O pecado original romance Capítulo 71

O 8ball Music Bar não ficava tão longe do apartamento e, quando Jonathan pôs seu pé para dentro da porta, deparou-se com um ambiente divertido e barulhento. Um homem cantava uma tentativa da música "Yellow" do Coldplay num pequeno palco a um dos cantos do local. Jonathan cantarolou a música enquanto caminhava pelo salão escuro à procura dos fartos cachos de Melissa. Letreiros de neon iluminavam as paredes em tijolos à vista, dando ao local uma ambientação rústica e retrô. As cadeiras e mesas eram desencontradas, como se tivessem sido compradas ao longo de vários anos em lugares diferentes e as pilastras ao longo do salão eram decoradas com cartazes e placas de bandas e eventos de outras épocas.

- Ei. – Melissa se aproximou de Jonathan pelas costas e segurou em seu braço. – Estamos ali naquele canto.

Ela apontou para um local onde um grupinho de homens e mulheres se reunia ao redor de uma mesa repleta de canecos e guiou Jonathan até lá.

- Pessoal. – Ela chamou a atenção dos presentes. – Este é o Jonathan. Jonathan, este é o pessoal.

Jonathan estendeu a mão para cumprimentar os presentes e puxou uma cadeira para si. As idades dos que estavam à mesa pareciam variar dos vinte aos quarenta, sendo uma mocinha miúda, de pele e olhos claros, a mais nova e um homem barbudo, de tez e olhos escuros e de rosto redondo que estava abraçado a outro homem, o mais velho.

Melissa se sentou ao lado de Jonathan e levantou o indicador, chamando o garçom, que passava por ali, apressado.

O rapaz parou de frente para Melissa, fazendo sinal para um homem em outra mesa.

- Para você? – Perguntou, levando a mão até a comanda que lhe era estendida.

Melissa sorriu para Jonathan e depois se voltou para o garçom.

- Desce um chopp para o meu amigo aqui, que hoje é dia de afogar as mágoas. – Ela riu, animada, levando seu caneco à boca e sorvendo um gole.

Uma salva de palmas, seguida de assovios, gritos e muita bagunça se deu quando o homem que cantava no palco finalizou sua música, passando o microfone para uma mulher que subiu, sorridente.

- Isso é um karaokê? – Jonathan não havia se dado conta até então.

- É claro, gênio. – Ela riu. – Ou achou que aquele cara estava sendo pago para espantar os clientes?

Jonathan corou, percebendo, só então, que a resposta era mesmo óbvia.

- Por que não foi junto com a Eva? – Melissa perguntou, desprovida de maneirismos, aparentemente, já sabendo a resposta.

Jonathan suspirou, caindo na armadilha. A ansiedade e a angústia voltando, avassaladoras.

- Teoricamente, era uma reunião de trabalho. – Mentiu, olhando em volta e tentando espantar o assunto - Não tinha porque eu ir.

Melissa torceu sua boca, se compadecendo do rapaz.

- Jonathan. – Ela levou a mão adiante, segurando os dedos enormes do rapaz entre os seus. – Você não acredita mesmo nisso, não é?

Jonathan puxou sua mão, desvencilhando-se do toque de Melissa, encarando-a com ar ofendido.

- Afinal, me chamou aqui para me animar, ou deixar minha noite ainda pior? – Ele parecia mal-humorado.

Melissa suspirou, como se ponderasse sobre uma maneira de iniciar um assunto sem parecer invasiva demais.

- Olha só. Como eu posso te dizer? – Ela começou, parando para pensar.

- Vai me dizer que ela só está querendo aproveitar a vida ao máximo? – Ele aumentou o tom de voz. – Que eu sou um menininho ingênuo que serve como ferramenta para a diversão dela? Esquece, Melissa. Eu sei me cuidar, tá legal?

Ela bufou, impaciente.

- Não, burro. – Jonathan arregalou seus olhos, indignado com aquela ofensa. – Acontece que, em mais de vinte anos, eu nunca vi a Eva olhar para alguém como ela olha para você.

Aquela última frase havia pego o rapaz de surpresa, personificando, em seu semblante, uma enorme interrogação.

A mulher no palco, havia escolhido "Make Believe" do Angra para cantar. A melodia se iniciou calma, com um solo de piano, lançando sobre o salão, uma aura de serenidade.

- Então não entendo o que você quer. – Jonathan deu de ombros.

- A Eva sempre foi insegura de si. - Ela começou novamente, de maneira paciente. – Repleta de gatilhos, bloqueios e por aí vai.

Jonathan ergueu uma das sobrancelhas, lembrando-se dos primeiros dias em que havia convivido com Eva e da maneira como ela parecia tão segura de si enquanto o provocava.

- Só que desde que você apareceu, alguma coisa nela mudou drasticamente. Eu não sei, exatamente, qual a poção mágica que você deu a ela. – Ela tomou mais um gole do chopp em seu caneco, rindo para o rapaz com os olhos enquanto bebia. – Mas essa Eva, livre, cheia de si, esplendorosa me parece infinitamente mais feliz do que a Eva anterior.

Jonathan deu de ombros novamente, não entendendo exatamente aonde Melissa queria chegar.

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