— Não acredito que ficou em jejum durante o dia inteiro. – Jonathan a repreendeu enquanto despejava o ovo batido sobre os legumes que havia refogado em gordura de bacon.
Eva estava sentada à mesa e segurava a testa com as mãos. Os cotovelos, apoiados sobre o tampo de vidro, deixavam duas marcas embaçadas que traçavam um caminho reto à medida que escorregavam paras os lados
— E bebeu a garrafa de vinho inteira. – Ele continuou, salgando o omelete e salpicando uma pitada de orégano sobre ele.
Jonathan cozinhava com o torso nu e sua fina bermuda de descanso enquanto suas roupas haviam sido deixadas de molho.
— Você está apaixonado por mim? – Ela levantou os olhos em sua direção, atônita e preocupada. – Quero dizer... Eu me sinto lisonjeada, mas sabe quão maluco isso soa?
Ele permaneceu em silêncio enquanto cozinhava, mas Eva pôde ouvir um breve suspiro por sobre o barulho da comida que estalava na frigideira e já começava a lançar em todo o cômodo, um apetitoso aroma que encheu as suas narinas e fez sua boca salivar.
— Jonathan. – Ela ensaiou na mente antes de continuar. — Eu tenho que admitir que isso que estamos tendo. Essa... coisa que não sei como chamar. É a coisa mais intensa e deliciosa que já vivi...
— Você não precisa se explicar. – Ele tampou a frigideira, deixando que o ovo cozinhasse enquanto espremia o sumo de um limão num copo com gelo e açúcar. – Foi algo estúpido a se dizer.
Ele levou o copo até o filtro e o completou com água até o topo. Jonathan parecia um tanto encabulado, o que conferia a ele um ar adorável e um tanto inocente.
— Eu amo o seu primo. – Admitiu ela, sentindo a garganta secar num momento. – Não quero que pense o contrário. Gosto muito do que estamos tendo, mas o que eu sinto não é amor.
Seu corpo protestou ao dizer aquelas últimas palavras, como se não lhe fosse natural. Ela baixou a cabeça, ponderando tudo o que havia acontecido.
— Você é uma pessoa incrível e tenho certeza que um dia vai encontrar alguma mulher de sorte que corresponderá àquilo que pensa estar sentindo. – Ela continuou com cuidado. Sentindo, sem entender o porquê, uma pontinha de ciúmes. – Mas esse alguém não pode ser eu.
Ele destampou a frigideira e, constatando que o ovo já estava no ponto, despejou-o sobre um prato. Ele caminhou até Eva, servindo-a, gentilmente.
O rapaz estava claramente desapontado com a ausência de reciprocidade com a qual a mulher estava agindo, mas se esforçava para não demonstrar.
— Quer dizer que não sente nada por mim? – Perguntou Jonathan, puxando a cadeira no outro lado da mesa para se sentar.
— Eu não disse nada disso. Eu nunca havia traído meu marido. Nunca havia, sequer pensado em traí-lo. – Ela começou, parando por um momento para mastigar um pedaço do omelete. – Eu, sem sombra de dúvidas, sinto algo por você. A maneira como me olha, Jonathan...
Eva suspirou, olhando fixamente nos olhos do rapaz.
— A maneira como me olha, faz com que me sinta a mulher mais bela desse mundo. – Ela tomou um gole da limonada. – E se fosse em uma outra situação, certamente também estaria apaixonada por você. Mas por agora, tudo o que eu amo é a maneira como você me ama. – Lá estavam de volta os protestos de seu corpo, como se aquela meia verdade ainda fosse alienígena demais.
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