Resumo do capítulo Capítulo 19 do livro Perdição de Vizinho de Alê Santos
Descubra os acontecimentos mais importantes de Capítulo 19, um capítulo repleto de surpresas no consagrado romance Perdição de Vizinho. Com a escrita envolvente de Alê Santos, esta obra-prima do gênero Romance continua a emocionar e surpreender a cada página.
Deixa que eu seja eu
E aceita o que seja seu
Então deita e aceita eu
Beija Eu - Silva
(...)
Ella
— Para tudo! Ele fez o quê? — Oliver, Barbara e Alexia perguntam ao mesmo tempo, com os olhos arregalados. Gritam, na verdade.
E como se não bastasse, Oliver com seu jeito espalhafatoso, ainda bate na mesa com as duas mãos, num lugar mega lotado como o restaurante em que estamos almoçando. Escondo meu rosto, sem querer olhar ao redor, porque tenho certeza que todos estão olhando em nossa direção.
— Pelo amor de qualquer coisa, se contenham… — os repreendo, dizendo entredentes, quase sem mover os lábios.
— Tô passada! Tô bege, tô bege, tô rosa-chiclete — meu amigo cantarola — Olha, tô até arrepiado. — ele ergue o braço direito e passa o dedo incador por cima, a uma certa distância.
Não consigo conter a risada.
— Amiga, conta tudo! Como… — Barbara se atrapalha nas palavras, tão pasma quanto os outros dois — Ele te convidou assim, do nada?
— Não foi exatamente do nada… — digo, enquanto abro a embalagem do picolé que escolhi como sobremesa, já que o clima hoje deu uma aquecida.
— Amada, sem rodeios — Alexia estala os dedos duas vezes na frente do rosto — Vamos, conte tudo e não esconda nada, não nos prive de uma boa fofoca.
— Ok, eu tive que ir lá no apartamento dele pegar o urso que ganhei no dia anterior, quando saímos juntos — não dou detalhes sobre minha saída com o Justin porque já havia contado — Não fiquei muito tempo lá, foi uma visita breve, mas longa o suficiente para vê-lo peladão e para ele me fazer o tal convite, quando estávamos na porta.
— E depois desse convite, você ainda acha que ele não quer nada sério? Ah, para né, Ella. — Barbara comenta.
— Eu não sei, Babi. Juro que não sei o que pensar. Ele confunde minha mente e tudo o que eu pensava sobre a vida, sobre tudo. — dou pequenas mordicdas no picolé.
— Eis a questão que você ainda não entendeu. Nem tudo nessa vida é sobre o que pensamos, as vezes a gente precisa de alguém que chegue para nos arrasar, nos tirar do eixo, bagunçar tudo mesmo, em todos os sentidos. — Alexia comenta e, mesmo não querendo dar o braço a torcer por puro medo, sei que ela tem razão.
— Ele é bom de cama? — Barbara pergunta, quase me fazendo engasgar com último pedaço do picolé.
Fico surpresa, não pela pergunta, mas com a pessoa que a fez. Esperava isso do Oliver e da Alexia, menos de quem veio. A Barbara é mais na dela, mais tranquila com esses assuntos.
— Estamos esperando, gata. — Oliver chama minha atenção, com os cotovelos sobre a mesa e o queixo repousado nas mãos cruzadas.
Limpo minha boca com guardanapo e respiro fundo antes de respondê-los.
— Nem que eu quisesse, poderia dizer que não. Sei que não deveria estar comparando os dois, mas com o Marcelo era mais aquela euforia, sabe? Éramos como dois adolescentes no auge da junventude, descobrindo os prazeres da vida a dois. Com o Justin, não sei explicar… É uma atração que sinto em todas as partes do meu corpo, sempre que o vejo sinto a porcaria das borboletas do estômago, se é que podemos chamar assim. É como se eu perdesse totalmente o controle sobre mim mesma e minhas acões.
Assim que concluo minha fala, vejo-os sorrindo. Mas não é um sorriso malicioso, pelo contrário, parece um gesto de felicidade, como se fosse música para os ouvidos deles o que acabo de dizer.
— Porque estão me olhando assim?
— Amiga, acho que… — Barbara começa, mas faz uma breve pausa, comprimindo os lábios — Acho que você está se apaixonando.
Abro a boca para tentar contestá-la, porém, não consigo. E sinto raiva de mim mesma por isso.
— Olha quem está aqui! — Oliver diz com euforia e os olhos brilhando.
Ergo os olhos na direção em que estão olhando e me deparo com ninguem menos que meu vizinho. Puta merda!
Minhas mãos começam suar e balanço as pernas impacientemente, batendo uma na outra repetidamente.
Deslizo na cadeira, tentando me esconder dele.
— O que está fazendo? — Alexia pergunta, vendo a posição em que estou.
— Não quero que ele me veja, vai querer saber a resposta sobre o convite e eu ainda não sei o que dizer. — respondo quase sussurrando.
Alexia revira os olhos.
— Tenha dó, Ella. Seja madura. Primeiro, ele não me parece ser o tipo de cara que faz uma pessoa passar vergonha ou ficar intimidada e, segundo, se isso vier a acontecer, é só você dizer a verdade, que ainda não decidiu. Simples. — dá de ombros.
Volto a sentar normalmente, não tenho a intenção de permitir que ele tenha todo esse poder sobre mim.
De tanto meus amigos o encararem, Justin acaba percebendo e desviando sua atenção do Nando — que o está acompanhando — para a nossa mesa. Ele vê primeiro o trio e continua varrendo o lugar, aparentemente procurando por mim. Quando nossos olhares se encontram, ele meneia brevemente a cabeça, dando aquele sorriso perfeito e encantador, fazendo meu coração acelerar. Tem algo diferente nele, não está com aquele ar de desejo, como se me despisse inteira somente em me olhar. Mas parece contente em me ver, assim como, não posso negar que estou ao vê-lo.
Terminamos nosso almoço e pedimos a conta. Na saída, foi meio que inevitável não olhar para a mesa onde Justin e Nando estavam sentados. Fomos educados em dar um breve aceno de cabeça a eles, que retribuíram da mesma forma, com a pequena diferença que Justin me direcionou um sorriso — que aqueceu meu coração — e Nando, por sua vez, deu um sorriso sacana para o amigo. Isso me fez rir internamente.
O resto do dia foi rotineiro, nada além de diversos casos empilhados em minha mesa para resolver. Trabalho na área civil e, por obra do destino ou sei lá o quê, os casos que mais atendo são de divórcio. E depois do meu divórcio, precisei trabalhar muito a minha mente para conseguir separar o lado pessoal do profissional e não permitir que nada intervisse em minha profissão. Advogar não é o que eu faço, é o que eu sou. É uma parte de mim e não seria um fracasso da minha vida que iria acabar com a melhor parte de mim. A única coisa boa que me restou.
Finalizo meus afazeres por hoje, pois, já estou exausta. Fecho o notebook, retiro o óculos de descanso, que uso para leituras e movo o pescoço de um lado para o outro, fazendo estalar, devido a estar na mesma posição durante horas.
— Bora tomar uma hoje? — Alexia propõe, olhando para nós.
— Dispenso — respondo, à medida que pego mexo em minha bolsa — Tenho um encontro marcado com a academia hoje, estou sedentária há dias. Não faço ideia de como ainda consigo subir uma escada.
— Espero que o motivo realmente seja a academia e não um certo gostoso… — Oliver comenta com sarcasmo.
Reviro os olhos.
— Fique tranquilo, meu anjo. Nada de o ar-condicionado no quinze e a gente suando, hoje. — cantarolo um trecho da música de Wesley Safadão, em meio a uma risada nasal.
— Tudo bem, amiga. — Barbara diz, parecendo contente e eu conheço bem esse sorriso.
Sempre que um deles ou os três fazem isso, mesmo tentando deixar implícito, estão me dizendo: fico feliz que esteja vivendo.
— Beijo, beijo — já na porta, solto dois beijos no ar em direção a eles — Se divirtam por mim.
Eles retribuem o gesto, então eu saio. Esse horário o prédio fica praticamente vazio, então facilita até mesmo para tirar o carro do estacionamento. Aperto o botão e o som de destravamento soa. Entro no veículo e manobro para sair.
(...)
Procuro por uma vaga no meio-fio, onde há alguns carros, motos e bicicletas estacionados. Por sorte, encontro uma. Estico a mão para o lado, pegando minha bolsa no banco do passageiro e sigo para a entrada. Ao passar pela recepção, desejo boa noite à recepcionista e pego a programação contendo a série de exercícios que farei. Vou até o banheiro para trocar de roupa, retiro o macacão de dentro da bolsa e, antes de me vestir, prendo os cabelos com um elástico, em um rabo de cavalo alto.
Guardo a bolsa em um dos armários com chave e, segurando a garrafa de água, caminho até a esteira, mexo no painel, programando a velocidade, coloco os fones de ouvido e me concentro em correr. Após alguns minutos, paro, suada e ofegante. Bebo um pouco de água, sentindo a saliva grossa na boca.
Um cutucão de leve em meu braço direito, me faz olhar na direção de quem quer que seja. Sorrio ao me deparar com o instrutor da academia e, também, professor de dança. Retiro os fones, deixando os fios caírem por meus ombros.
— Pensei que não te veria mais aqui… Achei que tinha se matriculado em outro lugar. — diz abrindo os braços e sorrindo contente em me ver.
— Jamais! Só estive atarefada demais ultimamente, sem ânimo algum para nada. Mas e você, como está? — me aproximo para um abraço.
— Se quiser, sim.
— Deixa só eu trocar de roupa, não pretendo chamar a atenção desse jeito. — aponto para o meu corpo envolvido na malha justa, completamente colada devido ao suor excessivo.
— Se estivéssemos sozinhos não seria nada mal. — sua voz soa carregada de malícia e dá um sorriso sexy de canto.
Não me incomodo, pelo contrário, fico contente em ver que a besteira que fiz não afetou seu humor. Me direciono ao banheiro, troco de roupa rapidamente, passo um pouco de água no pescoço, rosto e entre os seios, secando com um papel e passando lenço umedecido depois — para deixar um cheirinho agradável. Ergo um dos braços, cheirando a axila, me certificando de não estar com "CC", então retorno para onde o deixei.
Não encontro Justin, vou até a recepção e a moça me informa que ele está do lado de fora me esperando. Confirmo a informação recebida, assim que coloco os pés para fora, além de sentir a rajada de ar frio no rosto, vejo meu vizinho sorrir para mim.
Entramos em nossos carros e eu o sigo logo atrás, já que não faço ideia de para onde irá me levar e, vindo dele, posso imaginar os lugares mais inusitados. Ele para em frente a uma lanchonete que serve cachorro-quente. Confesso que o Justin está me saindo melhor do que encomenda, porque eu esperava qualquer coisa, menos isso.
Sem pensar demais, estaciono o carro e saio, pegando minha bolsa. Sentamos numa das poucas mesas distribuídas na área externa e, imediatamente, fecho os olhos, balançando o corpo ao som de João Gomes, a música que está tocando.
Pedimos um cachorro-quente para cada, depois acabei pedindo mais um, porque estava muito delicioso.
— Eu juro que não te trouxe aqui pra isso, mas preciso saber se você já tem a resposta sobre o meu convite… — iria respondê-lo, mas ele me impede, colocando a mão aberta em frente ao meu rosto — Só pra você saber, estou meio que te pressionando porque ainda não comentei com meus pais que, possivelmente, eu levaria alguém. Minha mãe é do tipo extremamente organizada, então ficaria puta comigo se eu não a preparasse para receber uma visita. — ele ri, mexendo os ombros, parecendo imaginar a reação da mãe.
— Não sei, Justin… Parece precoce demais, nós dois não temos nada. O que seus pais dirão quando me ver chegando lá?
— Como assim, não temos nada? Amizade não é nada? — ele põe a mão no peito, fazendo drama, como se estivesse ofendido.
— Não é isso, você entendeu. É que… — sou interrompida pelo som de notificação do celular.
Ergo o dedo indicador em riste, pedindo licença para ver o que é. Alguns clientes — os mais chatos, é claro — costumam me enviar mensagem e, se eu não responder, me ligam. Então, decido olhar do que se trata.
Meu coração dispara, batendo freneticamente, assim que vejo o que é. Meus lábios se entreabrem. Meu ex marido, o Marcelo, acaba de enviar uma solicitação de amizade em meu facebook.
Respiro fundo, tentando não deixar a raiva me tomar.
— Tá tudo bem? — Justin toca em minha mão por cima da mesa, fazendo-me olhá-lo.
— Não, não tá nada bem, tá tudo errado. Droga! — imediatamente, fecho a página do facebook e bloqueio o celular, querendo me livrar desse fantasma.
— Está me assustando, Ella… — sua voz e olhar estão carregados de preocupação.
Passo a mão na testa, engolindo em seco e soltando uma lufada de ar, contando de um até dez mentalmente.
— Desculpa por isso… Meu ex me enviou uma solicitação de amizade no facebook. O que ele quer? Acabar com minha paz, depois de tanto tempo? — sem querer, despejo minha frustração nele — Desculpa, eu não deveria…
— Ei! Respira. Tá tudo bem. Que ele é um babaca, eu já sei. Não importa a razão, ele é uma babaca e pronto. — ele diz em tom de brincadeira, descontraindo o momento.
Dou uma risada nasal, meio sem graça.
— Você é uma figura… — balanço a cabeça para os lados em meio a um riso contido.
— Pelo menos serviu para te fazer sorrir — pisca para mim e sorri. Esse simplea gesto faz meu coração aquecer de um jeito delicioso — Esse é só mais um motivo para ir comigo. Vem comigo, Ella. É disso que você tá precisando, espairecer, esquecer os problemas. Então…?
Analiso suas palavras e percebo que ele tem razão. Às vezes, tudo o que precisamos é respirar novos ares.
— Tudo bem, eu vou. — meneio a cabeça em concordância e vejo um sorriso de satisfação nascer em seu rosto.
Ainda não consigo entender esse sentimento que toma conta do meu ser, sempre que estamos juntos. É algo completamente novo para mim. É bom, mas ao mesmo tempo, assustador. Não sei o que pensar, nem como reagir a isso. Desperto dos meus devaneios e aproveito o restante da noite junto a esse homem enigmático.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Perdição de Vizinho
Lindo, estou chorando 😢 😢 até agora...