— Hm! – Eva suspirou, mais sedutoramente do que realmente precisava, depois de engolir um pequeno pedaço do carré. – Isso não pode ter sido preparado por mãos humanas. É simplesmente impossível.
Marcos sorriu, levando a taça à boca enquanto encarava, despudoradamente, os movimentos dos lábios convidativos de Eva. Ela percebia que, por mais que ele tentasse manter o contato visual enquanto eles conversavam, seus olhos passeavam constantemente por lugares que, sem sombra de dúvidas, deviam lhe ser um tanto mais interessantes. Não que Eva não gostasse.
— Como ia dizendo... – Ela fez sinal para que Marcos continuasse o que vinha contando quando percebeu seus olhos descerem até o seu perigoso e quente decote. –... quantos projetos acha que ele vai querer?
Marcos pareceu ser arrancado de uma breve condição hipnótica, voltando um olhar surpreso para o rosto de Eva. Ela sorriu em resposta, concedendo-lhe um aval silencioso para que continuasse a olhar, mas que estivesse informado de que ela estava, definitivamente, ciente de seus intentos.
— Ah, claro. – Ele continuou. – Bom, o projeto inicial se resume a cinco prédios em cinco capitais. Ele não deixou claro quais, exatamente, mas pelo que entendi, cada um dos prédios terá cinco tipos diferentes de apartamento, que vão variar do básico à cobertura presidencial. Então, até onde sei, serão, pelo menos, de seis a dez projetos por prédio, pois cada um deles possuirá um tema específico que será levado em consideração na arquitetura, na decoração e nos móveis. Isso, somente para começar.
Eva sentiu o entusiasmo crescer em seu peito com aquela prospecção.
— Eu o convenci a fazer todos os projetos com você. – Marcos deu uma piscadela.
Eva deu outra garfada, levando um pouco do cuscuz ricamente temperado à boca e suspirando enquanto o saboreava.
— Hm! – Começou a falar, mas parou para terminar de mastigar e engolir. – Eu te devo essa, Marcos. De verdade.
Ele ergueu uma sobrancelha, portando um sorrisinho sacana no canto da boca, claramente pensando em fazer algum comentário, mas se conteve.
— Eva, eu apenas mostrei os seus projetos. – Ele girou a taça de vinho pela haste. – Para ser sincero, precisei apenas o convencer a olhar o seu incrível portfólio. Além do mais, não deveria me agradecer ainda. Ele consegue ser um cliente ainda mais chato do que eu.
Eva deu uma risadinha, escondendo a boca que acabara de sorver um gole de seu vinho. Quando abriu seus brilhantes olhos azuis, pescou os de Marcos nos seus, o que acabou por desencadear uma longa encarada, seguida por um tenso silêncio que parecia querer incendiar todo o local. A boca de Marcos passou do sorriso descontraído à seriedade, assim como a dela.
Eva sentiu as maçãs do seu rosto se aquecerem intensamente.
Quando ela deu por si, tinha o pingente em forma de gota passeando entre o indicador e o polegar. A imagem de Jonathan veio à sua cabeça, a obrigando a desviar o olhar e fugir daquela armadilha. Ela sentia seu corpo completamente aquecido de excitação e, sendo sincera consigo mesma, adorava saber que Marcos a desejava. Jonathan, até mesmo, já a havia incentivado a viver suas próprias aventuras. Como ele mesmo havia dito, não deveria deixar que os ciúmes dele a freassem. Ao menos, não nesse momento. Mas o que exatamente ele queria dizer com “nesse momento”? Será que ele nutria mesmo a esperança de que aquele momento que os dois vinham vivendo se perpetuasse? Por que, mesmo tendo o aval de Jonathan, suas defesas pareciam estar tão erguidas?
Eva tentou espantar a imagem de seu amante da cabeça, tomando um massivo gole de vinho, esvaziando a taça e levando a mão ao decantador para reabastecer.
Seu corpo pareceu paralisar por um momento quando sentiu algo a tocar sua perna, que se encontrava cruzada sobre a outra por sob a mesa, estreita o suficiente para uma conversa íntima. O coração bateu, descompassado e ela captou Marcos a observá-la de maneira analítica e lupina, como se medisse sua reação.
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