Perdição de Vizinho romance Capítulo 20

Deixa que eu seja eu

E aceita o que seja seu

Então deita e aceita eu

Beija Eu - Silva

(...)

Ella

— Para tudo! Ele fez o quê? — Oliver, Barbara e Alexia perguntam ao mesmo tempo, com os olhos arregalados. Gritam, na verdade.

E como se não bastasse, Oliver com seu jeito espalhafatoso, ainda bate na mesa com as duas mãos, num lugar mega lotado como o restaurante em que estamos almoçando. Escondo meu rosto, sem querer olhar ao redor, porque tenho certeza que todos estão olhando em nossa direção.

— Pelo amor de qualquer coisa, se contenham… — os repreendo, dizendo entredentes, quase sem mover os lábios.

— Tô passada! Tô bege, tô bege, tô rosa-chiclete — meu amigo cantarola — Olha, tô até arrepiado. — ele ergue o braço direito e passa o dedo incador por cima, a uma certa distância.

Não consigo conter a risada.

— Amiga, conta tudo! Como… — Barbara se atrapalha nas palavras, tão pasma quanto os outros dois — Ele te convidou assim, do nada? 

— Não foi exatamente do nada… — digo, enquanto abro a embalagem do picolé que escolhi como sobremesa, já que o clima hoje deu uma aquecida.

— Amada, sem rodeios — Alexia estala os dedos duas vezes na frente do rosto — Vamos, conte tudo e não esconda nada, não nos prive de uma boa fofoca. 

— Ok, eu tive que ir lá no apartamento dele pegar o urso que ganhei no dia anterior, quando saímos juntos — não dou detalhes sobre minha saída com o Justin porque já havia contado — Não fiquei muito tempo lá, foi uma visita breve, mas longa o suficiente para vê-lo peladão e para ele me fazer o tal convite, quando estávamos na porta.

— E depois desse convite, você ainda acha que ele não quer nada sério? Ah, para né, Ella. — Barbara comenta.

— Eu não sei, Babi. Juro que não sei o que pensar. Ele confunde minha mente e tudo o que eu pensava sobre a vida, sobre tudo. — dou pequenas mordicdas no picolé.

— Eis a questão que você ainda não entendeu. Nem tudo nessa vida é sobre o que pensamos, as vezes a gente precisa de alguém que chegue para nos arrasar, nos tirar do eixo, bagunçar tudo mesmo, em todos os sentidos. — Alexia comenta e, mesmo não querendo dar o braço a torcer por puro medo, sei que ela tem razão.

— Ele é bom de cama? — Barbara pergunta, quase me fazendo engasgar com último pedaço do picolé.

Fico surpresa, não pela pergunta, mas com a pessoa que a fez. Esperava isso do Oliver e da Alexia, menos de quem veio. A Barbara é mais na dela, mais tranquila com esses assuntos.

— Estamos esperando, gata. — Oliver chama minha atenção, com os cotovelos sobre a mesa e o queixo repousado nas mãos cruzadas.

Limpo minha boca com guardanapo e respiro fundo antes de respondê-los.

— Nem que eu quisesse, poderia dizer que não. Sei que não deveria estar comparando os dois, mas com o Marcelo era mais aquela euforia, sabe? Éramos como dois adolescentes no auge da junventude, descobrindo os prazeres da vida a dois. Com o Justin, não sei explicar… É uma atração que sinto em todas as partes do meu corpo, sempre que o vejo sinto a porcaria das borboletas do estômago, se é que podemos chamar assim. É como se eu perdesse totalmente o controle sobre mim mesma e minhas acões. 

Assim que concluo minha fala, vejo-os sorrindo. Mas não é um sorriso malicioso, pelo contrário, parece um gesto de felicidade, como se fosse música para os ouvidos deles o que acabo de dizer.

— Porque estão me olhando assim? 

— Amiga, acho que… — Barbara começa, mas faz uma breve pausa, comprimindo os lábios — Acho que você está se apaixonando. 

Abro a boca para tentar contestá-la, porém, não consigo. E sinto raiva de mim mesma por isso. 

— Olha quem está aqui! — Oliver diz com euforia e os olhos brilhando.

Ergo os olhos na direção em que estão olhando e me deparo com ninguem menos que meu vizinho. Puta merda!

Minhas mãos começam suar e balanço as pernas impacientemente, batendo uma na outra repetidamente.

Deslizo na cadeira, tentando me esconder dele.

— O que está fazendo? — Alexia pergunta, vendo a posição em que estou.

— Não quero que ele me veja, vai querer saber a resposta sobre o convite e eu ainda não sei o que dizer. — respondo quase sussurrando.

Alexia revira os olhos.

— Tenha dó, Ella. Seja madura. Primeiro, ele não me parece ser o tipo de cara que faz uma pessoa passar vergonha ou ficar intimidada e, segundo, se isso vier a acontecer, é só você dizer a verdade, que ainda não decidiu. Simples. — dá de ombros.

Volto a sentar normalmente, não tenho a intenção de permitir que ele tenha todo esse poder sobre mim.

De tanto meus amigos o encararem, Justin acaba percebendo e desviando sua atenção do Nando — que o está acompanhando — para a nossa mesa. Ele vê primeiro o trio e continua varrendo o lugar, aparentemente procurando por mim. Quando nossos olhares se encontram, ele meneia brevemente a cabeça, dando aquele sorriso perfeito e encantador, fazendo meu coração acelerar. Tem algo diferente nele, não está com aquele ar de desejo, como se me despisse inteira somente em me olhar. Mas parece contente em me ver, assim como, não posso negar que estou ao vê-lo.

Terminamos nosso almoço e pedimos a conta. Na saída, foi meio que inevitável não olhar para a mesa onde Justin e Nando estavam sentados. Fomos educados em dar um breve aceno de cabeça a eles, que retribuíram da mesma forma, com a pequena diferença que Justin me direcionou um sorriso — que aqueceu meu coração — e Nando, por sua vez, deu um sorriso sacana para o amigo. Isso me fez rir internamente.

O resto do dia foi rotineiro, nada além de diversos casos empilhados em minha mesa para resolver. Trabalho na área civil e, por obra do destino ou sei lá o quê, os casos que mais atendo são de divórcio. E depois do meu divórcio, precisei trabalhar muito a minha mente para conseguir separar o lado pessoal do profissional e não permitir que nada intervisse em minha profissão. Advogar não é o que eu faço, é o que eu sou. É uma parte de mim e não seria um fracasso da minha vida que iria acabar com a melhor parte de mim. A única coisa boa que me restou.

Finalizo meus afazeres por hoje, pois, já estou exausta. Fecho o notebook, retiro o óculos de descanso, que uso para leituras e movo o pescoço de um lado para o outro, fazendo estalar, devido a estar na mesma posição durante horas.

— Bora tomar uma hoje? — Alexia propõe, olhando para nós.

— Dispenso — respondo, à medida que pego mexo em minha bolsa — Tenho um encontro marcado com a academia hoje, estou sedentária há dias. Não faço ideia de como ainda consigo subir uma escada. 

— Espero que o motivo realmente seja a academia e não um certo gostoso… — Oliver comenta com sarcasmo.

Reviro os olhos.

— Fique tranquilo, meu anjo. Nada de o ar-condicionado no quinze e a gente suando, hoje. — cantarolo um trecho da música de Wesley Safadão, em meio a uma risada nasal.

— Tudo bem, amiga. — Barbara diz, parecendo contente e eu conheço bem esse sorriso.

Sempre que um deles ou os três fazem isso, mesmo tentando deixar implícito, estão me dizendo: fico feliz que esteja vivendo.

— Beijo, beijo — já na porta, solto dois beijos no ar em direção a eles — Se divirtam por mim.

Eles retribuem o gesto, então eu saio. Esse horário o prédio fica praticamente vazio, então facilita até mesmo para tirar o carro do estacionamento. Aperto o botão e o som de destravamento soa. Entro no veículo e manobro para sair. 

(...)

Procuro por uma vaga no meio-fio, onde há alguns carros, motos e bicicletas estacionados. Por sorte, encontro uma. Estico a mão para o lado, pegando minha bolsa no banco do passageiro e sigo para a entrada. Ao passar pela recepção, desejo boa noite à recepcionista e pego a programação contendo a série de exercícios que farei. Vou até o banheiro para trocar de roupa, retiro o macacão de dentro da bolsa e, antes de me vestir, prendo os cabelos com um elástico, em um rabo de cavalo alto.

Guardo a bolsa em um dos armários com chave e, segurando a garrafa de água, caminho até a esteira, mexo no painel, programando a velocidade, coloco os fones de ouvido e me concentro em correr. Após alguns minutos, paro, suada e ofegante. Bebo um pouco de água, sentindo a saliva grossa na boca.

Um cutucão de leve em meu braço direito, me faz olhar na direção de quem quer que seja. Sorrio ao me deparar com o instrutor da academia e, também, professor de dança. Retiro os fones, deixando os fios caírem por meus ombros.

— Pensei que não te veria mais aqui… Achei que tinha se matriculado em outro lugar. — diz abrindo os braços e sorrindo contente em me ver.

— Jamais! Só estive atarefada demais ultimamente, sem ânimo algum para nada. Mas e você, como está? — me aproximo para um abraço.

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