O Padrasto 1 romance Capítulo 11

Você é para mim um grande exemplo de

honestidade, fé e muito amor.

Julha Thompson

— Alô, vovó? — Minha voz soa animada ao notar que ela atendeu rapidamente. Minha pulsação bate acelerada, estou ansiosa, não sei como serei recebida após tanto tempo longe. Eu entenderei completamente se ela não me receber de braços abertos depois de tanto tempo sem ter notícias minhas.

— Alô, Julha? — Ouço sua respiração arfante. — É você, minha querida? — Sua voz soa ansiosa e ao mesmo tempo embargada, carregada de emoção.

— Sim, sou eu, vó. A Julha. — Engulo em seco o nó que se formou em minha garganta.

Só agora, ouvindo a sua voz, eu me dou conta do quanto senti a falta dela, do seu abraço, do seu cheiro, de tudo o que vivemos juntas. Eu sempre fui apegada à dona Iolanda, que sempre foi um grande exemplo de experiência de vida, de honestidade, de paciência, de fé, de firmeza e, principalmente, de muito amor. De amor por nós, por sua família. Sinto também culpa por ter permitido que mamãe, intencionalmente ou não, me afastasse do convívio com ela. Não sei exatamente há quanto tempo não nos vemos, mas sei que é o suficiente para que a culpa me golpeie com força.

— Oh, Deus, Julha, minha querida neta. Que saudades de você, meu bem. — Sua voz agora parece melancólica.

— Eu também estou com muitas saudades, vó. — Fungo.

— Mas não é o que parece. Não é mesmo, Julha. Você sumiu, faz meses que não me dá notícias. Ai de mim se não fossem os meus contatos — ela se queixa e eu apenas a ouço, porque ela tem razão em tudo o que diz. — Mas como você tem passado?

Penso em perguntar se os contatos dela não têm dado todas as informações que ela precisa, mas não estou em condições de exigir nada e muito menos fazer piadas. Eu conheço bem a minha avó, ela é uma das pessoas mais doces que conheço na vida, só que quando é tirada do sério se torna a mais áspera.

— Eu estou bem, vó — minto, ela não precisa saber de tudo.

— Que bom, querida. Fico feliz que a bruxa com quem divide o teto e que você chama de mãe não tenha feito mal nenhum a você. — Sua voz carrega um leve tom sarcástico.

— Vó — eu a repreendo.

— Está bem, querida, esqueça o que eu disse sobre a bruxa da sua mãe. Eu quero saber de você. Eu sinto tanto a sua falta, meu bem, você não imagina o quanto.

— Eu também, vó — digo com sinceridade. — Eu também sinto muito a sua falta.

— Ah, querida, você não sabe a alegria que sinto em saber disso, em ouvir a sua voz. — Consigo imaginar um sorriso satisfeito em seus lábios. — Mas me conte, como andam as coisas na escola? Já viu para qual faculdade você vai? O que pretende cursar? Vai seguir os passos do seu pai? Ah, ele ficaria tão orgulhoso — fala desenfreadamente.

— Calma, vó, uma coisa de cada vez. Ainda não sei o que vou fazer, e em relação à faculdade, a senhora é quem vai me dizer qual é a melhor de Vegas.

Ela fica em silêncio por alguns minutos, imagino que esteja tentando assimilar o que acabou de ouvir.

— Julha, não me diga que... — Sua voz volta a soar embargada.

— Sim, vó, estou pensando em passar uma temporada em Vegas, com a senhora. Claro, se não for incomodar. — Sorrio ao ouvi-la bufar.

— Joana. — Ela afasta o aparelho telefônico dos seus lábios e grita por Joana, a mulher que desde que eu me entendo por gente é quem cuida da casa e em quem vovó deposita total confiança. — Querida, isso é maravilhoso. Quando você virá? Vou pedir a Joana que arrume o seu quarto, Julha, ele está do mesmo jeitinho, minha filha. Nada mudou. — Joanaaaa. Mulher surda — ela grita, eufórica.

— Vó, fique calma. Eu ainda tenho que terminar o ano letivo — digo, mas ela parece não me ouvir, conversa animadamente com alguém ao seu lado.

— Deus é maravilhoso, ele ouviu as minhas orações. Primeiro trouxe Lucca e agora você. Isso só me dá a certeza de que estou no caminho certo. Não vou perder a esperança de que a sua prima também se junte a nós um dia. — Suas palavras me emocionam, mas não perco a oportunidade de provocá-la.

— Está querendo montar uma república de netos, dona Iolanda? — Rio, divertida.

— E por que não? Estou pensando seriamente em criar uma ONG com direito dos avós. — Gargalhamos juntas. Senti saudade desse lado divertido dela. — E a bruxa da sua mãe, o que acha disso?

— Vó — eu a repreendo novamente.

— Me desculpe, eu não consigo me conter. Agora responda a minha pergunta, Julha. O que Katherine achou disso tudo?

Ouço o barulho de um carro se aproximando, então meu coração bate acelerado. Fico em silêncio, apreensiva que seja mamãe e Christopher voltando de onde quer que tenham ido. Não quero ter problemas com ela agora, sei que será inevitável em algum momento falarmos sobre o assunto, mas quero que tudo aconteça com uma conversa amigável, sem brigas. Respiro fundo, aliviada ao perceber que o barulho do carro começa a se afastar.

— Julha, você está aí?

— Eu estou, vó, e não precisa se preocupar com a mamãe, eu me acerto com ela.

— Olhe, querida, eu conheço bem a sua mãe. Caso ela tente alguma coisa contra você, não deixe de me pedir ajuda. Espero que você converse logo com ela e que tudo se resolva dá melhor maneira possível.

— Está bem, vó, não se preocupe.

Conversamos por mais alguns minutos. Ela me conta que a ida de Lucca à sua casa também está relacionada ao estudo dele e que ele já está a ajudando com as coisas do escritório. Sei que é exatamente o mesmo que ela planeja para mim. Encerro a ligação com a promessa de não demorar para voltar a entrar em contato.

Eu me deito no sofá e fico zapeando pelos canais da televisão enquanto penso na conversa que tive com a vovó. Depois de um tempo, ouço um veículo se aproximando e minutos depois o som de saltos batendo contra o piso. Olho de soslaio em direção à porta da sala e vejo mamãe, em toda sua elegância, entrar. Como sempre, está vestida exageradamente formal. Estamos na praia. Um vestido de alça de verão e um par de sandália a deixaria muito elegante também. Katherine é uma mulher desprovida de simplicidade, diferente de papai, que era um homem simples, mas não menos elegante do que os homens vestidos em seus mais caros ternos.

E você está surpresa com isso? Meu demônio interior alfineta. Katherine é uma mulher elegante, e nunca foi simples, não será agora que irá mudar.

— Eu espero que você possa resolver tudo com o cliente sem precisar me importunar, Jane — diz de maneira ríspida.

Ela para no meio da sala, seu olhar está sobre mim, mas é claro que os seus pensamentos estão distantes. Minha atenção é roubada quando ouço passos se aproximando. O meu corpo estremece em antecipação, porque sei exatamente de quem se trata. Essas passadas firmes e imponentes só podem ser de Christopher Cloney.

É difícil controlar a ansiedade ao vê-lo entrar no cômodo. Olho em direção à porta, de onde surge a imagem do homem que rouba os meus pensamentos e tem tudo de mim. Está lindo, mas é decepcionante vê-lo vestido como a minha mãe — um riquinho metido. Eu não acredito que ele aceitou se vestir como um esnobe só para acompanhá-la em um jantar.

Qual é, Julha? Dê um desconto ao homem. Katherine é bem persuasiva quando quer. Recorda-me o meu demônio interior.

Nós nos encaramos por alguns minutos até que ouço a voz da mamãe reverberando pela sala, atraindo a nossa atenção para ela.

— Estou em uma viagem em família. — Ela me encara com um sorriso forçado e, em seguida, ao sentir a presença de Christopher, ela se vira para ele e estende a mão para que a pegue.

Ele me olha com um semblante triste como que um pedido de desculpas silencioso e aceita o toque dela. Doeu, mas tenho que aprender a lidar com isso, porém, não consigo deixar de sentir. Eu desvio o olhar e volto a minha atenção para a televisão, mas mesmo assim uma lágrima teimosa insiste em cair.

— Ótimo, Jane. Eu desejo que tenha um bom fim de semana. — Ela encerra a ligação com um tom irônico sem dar a chance da pessoa do outro lado se despedir.

Eu sei que mamãe não é muito bem quista por alguns dos seus funcionários, eles só a aturam por terem família para sustentar e despesas para pagar, o que me deixa bastante entristecida. Saber que a sua mãe é motivo de ira de algumas pessoas é um tanto estranho.

— Muito bem, a mocinha já está em casa — diz, enquanto guarda o celular em sua bolsa. Ela volta a sua atenção para o marido e beija suavemente os lábios dele.

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