O Padrasto 1 romance Capítulo 17

No fim tudo dá certo, e se não deu certo

é porque ainda não chegou ao fim.

Fernando Sabino

— Bom dia — cumprimento o sr. e sra. Clark, que acompanham Ane na mesa do café ao me juntar a eles.

— Bom dia, Julha, dormiu bem? — pergunta gentilmente a sra. Clark, que sempre foi muito solícita comigo.

— Sim, dormi. Obrigada — digo a verdade.

Passar a noite na companhia de Ane fez com que eu me sentisse bem melhor. Conversamos sobre todos os assuntos, inclusive sobre Christopher. Eu contei tudo para a minha amiga, que não digeriu muito bem a notícia da minha partida para Vegas após a nossa formatura. Desde então, ela tem se mantido distante.

— Está tudo bem, Ane? — sua mãe pergunta, desconfiada.

Eu a encaro de soslaio enquanto coloco uma colherada do meu cereal na boca.

— Está tudo bem, mãe. — Sua voz não soa nada convincente, então eu olho dela para a sua mãe, que insiste.

— Quer conversar?

Ane fita o seu relógio de pulso e limpa os lábios no guardanapo antes o jogar sobre a mesa.

— Deixe isso para uma outra hora, mãe, nós estamos atrasadas para a escola.

Eu entendo o seu recado, sei que a minha amiga está fugindo da tentativa de investigação da sua mãe. Rapidamente, eu me levanto e a sigo.

— Mas vocês nem terminaram o café — o sr. Clark diz, após bebericar seu café.

— Não se preocupe, papai, nós comeremos alguma coisa na escola. — Ane se levanta e se despede dos pais com um beijo no rosto de cada um, então faço o mesmo.

— O motorista as levará — ele diz, enquanto caminhamos para a sala para pegarmos as nossas bolsas.

Como algumas peças de roupas de Ane servem em mim, eu me livrei de ter que ir até em casa enfrentar os meus problemas. Covarde, sim, eu sei.

— Bom dia, senhoritas.

Respondemos ao cumprimento do homem com um aceno de cabeça e entramos no carro. Seguimos por alguns minutos do trajeto em silêncio e isso está me matando.

— Vai ficar me evitando por quanto tempo?

Ane encara o movimento da estrada através da janela do carro em silêncio, até que decide responder depois de alguns minutos.

— Lembra quando nós nos conhecemos? — Um sorriso surge em meus lábios. Sim, eu me lembro. — Estávamos no jardim de infância e eu estava com vergonha no nosso primeiro dia de aula. Você, persuasiva como é, se aproximou de mim e me passou confiança. — Com os olhos marejados, ela volta a sua atenção para mim. Eu não contenho a emoção que me toma.

— Como eu poderia esquecer? Desde aquele dia não nos separamos mais, nem um dia sequer — digo, emocionada.

— Sim. Vivemos tantas emoções. Rimos, choramos, tivemos decepções e nunca imaginei que ficaria longe de você. Olhe só para isso, você está partindo.

— É só por um tempo, Ane. Depois nada irá impedir de viajarmos juntas, casarmos no mesmo dia e engravidarmos na mesma época. Eu estarei longe, mas nunca nos afastaremos.

— Não dá no mesmo? — Ela dá de ombros.

— Claro que não. Nós vamos estar longe uma da outra, mas não ficaremos sem nos vermos e nos falarmos todos os dias.

— Você promete?

— Palavra de escoteiro. — Cruzo os dedos em sinal de promessa.

— Fique sabendo que promessa é dívida, srta. Thompson.

Abraçadas, nós rimos e seguimos o restante do trajeto em paz ao dar o assunto resolvido entre nós. Eu não suportaria partir sem que tudo ficasse bem com a Ane. Vou sentir saudades dos nossos momentos.

(... )

Estamos na segunda aula quando meu celular me alerta que uma nova mensagem acaba de chegar. Christopher ainda está usando o celular da mamãe para se comunicar comigo.

“Bom dia, querida, como passou a noite? Senti sua falta.”

“Bom dia, ‘mamãe’ (rsrs), dormi bem,

e também senti saudades.

Como estão as coisas por aí?”

Eu não posso ignorar o assunto que fez com que eu me afastasse de casa por algumas horas. Alguns minutos depois, outra mensagem chega.

“Eu quero te ver. Eu vou passar na escola para te pegar.

Arrume as suas coisas, a diretora já deve estar chegando na sua sala.

Não se preocupe com a Ada, está tudo sob controle.”

“Melhor não, tenho algumas atividades

importantes para entregar ( é perigoso).”

“Eu não aceito não como resposta.

Ou você vem por bem, ou eu vou te buscar em sua sala.

Chego em cinco minutos.”

Quando estou para enviar outra mensagem dizendo que não vou sair, percebo que não dá mais tempo. Meg, uma linda mulher negra de longos cabelos cacheados, uma das secretárias da diretora, bate na porta da sala chamando a atenção de todos para ela. Depois de dizer alguma coisa para o professor, que volta sua atenção diretamente pra mim, ela me encara.

— Senhorita Thompson, pegue o seu material, sua mãe a está aguardando.

Ainda desnorteada, eu assinto com a cabeça para indicar que entendi.

— Sua mãe está aí? O que houve? — Ane pergunta ao se aproximar. Sua voz soa preocupada.

— Eu vou sair para almoçar com a mamãe. — Termino de arrumar o meu material e olho para Ane com um sorriso travesso nos lábios.

Ela me encara com um sorriso irônico, sabendo bem quem é que aguarda.

— Vocês estão brincando com fogo. — Ela balança a cabeça de um lado para o outro.

— Eu sei, mas eu preciso dizer adeus. Não pense que está sendo fácil para mim me despedir das pessoas que eu amo. Eu não desejo que ninguém passe pelo que estou passando — digo com um fio de voz e dou de ombros, não deixando de concordar com as suas palavras. Mas agora eu preciso estar com Christopher, as consequências eu pensarei depois.

— Tudo bem, eu conto para o Felipe que você precisou ir embora.

— Obrigada, amiga. Eu não sei o que seria de mim sem você. — Dou um beijo em seu rosto e jogo a mochila sobre um ombro.

Após me despedir da minha amiga e de Bruno, saio acompanhada de Meg, que faz questão de me levar até o portão. Por sorte, o carro de Christopher já está estacionado do outro lado da rua. Luxuoso e imponente, demonstra bem que é um homem de posse.

Milhares de borboletas que fazem morada em meu estômago, ao sentir a presença de Christopher, uma por uma levanta voo quando me dou conta do que pode acontecer hoje.

— Obrigada, mas sigo sozinha daqui — digo, e saio correndo antes que ela decida me acompanhar até o carro.

— Mas, Julha... — Ela até tenta, mas não dou ouvidos.

Assim que me aproximo do carro, a porta se abre e rapidamente eu entro. Estou ofegante e com a pulsação acelerada. Sem dar tempo de me acomodar corretamente no banco, ele me envolve em seus braços e me puxa para si, fazendo com que eu monte em seu colo com uma perna de cada lado do seu quadril. Um arrepio gostoso percorre toda a minha espinha até a nuca.

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