O Padrasto 1 romance Capítulo 6

O que é bom dura o tempo certo que tem que durar.

Julha Thompson

Um sema semana depois...

Infelizmente, hoje estamos voltando para Nova Iorque. A semana havia passado mais rápido do que eu gostaria, mas eu soube aproveitar cada segundo ao lado dele. Sem sombra de dúvidas, foi uma das melhores semanas da minha vida. Estávamos apenas nós dois e uma fazenda inteira como testemunha do nosso amor. Como diria a minha amiga Ane, “tudo o que é bom, dura pouco”. Mas eu discordo em partes, o que é bom dura o tempo certo que tem que durar.

Eu não sei qual será o comportamento dele depois de termos feito amor durante todos esses dias. Para ele eu posso ter sido apenas mais uma em sua cama, mas eu não me esquecerei de cada segundo que estivemos juntos, do nosso passeio de charrete, do banho na cachoeira, do passeio pela cidade, dos seus beijos, das suas carícias, das trocas de carinho. Ah, foi perfeito ter os nossos corpos juntos, entrelaçados como se fôssemos um. Christopher fez com que eu me sentisse a garota mais amada e desejada do mundo. Satisfeita, eu sorrio ao me recordar dos momentos que tanto me excitaram.

Não estou sabendo lidar com o que sinto por ele, que a cada dia cresce desenfreadamente dentro de mim. É uma coisa sem controle e eu preciso manter distância ou isso não irá terminar bem. Nem mesmo em meus sonhos mais loucos me imaginei vivenciar o que está acontecendo na minha vida. Ficar dividida entre as duas pessoas mais importante para mim é insano. Eu cheguei a me perguntar se não estou usando a situação em que eu me encontro — fragilizada pela partida de papai — para usar Christopher como uma válvula de escape. Meu Deus, eu não estou feliz com isso, pelo contrário, eu me sinto péssima. A culpa me golpeia todos os dias, a cada ligação que recebo de mamãe.

Quanto a Christopher, eu não sei se ele realmente sente amor, desejo ou paixão, tudo para mim é confuso em relação aos sentimentos dele por mim, mas eu não posso exigir nada. Eu deveria ter me afastado, mantido distância e não ter permitido que esse sentimento criasse vida, mas agora é tarde, já estou envolvida mais do que devia. Ele não é a minha válvula de escape, porra, é o homem que eu amo.

Christopher me desperta do meu devaneio ao entrelaçar sua mão na minha em um gesto consolador, como se estivesse lendo os meus pensamentos ou, de alguma forma, ele está se sentindo como eu. Eu sei que nós dois gostaríamos que tudo fosse diferente. Eu gostaria de poder escolher e não me apaixonar por ele, tudo seria muito mais fácil.

— Está tudo bem? — Volto a minha atenção para ele, que me fita com atenção e parecendo preocupado. Levemente, ele dá um aperto em minha mão.

— Christopher, alguém pode nos ver — digo, realmente apreensiva. A aeromoça passa por nós e encara de soslaio as nossas mãos entrelaçadas e, em seguida, me fita com um olhar acusador. Eu puxo minha mão de volta, mas sou impedida por ele, que a segura firme.

— Não se preocupe com os outros — ele diz, sério. — Não importa o que vão pensar de nós, porque ninguém se importa se estamos felizes ou não. O que eles realmente querem é um motivo para apontar os nossos erros e assim, por algum momento, esquecer dos deles.

Arqueio as sobrancelhas, surpresa ao ouvir suas palavras. Uma parte minha concorda com Christopher, mas outra um pouco maior acha que não devemos nos expor tanto. Não é questão de sermos aceitos, porque não precisamos da aprovação de ninguém, mas é pela situação em que vivemos, isso diz respeito apenas a nós. Eu o fito com um sorriso um tanto tímido. Eu poderia citar tudo o que penso, mas do que adiantaria, meu deus grego é mais cabeça dura que eu.

— Eu quero que você fique bem. — Sua expressão suaviza.

— Não se preocupe, eu estou bem — digo, para convencer mais a mim do que a ele.

(...)

Chegamos a Nova Iorque no fim do dia e pegamos o carro de Christopher, que havia ficado no estacionamento do aeroporto. Sem nenhum desconforto de parecer que a todo tempo estávamos sendo vigiados, seguimos para casa.

Olho através da janela do carro para o fluxo da cidade que nunca dorme, o frenesi das pessoas dividindo espaço nas ruas com os carros, as calçadas extensas, algumas vezes com lojas. Aciono o botão elétrico e abro a janela do carro. De soslaio, vejo que Christopher me fita com curiosidade. Eu fecho os olhos e inalo o odor da alma da cidade — a poluição.

— O que está fazendo? — Ainda com os olhos fechados, sinto que o seu lábio carrega um sorriso brincalhão.

— Eu nunca pensei que diria isso — abro os olhos, e ainda com a minha atenção voltada para a paisagem urbana, completo —, mas senti saudades desta loucura que é Nova Iorque. — Solto uma lufada de ar.

— Isso quer dizer que você prefere a poluição da cidade grande à minha companhia? — Ele finge estar decepcionado.

— Não seja bobo — reviro os olhos —, você entendeu o que eu disse. — Volto a fitá-lo e vejo o quanto é perfeito. A luz do sol faz com que seus olhos alcancem um tom do azul mais claro, que em contraste com o seu cabelo escuro o deixa ainda mais atraente. — Foi a melhor semana da minha vida.

— Pra mim também — afirma ao pararmos o carro na garagem. Ele puxa o freio de mão, desliga o carro e volta a sua atenção para mim. — Nós temos que manter as aparências, você sabe, não sabe?

Por mais que eu tivesse consciência de que a qualquer momento isso aconteceria, não pude deixar de me sentir triste, vazia. Afirmo com a cabeça. Mesmo que eu tente parecer forte, que nada me afeta, Christopher sente a tensão que domina o meu corpo.

— Minha pequena, você sabe que eu não gosto do desenrolar da nossa relação. Apenas uma palavra sua e tudo isso vai mudar — ele diz como se fosse algo simples, mas não é bem assim. Eu penso em tudo, porém não digo nada.

— Eu preciso ir. — Pego a minha bolsa no banco de trás e me viro para abrir a porta, mas ele me impede ao segurar o meu braço.

— Julha.

Evito o contato visual para que ele não veja os meus olhos marejados.

— Me deixe ir — fungo. — Por favor. — Minha voz soa embargada.

— Eu a deixarei ir, mas só peço que me ouça antes. — Ele me pega de surpresa ao me puxar para o seu colo.

— Você é louco? Alguém pode nos ver — sussurro.

Ele parece não se importar ao envolver os braços em volta da minha cintura, colando ainda mais os nossos corpos.

— Olhe pra mim, minha pimentinha. — Fico imóvel por alguns instantes, mas ele não desiste, toca meu queixo e lentamente ergue a minha cabeça. Junto com este pequeno movimento, uma lágrima solitária desliza pelo meu rosto. — Porra, Julha — diz entredentes antes de soltar uma lufada de ar. Carinhosamente, ele toma o meu rosto entre as mãos e com o polegar seca a lágrima denunciadora. — Eu vou ao inferno quando a vejo chorar. Não chore. Nós vamos encontrar a melhor saída para contar tudo a Katherine. Confie em mim.

— Eu espero que sim — digo na tentativa de convencer mais a mim.

Christopher me dá um beijo casto e fico alguns minutos em silêncio entre os seus braços com a testa colada a dele, trocando carícias como se fosse uma despedida. Relutante, eu volto ao meu lugar, respiro fundo para controlar a respiração acelerada e passo as mãos em meu cabelo para o arrumar.

— Obrigada por tudo — agradeço com sinceridade e, em seguida, pego a minha bolsa e saio batendo a porta com força. Ele odeia, e eu sei disso, mas não consigo agir de outra forma, tenho que seguir com o teatro. Lide com isso, senhor Cloney. Solto um sorriso irônico.

— Por que você tem que ser tão estúpida? — Mesmo distante, ainda consigo ouvir ele dizendo em um tom ríspido. Com passos apressados, ele vem em minha direção e se esquece até mesmo de fechar a porta do carro.

Eu cumprimento com um breve aceno de cabeça alguns seguranças que estão por ali e nos observam atentamente, deixando transparecer em seu semblante a ira sobre Christopher ao ver a forma com que ele se dirige a mim, enquanto outros se divertem ao ver o nosso conflito, tentando não deixar tão transparente que estão prestando atenção em nós.

Ansiosa pelo que pode me acontecer nos próximos minutos caso Christopher consiga me alcance, eu acelero os passos com as minhas pernas trêmulas. A minha pulsação acelera e o sangue em minhas veias corre freneticamente ao me aproximar da porta. Eu giro a maçaneta e, como uma menina que acabou de fazer arte e foi pega pelos pais, corro para dentro da casa em uma tentativa insana de me proteger da fúria. Um sorriso de nervoso alcança o meu rosto.

Atravesso a ampla sala de visitas silenciosa e me dirijo à escada, ao colocar o pé no primeiro degrau, minha atenção é levada para o topo. Meu sorriso morre com a mesma rapidez que se formou.

Não consigo mover as pernas, estão pesadas. Fico petrificada ao vê-la caminhar lentamente e com elegância com seu salto alto de grife e um vestido tubinho preto que revela suas pernas torneadas. Seu longo cabelo loiro preso em um perfeito rabo de cavalo dá a ela um ar mais jovial. Eu sempre me perguntei o que Christopher havia visto em minha mãe, não que ela seja uma mulher desprovida de beleza, mas é viúva, madura, com uma filha adolescente mimada para educar. Ele é jovem, bonito, sexy e bem-sucedido, poderia ter a mulher que quisesse.

“Como você, não é mesmo, querida?” Acusa-me o meu demônio interior.

Está aí a resposta. A minha mãe é uma mulher linda, ela pode despertar interesse em homens de qualquer idade.

— Olá, filha. — Com seus olhos cravados em mim, ela coloca uma de suas mãos sobre o corrimão.

Em que momento ela voltou de viagem? Por que não nos ligou para avisar? Por que não foi ao nosso encontro? Qual é o motivo de ela ter adiantado a sua volta? Será que está desconfiada?

Eu fico estática, não consigo formular nenhuma palavra coerente com os questionamentos fervilhando em minha cabeça.

— O que houve, Julha? Parece que viu um fantasma — Christopher diz em um tom divertido, enquanto se aproxima e para logo atrás de mim, colando o seu peito às minhas costas. Ao notar a presença da esposa, ele se afasta imediatamente. — Katherine? — A voz dele revela que está tão surpreso quanto eu. Ele se coloca ao meu lado e olha de mim para a mamãe, esperando que eu lhe dê uma explicação.

Querido, não me olhe assim, eu também estou tão surpresa quanto você, penso.

— Oi, meu amor. — Ela desce a escada e se aproxima dele, envolvendo os braços em volta do seu pescoço em um abraço carinhoso.

— Quando você voltou? — ele pergunta, desconfiado.

Nesse momento, o ciúme me golpeia. Eu abaixo a cabeça ao ver que ela o pega de surpresa, roubando um selinho estalado. Meu estômago revira. Christopher me fita de soslaio em um pedido silencioso de desculpas, então só desvio o olhar.

— Voltei há alguns dias, mas isso não importa. O que eu acabei de ver aqui é tudo o que mais desejei.

Engulo em seco. Se não bastasse a tortura em vê-la abraçada ao homem que amo, ela segura a minha mão e me puxa para mais perto, envolvendo um braço ao redor do meu corpo enquanto o outro está ao redor de Christopher. Nossos olhos se cruzam, suas íris azuis adquirem um tom acinzentado e sem que a minha mãe perceba, Christopher fecha os olhos e aproxima o nariz do meu cabelo. Eu também fecho meus olhos ao sentir o seu pequeno toque, sem saber se em algum momento voltarei a senti-lo.

— Como fico feliz em ver que vocês estão se entendendo — ela diz com um sorriso irônico nos lábios, então rapidamente eu me afasto do seu abraço.

— É bom ter você de volta, mãe. — Dou um sorriso tímido. — Eu só não esperava encontrá-la aqui. — Dou de ombros.

— Peguei vocês de surpresa, não é mesmo? — Ri com sarcasmo e volta a envolver os braços em volta do pescoço de Christopher, que reluta para retribuir o gesto. — Mas eu quis fazer uma surpresa para vocês. — Ela olha para mim e depois para Christopher, parecendo desconfiada. — E pelo visto consegui.

— Se você voltou há alguns dias, por que não foi ao nosso encontro? — Cuspo as palavras.

— Por quê? Oras, porque... Porque ao chegar em casa, continuei trabalhando do escritório e... — ela gagueja, sei que está mentindo.

Para mim, basta. Eu não sei o que minha mãe anda planejando e seja lá o que for, está tornando Christopher e eu mais próximos de uma maneira que ela não vai gostar.

— Bom, eu vou para o meu quarto, a viagem foi exaustiva — provoco Christopher, que me fita com os olhos semicerrados.

— Tudo bem, querida, mas quero que saiba que fico muito feliz em ver que vocês estão se entendendo. — Sua voz soa com sinceridade.

— Não se iluda, querida, essa garota está cada dia pior. — Nossos olhos se cruzam e ele me fita com uma falsa irritação.

Eu reviro os olhos e me deixo envolver por seu teatro.

— Eu apenas retribuo o seu carinho, querido padrasto — digo com deboche.

— Você é uma garota muito insolente. — Vejo um risinho safado dançar em seus lábios.

— Por favor, não comecem — mamãe intervém, visivelmente cansada. Ela volta a atenção para mim sem se desfazer do abraço do seu amado. — Julha, meu bem, vá para o seu quarto descansar enquanto eu mato a saudade do meu maridinho lindo.

— Mãe, me poupe dos detalhes sórdidos. Aproveitem — digo entredentes.

Christopher me olha com uma expressão que eu não consigo decifrar. Engulo em seco para impedir que as lágrimas denunciem o quanto a sua revelação me afeta. Entro em meu quarto com a respiração acelerada. O asco ao imaginar o que irá acontecer no quarto da frente percorre os meus vasos sanguíneo. Eu fecho a porta atrás de mim, mas ainda a ouço.

— Eu senti saudades, meu amor.

— E... eu também, querida — ele gagueja.

Eu jogo a bolsa no chão e deslizo o corpo pela madeira fria da porta, sentando-me no carpete felpudo que cobre o piso. Exausta, abraço os meus joelhos e deixo que as lágrimas deslizem livremente pelo meu rosto. Ouvi-lo falar com a minha mãe daquela maneira tão carinhosa só me fez ter a certeza de que tudo o que vivemos durante essa última semana não serão mais que boas lembranças. Eu recupero o fôlego, seco as lágrimas com as mãos e me levanto, pegando a minha bolsa e seguindo para o closet. Volto a jogá-la no chão em um canto qualquer com mais força do que pretendia e, em seguida, sigo para o banheiro e fecho a porta atrás de mim. Um misto de culpa e angústia me sufoca, rouba o meu ar e me impede de respirar. Levo as mãos à boca para abafar os soluços que voltam a sair.

Eu já sabia o que aconteceria quando traí a minha mãe, e agora tenho que colher os frutos. Após colocar para fora através das lágrimas a minha angústia, eu me sinto mais calma, com a emoção mais controlada. Carrego comigo o resto que sobrou da minha dignidade para seguir em frente, se vou conseguir eu não sei, mas vou tentar.

Prendo o meu cabelo em um coque frouxo e, em seguida, caminho até a banheira e a coloco para encher, regulando a temperatura da água antes de tirar as roupas e as colocar dentro do cesto. Eu olho para o meu corpo magro nu através do espelho, marcas roxas ao lado do meu seio denunciam quão maravilhosa foram as noites que tivemos.

Fecho os olhos ao recordar dos nossos momentos de prazer. Ainda posso sentir cada carinho dele, cada gemido, sussurro, seus lábios reivindicando os meus, percorrendo o meu corpo. Sinto um comichão se formar entre as minhas pernas e desejo loucamente ter seu toque mais uma vez, mesmo que seja a última vez. Frustrada, eu abro os olhos, mas ele não está por perto, talvez esteja nos braços da pessoa que realmente o tem.

— Christopher — gemo, chamando o seu nome ao sentir o calor percorrer as minhas entranhas, me deixando excitada.

Eu deslizo a mão lentamente pelo meu colo, como se ele estivesse ali, me tomando para si, e me entrego totalmente, ansiando o sentir forte e duro. Sentindo-me tentada a me tocar e ofegante, levo a palma de uma das minhas mãos ao encontro dos meus mamilos enrijecidos, fazendo o meu corpo arrepiar. Entreabro os lábios para facilitar a minha respiração enquanto faço movimentos circulares em meu mamilo com a palma da mão aberta, depois faço o mesmo com o outro, suspirando de prazer.

Eu me sinto maravilhada com toda a excitação que percorre o meu corpo, mas, ao mesmo tempo, um pouco melancólica por estar tão excitada apenas com lembranças. Mas é mais forte do que eu, não consigo controlar, deslizo uma das minhas mãos para o meio das minhas pernas e introduzo um dedo entre a minha carne úmida, levando-o em seguida para a minha boca, deliciando-me com o sabor salgado da minha intimidade palpitante.

O meu mel escorre entre as minhas pernas, aumentando ainda mais a minha excitação. A cena da nossa última noite passa como um filme erótico em minha cabeça e, sem me preocupar com mais nada, eu deixo que o meu corpo deslize até o chão como uma pena. Apoiando as costas no azulejo frio, eu abro bem as pernas e olho a minha boceta, que brilha com a lubrificação sob a luz do banheiro. Meu clitóris palpita no mesmo ritmo de minha pulsação, então tomo um dos meus seios na mão e aperto. Minha respiração se torna ainda mais ofegante ao deslizar a mão por minha virilha e lentamente ela escorrega sobre a minha pele fina, alcançando o meu clitóris. Trêmula, eu arqueio as costas enquanto toco a minha intimidade suavemente.

— Oh, meu Deus — gemo, arfando, e começo uma massagem com movimentos circulares enquanto deslizo o meu dedo do meio entre as paredes da minha carne molhada, me fazendo estremecer. Abro ainda mais a minha perna e giro os quadris, iniciando um gostoso movimento de entra e sai. Eu fecho os olhos e imagino que são os dedos de Christopher me possuindo, então intensifico os movimentos.

— Christopher — gemo, chamando o seu nome antes de deslizar a língua pelos meus lábios ressecados.

Meu coração bate acelerado, parecendo querer sair pela boca, e meu corpo treme. Entre gemidos, sinto o meu orgasmo se aproximando e me contorço, não conseguindo controlar os sons que saem mais altos do que eu pretendia. Os meus músculos vibram e, em seguida, sou preenchida pelo meu líquido quente. Solto um gritinho, então levo minhas mãos aos lábios para abafar os sons. Meu corpo estremece e leva alguns minutos até recuperar o fôlego. Ainda sentindo o cheiro de sexo envolver o ambiente, eu me levanto do chão frio, que ficou marcado com o suor da minha excitação. Satisfeita, sigo para a banheira, que transborda, então desligo a torneira e entro, fazendo com que mais uma boa quantidade de água derrame.

(...)

Eu perco a noção de quanto tempo estou aqui, perdida em pensamentos, tendo como companhia as lágrimas que caem constantemente. O vento entra pelas janelas abertas e lambe o meu corpo, me trazendo de volta à realidade. Só então percebo que a água já não está mais quente e convidativa, como esteve minutos atrás. Sua frieza faz com que os pelos do meu corpo se arrepiem e meus mamilos enrijeçam. O frio ordena que eu saia, mas as minhas lágrimas pedem para que eu fique no meu mais novo refúgio.

Relutante, eu saio da banheira, pego o roupão branco felpudo pendurado em uma arara de inox ao lado do boxe e me visto. Ele desliza como uma nuvem de plumas sobre a minha pele, aquecendo-a. Pego uma toalha de banho e enrolo nos meus cabelos, que por um descuido deslizaram para dentro da água. Recomposta, eu sigo para o meu closet.

Nunca fui uma garota de ficar me lamentando, e não será agora que irei fazer isso, não irá me levar a lugar algum. Ao invés de perder tempo com isso, irei encontrar uma forma de organizar a minha cabeça, minha vida e o meu coração.

Abro a gaveta de lingeries e pego uma minha calcinha em renda rosa, nada sexy, mas confortável, e me visto. Quando entro no meu quarto novamente, ouço alguns gemidos parecendo vir do quarto da frente, e isso prende a minha atenção. Gemidos altos, excitantes, e ouvir aquilo não deveria, mas de alguma maneira me incomoda, dói. Dói muito mais do que eu poderia imaginar.

Corro de volta para o closet ao mesmo tempo em que as minhas lágrimas dolorosas voltam a cair. Entro no banheiro e fecho a porta com força atrás de mim, rapidamente sigo até o vaso sanitário e coloco para fora tudo o que havia ingerido durante o dia.

Meu rosto está lavado pelas lágrimas, meus olhos estão embaçados, então vou até a pia e lavo o gosto amargo da boca e o meu rosto. A água fria alivia a minha angústia. Ao ver a toalha de rosto dobrada em cima da pia, eu a pego e a levo à boca, mordendo-a para abafar os gemidos, que escapam involuntariamente dos meus lábios.

Raiva, irritação, ódio e ciúme. Um misto de sentimentos me leva ao descontrole. Sem pensar nas consequências que os meus atos podem me acarretar, deslizo as mãos sobre a bancada da pia e faço com que meus perfumes que estão sobre ela caiam no chão, fazendo com que os vidros se quebrem em pequenos fragmentos, provocando um som estrondoso. Segundos depois sinto um ardor percorrer as minhas pernas e, logo em seguida, o aroma dos perfumes se misturam.

— Ahhh! —grito, nervosa, e continuo com mais algumas sequência de gritos, que me levam à exaustão antes de soltar uma gargalhada histérica.

Assim que encontro um lugar no chão que não tenha sido atingido pelos fragmentos, eu me sento, ofegante, e fico quieta por alguns minutos, buscando domínio dos meus sentimentos. Estou suada, meu rosto está lavado pelas lágrimas, minhas pernas ardem pelos cortes que alguns fragmentos dos frascos me causaram, mas não me importo. O meu coração carrega uma ferida ainda maior e não morri por isso.

Minutos depois eu ouço passo e, em seguida, algumas batidas frenéticas na porta.

— Julha, está tudo bem? Julha? — Eu quero tranquilizá-la, mas as palavras me faltam. — Julha querida, fale comigo. — Sua voz soa desesperada.

Eu puxo ar para os pulmões na tentativa de controlar a minha voz para que ela não perceba que soa embargada e, por fim, digo: — Está tudo bem sim, mãe — fungo —, foram alguns vidros de perfume que criaram vida própria e decidiram se jogar no chão — digo com ironia.

Ela bufa e mesmo que eu não veja, tenho certeza que revirou os olhos. — E esses gritos, Julha, foram os perfumes também? — Sua voz soa sarcástica. Ela não desiste.

— Não, mãe, os gritos foram meus, mas não há motivo para se preocupar. Foi apenas um susto — minto.

— Mas, Julha... — Sua insistência me aborrece. — Julha, eu sou sua mãe. Quer fazer o favor de me dizer o que está acontecendo?

Estou pronta para soltar palavras de repulsa contra ela, mas agradeço mentalmente aos céus por ter enviado Christopher, que inconscientemente me impede.

— Katherine, vamos voltar para o quarto. Ela disse que está bem.

Meu corpo acelera em resposta à sua voz.

— Amor, estou preocupada com ela — insiste.

— Katherine, Julha não é mais criança, mesmo que às vezes — pelo tom alto da voz, sei que ele aproximou seus lábios da porta, direcionando as palavras para mim — ela se comporte como uma. Querida, ela sabe se cuidar muito bem sozinha. Ela só está querendo chamar atenção como a menina mimada que ela é. Isso é culpa sua — ele a acusa.

— Você está sendo duro.

— Desculpe, meu bem. — Ouço o som de um beijo sendo trocado. — Mas é que eu fico irado quando essa garota se comporta como uma menina de oito anos só para chamar a sua atenção. Eu prometo não falar mais nada que te magoei.

— Eu não sei mais o que fazer. — Ela funga e eu me arrependo do meu comportamento. — Eu não compreendo o motivo de tanto ódio que ela sente por mim. Às vezes acho que ela me culpa pela morte do pai.

— Não diga bobagem. Ela está passando por uma fase que todos nós já passamos um dia.

— Sim, eu sei, mas eu gostaria que as coisas fossem diferentes entre nós.

Suas palavras me atingem violentamente, como um soco no estômago. Passo as mãos rapidamente no meu rosto, secando as lágrimas pesarosas. Eu fito minhas mãos sujas de sangue que, em contato com o líquido levemente salgado que desliza pelo meu rosto, fazem arder os pequenos cortes feitos pelos cacos de vidro.

— Julha precisa de um tempo, querida, nós daremos esse tempo a ela. Quando ela estiver bem mais calma virei conversar com ela.

Mas não mesmo, penso.

— Jura que você fará isso por mim? — Outro beijo rápido é trocado.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: O Padrasto 1