Perdição de Vizinho romance Capítulo 22

Hábitos do meu coração

Eu não posso dizer não

Está me rasgando ao meio

Você está muito perto

Habits Of My Heart - Jaymes Young

(...)

Justin

Quero me manter distante, porque sinto que posso fazer mal a ela a qualquer momento, como se minha mente me alertasse a todo instante sobre o que aconteceu no passado. Às vezes, sinto ondas de desespero querendo me tomar, me puxar para si e, por mais que eu tente me manter firme e de pé, não consigo. É mais forte do que eu. Mas então, eu vejo a imagem mais perfeita a minha frente, a pessoa, que por alguma razão tem feito meu coração disparar, que tem feito com que tudo o que penso a respeito de mim mesmo, vá por água abaixo.

Somente em vê-la sorrir, em tê-la por perto, para mim já é o suficiente. Jamais imaginei que desejaria outra mulher dessa forma, outra vez. E não, não me refiro ao desejo carnal, a atração sexual — que obviamente sentimos um pelo outro, ainda que tentemos negar — me refiro a algo mais, a troca sucinta de olhares, em como me sinto bem em estar com ela, em como fico ansioso somente em pensar nela, na maneira como sorrio feito um idiota desde que passamos a conversar pelo whatsapp.

Droga! Eu não posso estar apaixonado. Não depois de… Depois de tudo o que aconteceu.

Dizem que por toda a vida só amamos uma pessoa. E eu já tive a experiência de amar e ser amado, de sentir como se meu coração fosse explodir a qualquer momento em que eu estava longe dela. Até que tudo aconteceu e eu mudei completamente.

— Um dólar por seus pensamentos. — Ella senta ao meu lado, na ponta da espreguiçadeira, segurando uma lata de cerveja em uma das mãos, usando um biquíni que deixa seus seios ainda mais apetitosos.

— Dólar? Sabe que a moeda brasileira é o real, né? — pergunto em tom de brincadeira e me afasto um pouco, lhe dando mais espaço.

— Sei sim, mas eu sempre quis falar isso — dá de ombros e bebe a cerveja — Então, no que estava pensando tanto? Qualquer um podia sentir de longe as faíscas saindo de sua cabeça.

— Em você. — lhe dou uma resposta direta, a encarando intensamente e vejo-a engolir em seco.

— Tá brincando, né?

— Não. — arqueio as sobrancelhas, confirmando que estou falando sério.

— Por que estaria pensando em mim? Está com sua família, com as pessoas que ama, acabamos de nos falar, não faz sentido… — ela fala descontroladamente, parecendo nervosa.

— Isso te assusta? — pergunto com um sorriso presunçoso de canto, sem mostrar os dentes.

Ela passa a língua nos lábios lentamente, acompanho seus movimentos com os olhos.

— Sim.

— Ótimo! Porque também me assusta. — ela me olha intrigada, como se tentasse me decifrar.

— Há quanto tempo seu irmão e sua cunhada são casados? — muda de assunto subitamente.

Dou uma risada nasal, achando graça da situação.

— Digamos que eles não são exatamente casados… Eles namoravam, daí meu irmão a engravidou e como minha mãe costuma dizer: apenas juntaram os panos de bunda — ela dá uma risada gostosa, inclinando a cabeça para trás. Acabo sendo contagiado — Nunca ouviu isso?

— Sim, claro que já ouvi — respira fundo, se recompondo da crise de risos — É que essa frase fica muito engraçada vinda de você. — se descontrola, voltando a rir.

Balanço a cabeça para os lados, sorrindo em vê-la tão leve e contente. Sem estar na defensiva. Ela é linda. Especialmente sob a luz do sol refletida em seu rosto.

— Por que está me olhando assim? 

— Assim como? Tem algo especial na minha forma de olhar? — a desafio.

— Sim, está olhando como se… 

— Como se fosse a mulher mais linda que já vi? — ela entreabre os lábios ao ouvir minha resposta e vejo seu peito subir e descer freneticamente.

Encaro sua boca carnuda, pedindo por um beijo. A vontade que tenho de beijá-la é imensa. Estamos sozinhos, o calor parece aumentar, sinto ondas de eletricidade em todo meu corpo. Sento, porque até então estava praticamente deitado, ajeito minha coluna, me aproximando dela, com as pernas para fora da espreguiçadeira. Divido meu olhar entre seus olhos e lábios e noto Ella fechar os olhos, como se também desejasse esse beijo.

Sorrio brevemente sem mostrar os dentes e coloco a mão direita em sua bochecha, acariciando, então deslizo meu dedo polegar por seus lábios, massageando o inferior. Quando iria me aproximando para finalmente beijá-la, ouço o som de passos. Todos que estavam lá dentro, após o almoço, decidiram vir para fora justamente agora. Suspiro frustrado, porque não posso fazer isso e expor a Ella. Sei que ela não se agradaria.

Ela abre os olhos e percebe que há mais pessoas por perto, mas parece tão frustrada quanto eu.

— Esperamos não estar atrapalhando nada. — mamãe comenta, sorrindo.

— Só estávamos conversando. — respondo.

— Então, Ella… — minha mãe, a tagarela em pessoa, puxa uma das espreguiçadeiras e senta perto de nós — O que você faz? 

— Sou advogada e das melhores. — responde em tom de gabação, fazendo todos rirem.

— Deve ser durona, tem cara de durona. — Jordan comenta, sorrindo.

— Você nem imagina o quanto, cara. — brinco.

— Já a viu em ação? — Jordan pergunta com expectativa no olhar.

— Nem precisei, só em ser amigo dela, já é enfrentar uma grande batalha. 

— Viu aí? Eu disse. — ele ergue a mão, em sinal de confirmação.

— Como se conheceram? — Desiree pergunta, nos pegando de surpresa, porque esse é o tipo de informação que se pergunta a um casal e, definitivamente, não somos um.

— Moramos no mesmo condomínio, os prédios em que moramos ficam frente a frente e, consequentemente, nossos apartamentos também. — respondo sorrindo e dividindo o olhar entre todos eles.

— Espera aí! Você ficava espiando sua vizinha pela janela, Justin? Que deselegante. — Desiree comenta, balançando a cabeça para os lados, presumindo o óbvio.

— Não me gabo disso, porém, não vou negar que fiz. 

— Aê, irmão! Mandou bem, mantendo o legado dos Coleman. — Jordan comenta brincando e ergue a mão em minha direção para um high five, mas não quero me comprometer, então o deixo no vácuo.

— Toma vergonha, Jordan. Respeite sua esposa que está bem ao seu lado. — papai o repreende, fazendo com que ele ponha a mão na nuca, sem graça.

— Toma aí, otário — rio da bronca que acabou de levar — Voltando ao assunto… Em minha defesa, foi ela quem começou. — elevo um pouco o tom de voz e levanto as mãos em sinal de rendição.

Todos os olhares se voltam para Ella, que morde o lábio inferior envergonhada.

— Como um cavalheiro, você tinha que guardar essa informação com sua vida, Justin. — ela olha para mim, sorrindo sem mostrar os dentes, com certa timidez.

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