O Padrasto 1 romance Capítulo 13

Permita-se sentir o que seu coração silenciosamente diz.

Christopher Cloney

Faz uma semana que voltamos da casa da praia. Mesmo que nada tenha saído como planejei, essa “viagem em família” foi como uma despedida para mim. Eu sei que a intenção dela era que eu visse em Christopher alguém além do seu marido, um verdadeiro “padrasto”, mas o que ela não sabe é que Christopher nunca poderá ocupar essa posição. Ainda mantenho em segredo a minha ida para Vegas, sei que a sua reação não será das melhores e estou adiando o estresse que a nossa conversa causará.

As minhas provas do semestre já chegaram ao fim, e mesmo com toda a reviravolta que tive em minha vida, consegui superar com louvor essa etapa da minha vida. Eu só tenho a agradecer aos meus amigos Ane, Bruno e Felipe pelo apoio que me deram e pelas horas de estudos que tiveram ao meu lado. Eu sempre fui uma ótima aluna, mas depois da partida do meu pai, o meu rendimento escolar não estava sendo o mesmo, houve um bloqueio em meu cérebro, o que me acarretou certa dificuldade em meu aprendizado. Mas é como eu sempre digo, quem tem verdadeiros amigos nunca estará sozinho. E foi com a ajuda da dona Lídia, a minha psicóloga, e os meus amigos, que consegui aceitar as mudanças que houve em minha vida. Não quer dizer que eu vá esquecer, mas aceitar de que não terei mais o meu pai ao meu lado. A minha única opção é seguir em frente, como Katherine já havia feito.

Eu vivi por alguns meses dentro de um inferno até descobrir que estava em minhas mãos a chave para abrir a porta e dar fim ao sofrimento. Hoje, mais uma vez, eu me encontro a caminho do mesmo inferno por motivos diferentes, mas, ainda assim, caminho em passos lentos em sua direção, e mais uma vez só depende de mim para que eu não volte para lá.

Estou aguardando pelo dia da formatura, será memorável. Após esse dia, eu seguirei o meu caminho e colocarei todos os meus planos em prática.

— Bom dia. — Sou despertada do meu devaneio por sua voz levemente rouca, inconfundível. Christopher Cloney entra no meu quarto abruptamente.

— Qual é o seu problema? — grito, levando as mãos ao coração. — Você é louco? Quem permitiu a sua entrada no meu quarto? Você não foi convidado — cuspo as palavras. — Sua esposa pode não gostar — digo, nervosa e assustada, enquanto ele parece não se importar com nada disso. Ele continua caminhando lentamente em minha direção.

— Não se preocupe, pequena — ele diz, seus lábios se curvando em um sorriso sarcástico. Christopher se aproxima da minha cama e joga o seu corpo sobre os finos lençóis em seda, não dando a mínima para as minhas reclamações, enquanto eu pulo para fora dela.

— O que você disse? — pergunto, incrédula com a tranquilidade com que fala.

— Foi exatamente isso que ouviu. — Ele dá um sorriso malicioso.

— Como eu não vou me preocupar? A minha mãe, caso você tenha se esquecido que ela é sua esposa, pode entrar aqui a qualquer momento e sabe Deus o que pode pensar. — Caminho de um lado para outro no cômodo, que se tornou pequeno demais para nós dois.

— Eu já disse que é pra você confiar em mim, pimentinha.

— Como você pode ter tanta certeza de que ela não vai entrar por esta porta a qualquer momento? — digo, apontando para a porta.

— Venha. Deite-se aqui. — Ele apoia a cabeça em uma mão e bate a outra ao seu lado.

— Eu não vou me deitar aí, e pare de insistir.

— Venha, pequena, eu estou com saudades de você.

— Você não compreendeu o que eu disse, não é mesmo? — Antes que ele diga qualquer coisa, eu continuo. — Então eu vou te dizer mais uma vez e espero que agora você realmente ouça e entenda a minha decisão. Não vai rolar mais nada entre nós, você continuará casado com a minha mãe e eu vou seguir meu caminho. Agora saia do meu quarto, por favor, eu quero evitar problemas com a Katherine — digo, fingindo uma segurança que não sinto, mas que ele não precisa saber.

— Você não precisa fingir pra mim, meu doce. — Ele desliza lentamente a línguas em seus lábios, umedecendo-os. — A sua mãe precisou fazer uma viagem com urgência para resolver um problema de um cliente.

— Eu não sei por que ainda me surpreendo com o fato de ser sempre a última saber da vida dela. — Passo as mãos pelo meu cabelo para alinhá-lo.

— Talvez porque você não se aproxima dela sem fazer um crítica? — Suas palavras me pegam de surpresa, então eu o encaro com o cenho franzido. — Você já parou para pensar que a culpa não é somente dela?

Suas palavras me atingem de uma forma dolorosa que nunca imaginei que aconteceria. Por que ele está defendendo-a agora?

— Você não entende. — Desvio o olhar do dele e volto a caminhar pelo quarto ao me sentir incomodada com o que Christopher acabou de dizer.

— Então me explique, Julha. O que eu não entendo? Que você se apaixonou pelo marido da sua mãe, e é por esse motivo que a odeia tanto? Odeia porque gostaria de estar no lugar dela? Que foi por culpa dela que você se entregou a um sentimento insano e que você não tem mais controle sobre ele, se é que algum dia teve. Odeia ou quer odiar, porque assim você mantém distante o gosto amargo da culpa que a golpeia todos os dias? Eu tenho uma coisa para te dizer, minha pequena. Não se culpe, não a odeie e não se odeie. Permita-se sentir o que seu coração silenciosamente diz. Nós não planejamos sentir isso, Julha, simplesmente aconteceu. Todos os dias eu tento me convencer que ficar longe de você evitará muitos males, mas é mais forte do que eu. Eu não consigo trabalhar, não consigo pensar, não consigo comer, não consigo fazer porra nenhuma. Eu sei que essa armadura que você finge vestir é para se manter longe de mim, mas, no fundo, tanto eu quanto você sabemos que não é isso que você quer.

Meus olhos ardem e lágrimas se formam, então desvio o olhar para que ele não as veja. Muito do que ele disse é verdade, mas eu não vou admitir isso nem sob tortura, não vou colocar em jogo tudo o que consegui durante essa semana ao me manter longe dele.

— Não seja ridículo, seu pretencioso — cuspo as palavras.

— Está bem. Então me diga qual é o verdadeiro motivo para você ser tão dura com sua mãe. — Eu vejo um sorriso irônico dançar em seus lábios.

Eu poderia me calar, não confirmando e muito menos negando as suas afirmações, mas eu prefiro me impor, mesmo que seja mentindo.

— Não que seja da sua conta — digo entredentes —, mas você sabe que ela dá mais importância a esse trabalho dela do que a mim. Mal tem tempo pra mim, ela não se importa comigo.

— Claro — ele diz, ainda incerto.

— Minha festa de formatura está se aproximando e sei que ela não irá participar.

— Fique tranquila, pimentinha, ela vai voltar para participar da sua festa de formatura. — Ele sai da cama e me pega de surpresa quando envolve seus braços fortes na minha cintura.

Com nossos corpos colados, Christopher inala o perfume do meu cabelo, fazendo o meu corpo ficar arrepiado. Não consigo conter o sorriso safado que dança em meus lábios antes de morder meu lábio inferior para evitar que um gemido escape e profira tudo o que ele já sabe. Eu fecho os olhos ao ser envolvida por seu perfume amadeirado e sedutor.

— Christopher — minha voz soa como um sussurro. — Nós já conversamos sobre isso. Não é certo — digo, enquanto tiro suas mãos da minha cintura e tento me afastar dele, mas sou impedida quando ele me puxa pelo pulso, fazendo com que eu fique de frente para ele.

— Sabe o que não é certo, Julha? — Envolvida por seu toque e seu perfume, eu balanço a minha cabeça de um lado para o outro, respondendo a sua pergunta. — Não é certo que deixemos de viver o nosso amor. — Ele aperta mais o seu corpo contra o meu, me excitando. Os meus seios pesam, ficam sensíveis, os mamilos enrijecidos. Minha respiração se torna ofegante e a pulsação acelera. Eu tento, de todas as formas possíveis, controlar o desejo de me entregar a ele.

— Não, Christopher. — Eu o afasto mais uma vez sob o seu olhar indagador.

— É sério que você vai continuar com isso?

— Nós já decidimos que devemos nos afastar.

— NÃO! — ele grita. O seu olhar sobre mim é duro, sei que ele está sofrendo tanto ou mais que eu.

— Christopher...

— Não, Julha, você decidiu por nós dois, então não me venha dizer que fomos nós. Porra nenhuma. — Suas palavras são duras e me machucam. — Mas se é o que você quer, tudo bem. Eu não vou lutar por alguém que não tem intenção de lutar por mim. — Parecendo cansado, ele se senta na cama e descansa a cabeça entre as mãos. — Se você não tivesse me impedido, eu teria contado toda a verdade para ela há muito tempo — ele diz como se fosse a coisa mais simples do mundo. Acho que Christopher está esquecendo de que estamos falando da felicidade da pessoa mais importante da minha vida.

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