poder de voltar no tempo e

dizer que sinto muito por não ter curtido

mais a sua presença ao meu lado.

Julha Thompson

Eu estava me sentindo ridícula por ter passado boa parte da viagem dormindo e sonhando que estava sendo possuída pelo homem que está ao meu lado. Eu me sinto mais ridícula ainda por imaginar até que ponto esse cretino se divertiu com as caras e bocas que eu devo ter feito.

Idiota.

Estamos no final do verão, mas o calor ainda é insuportável. No caminho até a casa, paramos em uma lanchonete e pegamos um lanche para a viagem, aproveitei para esticar o meu corpo por alguns minutos antes de pegar no sono, ainda assim, minhas pernas estavam bobas por conta das longas horas de viagem sentada no banco do carro.

Desço do carro e me espreguiço, esticando os braços e as pernas. Não consigo deixar de fechar os olhos por alguns minutos ao sentir a leve brisa quente do mar beijar o meu rosto como uma saudação. Seja bem-vinda!

— Assuma, Julha, que você estava sonhando comigo.

Saio do meu devaneio ao ouvir sua voz suave perto do lóbulo da minha orelha. As palavras parecem sair macias, aveludadas da sua boca, e elas soam como música para os meus ouvidos.

— Christopher, não seja ridículo.

Ele me surpreende ao passar os fortes braços em volta da minha cintura e me puxar para mais perto de si antes de beijar o meu ombro e pescoço, fazendo o meu corpo arrepiar em resposta.

— Me conte qual foi o sonho, tenho as minhas desconfianças. Você gemia como uma gata no cio.

— Você está maluco? — Dou um tapa em sua mão e ele dá um sorriso sacana. — Quer que alguém nos veja? — Eu me esforço para me afastar do seu toque, mas ele me puxa de volta e ficamos de frente para outro, corpos colados. São só alguns minutos, ainda assim, aproveito para me deliciar com cada pedaço másculo, musculoso e nada exagerado do seu corpo.

— Eu não me importo. Não vejo a hora de acabar com esse tormento de termos que nos esconder. — Ele beija a minha cabeça. — Eu sou louco por você, minha pequena — diz, sussurrando, olha em meus olhos e me dá um selinho.

Como sou uma boba apaixonada, dou um sorriso satisfeito ao ouvir essas palavras mesmo sabendo que isso nunca acontecerá. Nós nos afastamos e encaminhamos para a parte traseira do carro. Eu observo os movimentos precisos dele ao abrir o porta-malas do carro e pegar as nossas bagagens, entregando a minha para mim. Sigo para a casa e ao chegar à porta, consigo sentir o cheiro gostoso de casa limpa.

A imagem de quando eu era pequena e entrava na casa no pescoço de papai aparece em minha mente, e não consigo conter as lágrimas saudosas que fazem os meus olhos arderem. Faz um ano que ele se foi e, desde então, nós — eu e mamãe — evitamos vir até aqui. Meu peito aperta ao recordar os momentos maravilhosos em que vivi aqui.

— Está tudo bem? — Christopher se aproxima e pergunta com desconfiança enquanto pega a mala da minha mão.

— Sim está. — Rapidamente, seco uma lágrima que desliza pelo meu rosto. Não quero que Christopher veja e me encha de perguntas, fazendo com que eu me recorde de momentos que foram muito especiais para mim, mas que dói de tanta saudade.

— Então vamos entrar.

Assim que entramos na casa e seguimos para a sala de estar, Christopher solta as malas, deixando-a cair ao lado do seu corpo. Como um caçador que encontra a sua presa, ele caminha lentamente em minha direção. Meu corpo estremece, minha pulsação acelera quando a sensação de perigo percorre o meu corpo, causando arrepios e ao mesmo tempo me excitando. Ele está próximo, cada vez mais próximo, mas para bruscamente quando percebe que temos companhia.

— Bom tarde, sr. Cloney.

Olho por cima do meu ombro e vejo dona Ivete, a caseira, vestida com um longo vestido de mangas curtas branco com pequenas estampas de margaridas, e um avental azul com estampa de marinheiro amarrado em sua cintura.

— Boa tarde, dona Ivete. Sr. Joshua. — Ao se aproximar, Christopher cumprimenta com um aperto de mão o homem que acaba de se juntar à esposa, que está nos olhando com desconfiança.

— Boa tarde — digo, sem ânimo.

— Boa tarde, menina Julha. — Ele dá um sorriso amigável. — Como foram de viagem? O outono está se aproximando, mas o calor do verão ainda castiga — comenta o homem enquanto desliza o dorso da mão em sua testa molhada de suor.

— Foi boa. Realmente está muito calor, vai dar para aproveitar o fim de semana — responde Christopher, com o seu costumeiro lindo sorriso.

— A praia está uma loucura, acho que todos decidiram fazer o mesmo — diz a mulher brincalhona. — Ah, antes que eu me esqueça, dona Katherine ligou e disse que houve um contratempo em seu trabalho, mas que tentara resolver tudo para que consiga chegar aqui amanhã.

— E por que ela não nos ligou? — questiona Christopher, então volto a minha atenção para ele.

— Ela não quis ligar para o senhor, porque imaginou que estivesse na direção do carro. — Ela dá de ombros enquanto encara Christopher, que está com a sua atenção voltada para mim.

— Okay, Ivete, entendi, mas por que ela não tentou o meu celular?

— Senhorita, ela me disse que estava fora de área.

Enquanto ouço a mulher explicar, eu pego o celular no bolso do short jeans e constato que o meu celular está descarregado e eu não havia notado.

— Realmente, a bateria do meu celular está descarregada. — Levanto o objeto na direção de Christopher.

— Coloque-o para carregar — ele diz, sério e fingindo irritação.

Eu simplesmente assinto e procuro o carregador em minha mochila.

— Mamãe e sua eterna mania ridícula de tentar aproximar a família. E quando ela comparece é sempre a última a chegar. — Deixo o celular carregando sobre a mesinha centro e, frustrada, jogo meu corpo sobre o sofá.

— Bom, vamos para o quarto arrumar as nossas coisas, tomar um banho e depois descemos para comer alguma coisa — Christopher diz, pegando as nossas malas.

— Eu vou preparar um lanche pra vocês.

Aceno com a cabeça em agradecimento e sigo para o meu quarto. Exausta pela longa viagem, eu me deito na cama king size, onde passei muitas noites de sono nas incontáveis vezes que estive aqui nesta casa, e fecho os olhos, me perdendo em recordações de momentos divertidos, felizes e inesquecíveis que tive na cidade. A imagem de papai entrando no meu quarto para me acompanhar no meu primeiro luau, todo animadinho, como um adolescente indo para a sua primeira festa com amigos. Ele estava lindo com a sua roupa estilo havaiano, muito mais animado que qualquer outra pessoa. Eu só queria ter o poder de voltar no tempo e dizer que sinto muito por não ter curtido mais a sua presença ao meu lado.

O desejo de ir até a praia, passar no quiosque de Dylan e Ária e, por fim, tomar um banho de mar, como nos velhos tempos, me tira dos meus devaneios. Em um sobressalto, eu fico em pé e vou até a minha mala, pegando o meu biquíni em 3D que mamãe trouxe de uma de suas viagens ao Brasil. É um tanto chamativo, mas vou vesti-lo mesmo assim. Vou ao banheiro e tomo um banho rápido antes de vestir o biquíni, que caiu perfeitamente em mim, e um vestido de praia branco feito em crochê. Com o meu estômago reclamando de fome, vou para cozinha atrás de um lanche. Ao adentrar a cozinha, eu vejo que a mesa está posta, mas nem sinal de Christopher. Meu demônio interior me alerta que ele ainda deve estar em seu quarto. Não vou negar que a minha vontade é invadir o quarto e fazer amor com ele, mas não posso.

Julha, Julha, onde você anda com a cabeça? Contenha-se para não ter problemas. Penso enquanto devoro dois lanches e um copo de refrigerante cola. Após forrar o meu estômago, eu lavo a louça que sujei e vou para a sala pegar o celular que havia esquecido. Ouço um barulho atrás de mim e sinto alguém observando, então me viro e vejo Christopher pegar o porta-retratos que tem uma foto dele e de mamãe e o virar com a foto para baixo antes de se afastar. Eu o sigo e, com os braços cruzados e encostada no batente da porta, eu o vejo devorar um lanche natural.

— Falou com a mamãe? — pergunto e ele se limita a responder com um aceno de cabeça. — Ela já está a caminho? — Mais uma vez, ele acena, só que faz um sinal negativo dessa vez.

— Qual é o seu problema? — digo, ríspida. Ele arqueia as sobrancelhas e me fita com uma expressão assustada. — Vai me dizer qual é o seu problema? Às vezes me trata com carinho, às vezes me ignora como se fosse um nada.

— Não estou entendendo. Você exige para nos afastarmos e agora age dessa forma.

— Quer saber? Cansei de ser o seu brinquedo. O.k.? Cansei — digo pausadamente. Sem lhe dar chance de responder, eu saio e sigo para a praia.

— Julha, volte já aqui.

— Vai para o inferno! — grito.

Estou confusa e caminhar com os pés na água do mar recebendo o carinho da brisa em meu rosto é simplesmente libertador. Ando por um bom tempo antes de decidir ir até o quiosque de Dylan e Ária um casal que é dono do quiosque mais badalado da cidade. Lembro-me de acompanhar mamãe e papai até Adil em todas as vezes que saíamos de férias e vínhamos para Miami. Foram momentos impagáveis, e mesmo sendo triste por não ter papai por perto, tenho certeza de que será agradável revê-los depois de tanto tempo. Eu preciso desse momento.

— Ária, Dylan — grito ao me aproximar.

Nada mudou, tudo está como me recordo da última vez em que estive aqui. As mesas com desenhos de fundo do mar no tampo, as cadeiras brancas, a cor os bancos de madeira, que antes eram branca, agora é azul cor do céu. Eu me aproximo do balcão e sento-me no banco enquanto observo a movimentação no quiosque.

— Julinha, você por aqui. Que bom te ver. — Ela se aproxima e me abraça forte. — Dylan, venha ver só quem está aqui — grita, para o homem que aparece em seguida. — Eu senti saudades.

— Eu também. — Retribuo o abraço.

— Julinha, minha querida — diz Dylan ao se aproximar.

— Está tranquilo hoje. — digo, correndo os olhos pela praia.

— Está mesmo. E aí, o que manda? — pergunta Dylan.

— Eu quero uma cerveja bem gelada — digo e me viro de frente para o mar.

Ária, conhecendo bem o meu gosto musical, vai para trás do balcão e coloca Bruno Mars para tocar.

— Julha, você sabe que não gostamos de vender bebidas alcoólicas para menores — diz Ária, que sempre foi contra adolescentes ingerirem bebidas alcoólicas.

— Ah, qual é? Se não me venderem sabe que vou beber em qualquer outro lugar. — Dou de ombros.

— Tudo bem. Os seus pais não estão aqui, mas Dylan e eu vamos controlá-la. — diz de maneira autoritária.

— Que seja.

Após dar um generoso gole em minha bebida, eu me viro de costas para o quiosque enquanto fico perdida em pensamentos apreciando o lindo mar de água verde e cristalina. Minutos depois, eu desço do banco, vou até a areia e me sento, pensando em como a minha vida vem mudando de um ano pra cá. Reflito sobre tudo o que está acontecendo e chego à conclusão de que não posso continuar com isso, envolve muitas pessoas que eu amo — minha mãe, Felipe e Christopher. Não é justo com ninguém. Estou decidida. Em alguns meses acontecerá a minha formatura e eu completarei os meus dezoito anos, então vou estudar em Los Angeles e terei uma nova vida, um novo amor, se isso for possível.

Tomo mais duas cervejas e logo sinto os pingos da chuva caírem em meus braços que descansam sobre os meus joelhos. Rapidamente, eu me levanto e corro até o quiosque para me despedir de Dylan e Ária, mantendo a promessa de voltar em breve. Volto para casa sentindo a chuva aumentar e ouvindo o mar agitado. Em poucos minutos, chego e depois de tirar a areia dos pés, eu mergulho na piscina na tentativa de me libertar dos meus pensamentos.

— O que você está fazendo embaixo dessa chuva? É perigoso! Saia daí, Julha. — Ouço a voz do homem dono dos meus pensamento gritar, mas simplesmente o ignoro. — Julha, por favor, saia — grita, visivelmente irritado.

— Me obrigue — eu o provoco.

Ele me pega de surpresa ao atirar o guarda-chuva longe e pular com suas roupas dentro da piscina. Eu me sobressalto e nado rapidamente para a borda piscina, saindo da água antes que ele me alcance.

— Se você não parar eu vou te pegar — ele me ameaça, fazendo com que eu sinta um medo gostoso.

Solto uma gargalhada e, debaixo de chuva, saio correndo em direção ao campo de futebol que tem no fundo da casa, mas sou impedida quando Christopher me alcança e me segura pela cintura antes de cairmos na grama com ele por cima de mim.

— Okay, okay. Você venceu — digo, enquanto Christopher me vira para ficar de frente para ele.

Com seu corpo pressionando o meu, ele olha no meus olhos com intensidade, sua respiração se misturando à minha, que está mais do que ofegante ao sentir o seu membro enrijecido em contato com o meu clitóris pulsante. Entreabro os lábios ao ansiar por seu beijo ao ver a sua língua deslizar sensualmente por seus lábios sedentos por matar a sede. Ao sentir seus lábios tocando levemente os meus, eu fecho os olhos.

— Christopher? Amor, cadê você? — a voz inconfundível da minha mãe ecoa pela casa. — Christopher? Julha? — ela grita mais uma vez.

— Sai — entro em pânico, mas ele não se move —, sai, Christopher. Mamãe está nos procurando. Vá ver o que ela quer — digo enquanto o empurro para longe, mas ele permanece imóvel. — Sai, Christopher. Rápido — digo, com a voz trêmula, empurrando-o com toda a minha força para longe, obrigando-o assim a se afastar.

Ele se coloca de pé e fica parado me observando por alguns segundos com as mãos na cintura, enquanto continuo ali deitada, com as gotas da chuva caindo e se misturando às minhas lágrimas. Minutos depois, ele se afasta e continuo ali por não sei quanto tempo, então sinto a brisa lambendo o meu corpo após a chuva ter passado. Exausta, eu me levanto e sigo para o meu quarto.

Depois de um banho quente, eu me jogo na cama com os pensamentos de como será a minha vida em Vegas e sinto uma pontada de esperança se formando dentro de mim. Com o meu estômago me alertando que faz um bom tempo que não como nada, eu faço uma rápida trança no meu cabelo e saio em busca de algo para comer. Ao passar em frente à porta do quarto que um dia foi dos meus pais, mas que agora pertence a um novo casal, eu tapo os meus ouvidos para não ouvir nada que venha de lá de dentro. A minha vontade é me acovardar e voltar para o meu quarto, me isolar do mundo, mas sigo em frente. Eu terei que aprender a lidar com isso até poder ir embora, e sei que não será nada fácil.

Não consigo controlar as lágrimas que deslizam pela minha face, é inevitável não sentir tamanha dor, mas tenho que viver a minha vida. Preciso simplesmente desejar felicidades ao casal e fingir que nada disso me afeta, mesmo que a minha vontade seja quebrar tudo o que vejo pela frente. Não posso ficar presa a Christopher, ficar presa a um sentimento que não vai me levar a lugar algum a não ser ao sofrimento. Afinal, não é isso que as pessoas maduras fazem? Sim, seguir em frente é o que deve ser feito.

Chegando ao último degrau, eu deslizo o meu corpo pela parede e me sento no piso duro e frio, então choro ao sentir o gosto amargo do ciúme descendo pela minha garganta. Tento colocar para fora toda a minha dor de cotovelo, mas sou interrompida quando ouço passos vindo em minha direção. Rapidamente, eu levo as mãos ao meu rosto para secar as lágrimas e sigo para a cozinha. Entrando no cômodo, eu vejo uma lasanha de berinjela em cima da mesa ainda posta para o jantar que fiz questão de não participar. Sirvo-me de um pedaço generoso e um copo de refrigerante bem gelado antes de me sentar no banco do balcão. Enquanto eu a saboreio, faço uma lista mentalmente do que devo fazer e que caminho tomar.

1. Terminar o Ensino Médio / Esquecer Christopher, ou ao menos tentar.

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