O pecado original romance Capítulo 54

Ela costumava ser apenas uma garota desengonçada quando ele a conheceu. Não havia nela nada que lhe fosse remotamente atraente, exceto, é claro, pela maneira inocente como ela o olhava por trás dos óculos. Um misto de curiosidade e magnetismo que, naquela época, lhe despertava apenas o carinho característico que um adulto dispensaria a uma criança. Para ser mais exato, à irmãzinha pentelha de uma amiga.

Aos quinze anos, Marissa era introvertida e infantil, dada a jogos eletrônicos e seriados aos quais Eric considerava bobinhos e sem sentido. Na contramão das outras garotas da sua idade, se vestia com roupas largas e masculinas demais, fato ao qual sua irmã atribuía a ausência de olhares dispensados a ela pelos garotos da sua escola.

De quando em quando, Melissa a levava como companhia aos programas que fazia com o casal. Isso quando não levava consigo um dos muitos namorados que tivera ao longo dos anos.

A garota quase nunca tinha uma opinião sobre qualquer dos assuntos que eram trazidos à tona. Limitava-se, geralmente, a rir das piadas, quase sempre proferidas por Eric. Mesmo sobre aquelas às quais Melissa e Eva reviravam os olhos em desgosto.

Os olhares e risadinhas dispensados a Eric pareciam passar despercebidos às duas amigas, que, geralmente, pareciam muito absortas uma na outra, conversando em uma linguagem que apenas elas pareciam entender, mas não a ele. Claro que ele não era presunçoso ou louco a ponto de conversar com a garota sobre aquilo, mas cada vez mais, sentia seu carinho por ela crescer.

Os anos se passaram e Marissa até mesmo arranjou um namoradinho, pouco antes de completar dezoito anos. Não havia mal algum naquilo e o rapaz era até mesmo simpático, mas a troca de olhares entre Eric e a garota apenas se intensificou após aquilo.

Como era de se esperar, as roupas folgadas de Marissa foram gradativamente sendo trocadas por outras que revelavam que a garota se transformava, então, em uma mulher. Nada tão revelador quanto as que sua irmã costumava vestir, mas suficientes para que Eric parasse de vê-la apenas como uma menina. Os cabelos, antes amarrados em coque sempre que possível, então, caíam, sedosos, acima dos ombros, em um corte Chanel que a deixava linda, permitindo-a preservar, ainda, seu ar de inocência. Os olhos, antes escondidos pelos óculos, então, passaram a mostrar todo seu potencial, fazendo-a transbordar sua meiguice pueril graças às lentes de contato.

Eric se havia pego rasgando um copo de plástico em várias tiras em resposta aos ciúmes que sentia da garota em uma festa que Melissa dera em comemoração ao seu aniversário. Naquela noite, havia espantado os pensamentos da cabeça, tentando ficar longe da garota para evitar seus olhares, mas não pudera evitar o mal humor que se formou e foi embora apenas quando o tal namoradinho se despediu e saiu pela porta. Ela, então, passara a conversar com ele enquanto Eva e Melissa riam, alteradas por uma garrafa de vinho.

Era costume do casal, dormir no quarto de visitas do apartamento de Melissa quando se embebedavam ali e, quando deram por si, todos os outros convidados já haviam ido embora. E foi naquela noite que Eric se pegou, pela primeira vez, sentindo-se realmente atraído por Marissa. A garota saiu do banho vestindo um pijaminha fresco quando Eva e Melissa já dormitavam e ele aguardava sua vez de usar o banheiro. Seu corpinho esguio era delicado como um botão de rosa. Os seios pequenos e redondos marcavam o algodão do pijama de alcinhas e uma pequena cicatriz lhe marcava o ombro direito. As coxas, apesar de não serem propriamente grossas, eram curvilíneas e completavam uma beleza inocente. Seus quadris não eram largos, mas a cintura era tão fina quanto um palmo de sua mão e Eric se deixara paralisar, hipnotizado em frente à porta.

Marissa havia parado, esperando para passar enquanto o observava. Ela estava levemente corada por conta das poucas taças de vinho que havia tomado e o encarava, curiosa.

Eric sorriu e passou pela garota, fechando a porta atrás de si. Sentia uma ereção começar a se formar e, com muito esforço, espantou os pensamentos sobre a garota da cabeça.

— Caralho, o que eu estou pensando? – Pegou-se perguntando a si mesmo em voz baixa.

Ele lavou as mãos após utilizar o banheiro e saiu pela porta, olhou para o quarto de visitas aonde sua esposa dormia e pensou em entrar para dormir, mas em vez disso, fechou a porta sem fazer barulho e seguiu até a sala, onde sabia que Marissa dormiria, com a desculpa de estar com sede. Quando chegou, a garota ajeitava um travesseiro sobre o sofá e o olhou, ainda curiosa.

Ele se serviu de um copo de refrigerante e bebeu em goles longos.

— Oi. – Ela cumprimentou em um sorriso.

Ele a olhou e sorriu, depositando o copo sobre a mesa e permanecendo por ali, em busca de algum assunto que ainda não houvesse surgido naquela noite.

— Parece que ficamos com a sua cama. – Ele disse, condenando-se pela péssima escolha de assunto.

Ela sorriu, estendendo um lençol.

— Esse sofá é mais confortável do que parece.

— Duvido muito. – Era um assunto idiota e trivial, ele sabia, mas uma vez que o havia iniciado, tentaria mantê-lo. – Amanhã deve acordar toda dolorida.

— É sério, já dormi em lugares piores. – Ela se aproximou da mesa, pegando um copo e erguendo-o para que Eric a servisse.

— Mesmo? – Eric despejou o líquido no copo, completando-o. – Como aonde?

Ela levou o copo à boca, sem parar de encara-lo.

— Uma vez eu fui acampar com uns amigos. Não havia colchões.