— Eu nunca tinha te visto desse jeito. – Comentou Melissa, que se recostava no sofá, sentada no chão a procurar nenhum título em particular no serviço de streaming.
As duas se sentavam lado a lado, os corpos ainda nus e desalinhados, enquanto Jonathan ressonava, também nu, deitado no sofá.
— Pelada? – Perguntou Eva, em tom de deboche.
Melissa olhou para a amiga, encarando-a por um momento, logo se desdobrando em risadinhas e dando-lhe um tapinha na coxa. Ela apertou o play no controle, escolhendo um filme aparentemente desprovido de contexto.
— Não, tolinha. – Ela depositou o controle no chão a seu lado, encarando Eva. – Realizada. Apaixonada. Intensa.
Eva corou, levando, instintivamente a mão para trás e segurando a de Jonathan.
— Isso não me parece apenas uma aventura, Eva. – Melissa segurou sua outra mão, apertando-a entre as suas. – Eu quase consigo ver as faíscas entre vocês dois.
Eva desviou o olhar para baixo, incapaz de contradizê-la.
— E a maneira como vocês se olham. – Ela suspirou. – Só de falar nele, seus olhos já brilhavam. Mas te ver olhando para ele... tocando nele. Nem quando era adolescente você esteve tão apaixonada. Tão entregue a alguém.
Eva suspirou, sentindo seus olhos se encherem d’água.
— O que eu faço, Mel? – Ela perguntou em um sussurro. – O tempo todo, eu só tenho conseguido pensar nele.
Melissa sorriu para a amiga, lançando a ela um olhar repleto de cumplicidade.
— É sério. – Continuou Eva. – Durante o dia, eu quero estar com ele o tempo todo, durante a noite, eu sonho com ele, desejando acordar para senti-lo dentro de mim.
Ela apertou as mãos de Melissa, que sorriu ainda mais, encantando-se com o romance maluco que a amiga vivia.
— Quando descobri o que vinha acontecendo entre o Eric e a minha irmã, fiquei morrendo de medo de te contar e te ver cair em melancolia. – Confessou Melissa. – Mas sinto que isso só está te fazendo se sentir mais livre para desfrutar disso tudo da melhor maneira possível.
— Pela primeira vez na minha vida, eu não faço ideia do que vem a seguir. – Eva deixou transparecer um leve semblante de medo. – Eu estou apenas vivendo esse momento, sem planos, sem pensar nas consequências. Torcendo para que o tempo se distorça para que eu possa continuar sentindo o que estou sentindo e aproveitar os melhores dias da minha vida, indefinidamente.
Eva olhou para trás, observando Jonathan ressonar.
— Às vezes eu acho que morri e isso é meu céu. – Ela puxou a mão de Jonathan até seus lábios, depositando-lhe um beijo. – Ou que isso é um sonho do qual eu não quero acordar.
Melissa levou a mão ao rosto de Eva e virou-o para si.
— Evinha. – Ela chamou, tirando Eva de um breve devaneio. – Eu adoro te ver assim. É como se você estivesse brilhando de felicidade. Mas você precisa descer um pouco para a realidade e, em algum momento, decidir o que pretende fazer. Eu sei que é difícil. Que é mais fácil se deixar levar pelo momento do que ter de lidar com tudo o que está acontecendo. Só que o Eric está tendo um caso com a minha irmã e você, com o Jonathan.
Aquela última frase pareceu trazer Eva para a realidade por um momento.
— Se bem conheço minha irmã, ela deve estar muito apaixonada pelo seu marido para se deixar sair da linha desse jeito. – Melissa torceu a boca, como se o que viria a seguir fosse uma realidade dura de aceitar. – E eu sei que o Eric foi um cafajeste com você nos últimos meses. Mas desde a adolescência ele teve apenas uma namorada. Então, é de se imaginar que, o que ele está sentindo, seja tão intenso quanto o que você está.
Eva encarou o chão novamente, tentando conter o semblante que trazia o medo de encarar, tanto a realidade que estava se desdobrando, quanto as mudanças drásticas que ela traria.
Se ela e Eric decidissem se deixar, quantas outras pessoas seriam afetadas no processo? Afinal, era um relacionamento de mais de quinze anos. Tanto a família dela quanto a dele estavam profundamente envolvidas. E o pior de tudo. A família de Eric era a mesma de Jonathan. Como ela seria capaz de lidar com o julgamento que eles fariam dela? Os eventos familiares seriam um inferno. Isso sem contar com o julgamento que sua própria família faria ao descobrir que ela havia deixado de Eric para se entregar cegamente ao seu primo, doze anos mais novo.
— O que eu faço? – Perguntou Eva a Melissa, deixando a angústia da dúvida se traduzir em um par de lágrimas que rolaram bochecha a baixo.
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