Resumo do capítulo Capítulo 21 do livro Perdição de Vizinho de Alê Santos
Descubra os acontecimentos mais importantes de Capítulo 21, um capítulo repleto de surpresas no consagrado romance Perdição de Vizinho. Com a escrita envolvente de Alê Santos, esta obra-prima do gênero Romance continua a emocionar e surpreender a cada página.
Hábitos do meu coração
Eu não posso dizer não
Está me rasgando ao meio
Você está muito perto
Habits Of My Heart - Jaymes Young
(...)
Justin
Quero me manter distante, porque sinto que posso fazer mal a ela a qualquer momento, como se minha mente me alertasse a todo instante sobre o que aconteceu no passado. Às vezes, sinto ondas de desespero querendo me tomar, me puxar para si e, por mais que eu tente me manter firme e de pé, não consigo. É mais forte do que eu. Mas então, eu vejo a imagem mais perfeita a minha frente, a pessoa, que por alguma razão tem feito meu coração disparar, que tem feito com que tudo o que penso a respeito de mim mesmo, vá por água abaixo.
Somente em vê-la sorrir, em tê-la por perto, para mim já é o suficiente. Jamais imaginei que desejaria outra mulher dessa forma, outra vez. E não, não me refiro ao desejo carnal, a atração sexual — que obviamente sentimos um pelo outro, ainda que tentemos negar — me refiro a algo mais, a troca sucinta de olhares, em como me sinto bem em estar com ela, em como fico ansioso somente em pensar nela, na maneira como sorrio feito um idiota desde que passamos a conversar pelo whatsapp.
Droga! Eu não posso estar apaixonado. Não depois de… Depois de tudo o que aconteceu.
Dizem que por toda a vida só amamos uma pessoa. E eu já tive a experiência de amar e ser amado, de sentir como se meu coração fosse explodir a qualquer momento em que eu estava longe dela. Até que tudo aconteceu e eu mudei completamente.
— Um dólar por seus pensamentos. — Ella senta ao meu lado, na ponta da espreguiçadeira, segurando uma lata de cerveja em uma das mãos, usando um biquíni que deixa seus seios ainda mais apetitosos.
— Dólar? Sabe que a moeda brasileira é o real, né? — pergunto em tom de brincadeira e me afasto um pouco, lhe dando mais espaço.
— Sei sim, mas eu sempre quis falar isso — dá de ombros e bebe a cerveja — Então, no que estava pensando tanto? Qualquer um podia sentir de longe as faíscas saindo de sua cabeça.
— Em você. — lhe dou uma resposta direta, a encarando intensamente e vejo-a engolir em seco.
— Tá brincando, né?
— Não. — arqueio as sobrancelhas, confirmando que estou falando sério.
— Por que estaria pensando em mim? Está com sua família, com as pessoas que ama, acabamos de nos falar, não faz sentido… — ela fala descontroladamente, parecendo nervosa.
— Isso te assusta? — pergunto com um sorriso presunçoso de canto, sem mostrar os dentes.
Ela passa a língua nos lábios lentamente, acompanho seus movimentos com os olhos.
— Sim.
— Ótimo! Porque também me assusta. — ela me olha intrigada, como se tentasse me decifrar.
— Há quanto tempo seu irmão e sua cunhada são casados? — muda de assunto subitamente.
Dou uma risada nasal, achando graça da situação.
— Digamos que eles não são exatamente casados… Eles namoravam, daí meu irmão a engravidou e como minha mãe costuma dizer: apenas juntaram os panos de bunda — ela dá uma risada gostosa, inclinando a cabeça para trás. Acabo sendo contagiado — Nunca ouviu isso?
— Sim, claro que já ouvi — respira fundo, se recompondo da crise de risos — É que essa frase fica muito engraçada vinda de você. — se descontrola, voltando a rir.
Balanço a cabeça para os lados, sorrindo em vê-la tão leve e contente. Sem estar na defensiva. Ela é linda. Especialmente sob a luz do sol refletida em seu rosto.
— Por que está me olhando assim?
— Assim como? Tem algo especial na minha forma de olhar? — a desafio.
— Sim, está olhando como se…
— Como se fosse a mulher mais linda que já vi? — ela entreabre os lábios ao ouvir minha resposta e vejo seu peito subir e descer freneticamente.
Encaro sua boca carnuda, pedindo por um beijo. A vontade que tenho de beijá-la é imensa. Estamos sozinhos, o calor parece aumentar, sinto ondas de eletricidade em todo meu corpo. Sento, porque até então estava praticamente deitado, ajeito minha coluna, me aproximando dela, com as pernas para fora da espreguiçadeira. Divido meu olhar entre seus olhos e lábios e noto Ella fechar os olhos, como se também desejasse esse beijo.
Sorrio brevemente sem mostrar os dentes e coloco a mão direita em sua bochecha, acariciando, então deslizo meu dedo polegar por seus lábios, massageando o inferior. Quando iria me aproximando para finalmente beijá-la, ouço o som de passos. Todos que estavam lá dentro, após o almoço, decidiram vir para fora justamente agora. Suspiro frustrado, porque não posso fazer isso e expor a Ella. Sei que ela não se agradaria.
Ela abre os olhos e percebe que há mais pessoas por perto, mas parece tão frustrada quanto eu.
— Esperamos não estar atrapalhando nada. — mamãe comenta, sorrindo.
— Só estávamos conversando. — respondo.
— Então, Ella… — minha mãe, a tagarela em pessoa, puxa uma das espreguiçadeiras e senta perto de nós — O que você faz?
— Sou advogada e das melhores. — responde em tom de gabação, fazendo todos rirem.
— Deve ser durona, tem cara de durona. — Jordan comenta, sorrindo.
— Você nem imagina o quanto, cara. — brinco.
— Já a viu em ação? — Jordan pergunta com expectativa no olhar.
— Nem precisei, só em ser amigo dela, já é enfrentar uma grande batalha.
— Viu aí? Eu disse. — ele ergue a mão, em sinal de confirmação.
— Como se conheceram? — Desiree pergunta, nos pegando de surpresa, porque esse é o tipo de informação que se pergunta a um casal e, definitivamente, não somos um.
— Moramos no mesmo condomínio, os prédios em que moramos ficam frente a frente e, consequentemente, nossos apartamentos também. — respondo sorrindo e dividindo o olhar entre todos eles.
— Espera aí! Você ficava espiando sua vizinha pela janela, Justin? Que deselegante. — Desiree comenta, balançando a cabeça para os lados, presumindo o óbvio.
— Não me gabo disso, porém, não vou negar que fiz.
— Aê, irmão! Mandou bem, mantendo o legado dos Coleman. — Jordan comenta brincando e ergue a mão em minha direção para um high five, mas não quero me comprometer, então o deixo no vácuo.
— Toma vergonha, Jordan. Respeite sua esposa que está bem ao seu lado. — papai o repreende, fazendo com que ele ponha a mão na nuca, sem graça.
— Toma aí, otário — rio da bronca que acabou de levar — Voltando ao assunto… Em minha defesa, foi ela quem começou. — elevo um pouco o tom de voz e levanto as mãos em sinal de rendição.
Todos os olhares se voltam para Ella, que morde o lábio inferior envergonhada.
— Como um cavalheiro, você tinha que guardar essa informação com sua vida, Justin. — ela olha para mim, sorrindo sem mostrar os dentes, com certa timidez.
— É maravilhoso estar em um lugar diferente, sentir a brisa do ar puro, livre de poluição… — com os olhos fechados e o rosto virado para o céu, ela fala, sorrindo sem mostrar os dentes e vejo seu peito descer e subir, como se realmente respirasse fundo, sorvendo o ar.
A imagem é tão perfeita, que pego meu celular no bolso da bermuda, abro a câmera e bato uma foto dela. Ao ouvir o som do disparo e a luz do flash em seu rosto, ela abre os olhos e vira a cabeça para o lado onde estou.
— O que está fazendo? — pergunta, enquanto ponho o celular de volta no bolso, depois de admirar a foto por alguns segundos.
— Você estava muito linda, não se desperdiça uma beleza assim. Além disso, quero guardar de recordação.
— Posso ao menos ver? — levanta a mão espalmada em minha direção.
— Só se me prometer que não vai apagar.
— Eu prometo, não se preocupe. — ela parece sincera, mesmo assim fico acanhado. Mas faço o que me pediu, lhe entregando o celular.
Ela desliza o dedo na tela, parecendo desenhar seu traços na foto.
— Gostei. — me devolve o aparelho, deixando-me surpreso.
Um silêncio paira no ar.
— Ella?
— Sim.
Torço os lábios com medo de prosseguir.
— O que aconteceu entre você e seu ex? Tá na cara que não foi uma separação amigável. Se não quiser responder, eu vou entender. — meu coração acelera e me arrependo no mesmo instante por tocar nesse assunto.
Espero que me xingue, me bata, qualquer coisa, porém, inicialmente, tudo que tenho é o silêncio. Abaixo a cabeça, deixando isso quieto.
Ouço sua respiração pesada e entrecortada, quando ela solta uma lufada de ar.
— Nos conhecemos no escritório de advocacia em que eu trabalhava na época, ele era um colírio para os olhos, as mulheres, incluindo eu, vivíamos suspirando por ele. A diferença é que todas só faltavam abrir as pernas para o Marcelo, enquanto eu não fazia questão de me submeter a isso. Se fosse para termos algo, ele viria até mim e não o contrário.
Ela faz uma pausa, então continua.
— Obviamente, como um verdadeiro galã, ele não se contentou em não ter todas aos seus pés, era uma homem vaidoso demais para permitir tal coisa. Então, começaram os chavecos, me cercava com seu perfeito ar de sedutor e eu, ingênua como costumava ser, caí feito um patinho, me encantei e, quando dei por mim, estava apaixonada. Nossa relação era maravilhosa, para dizer a verdade, analisando bem hoje, era praticamente só sexo. Nos casamos e, três anos depois, em um dia qualquer… — ela morde o lábio inferior e noto seus olhos brilharem, parecendo querer chorar.
— Não precisa continuar… — ponho a mão em seu braço, comprimindo os lábios e temendo o que está por vir.
— Por favor, eu quero… Necessito colocar isso pra fora — meneio a cabeça em concordância — Ele já não jantava em casa havia algum tempo, passava noites fora, alegando ter trabalhado a noite toda, algo incomum na profissão que exercemos. Numa noite, ele resolveu aparecer e, apesar de achar estranho, fiquei feliz por finalmente ter meu marido em casa. Porém, não foi nada bonito ou agradável. Marcelo me chamou para conversar do nada e… Disse estar apaixonado por outra. Ele estava me traindo.
Sinto uma raiva descomunal tomar conta do meu ser, como eu queria socá-lo, quebrar a cara dele até não sobrar mais nada.
— Agora me diz, como alguém com quem você viveu os melhores anos de sua vida, se dedicou ao máximo para fazer dar certo, alguém que te jurou amor eterno, num estalar de dedos diz estar apaixonado por outra? Será que eu merecia isso, Justin? Sou uma pessoa tão ruim que não merecia ser feliz? — sua voz vai se alterando aos poucos e lágrimas rolam por suas bochechas — Responde…
Seu choro se torna cada vez mais copioso e intenso, a ponto de soluçar.
— A culpa não é sua, Ella. Nunca foi. Me escuta — seguro seu rosto entre minhas mãos — Você é uma mulher magnífica, o idiota, burro e babaca foi ele, que não soube ver o valor da mulher extraordinária que tinha ao lado, preferiu viver uma aventura, com alguém que poderia satisfazê-lo apenas momentaneamente, ao invés de estar com você. Nunca mais na sua vida repita uma atrocidade dessa — sinto lágrimas rolarem por meu rosto também e meu maxilar travado — Ele errou, não você, ouviu bem?
Puxo-a contra meu peito, permitindo que ela desabe, que deixe as lágrimas levarem toda a sua dor. Seguro-a em meus braços, como se assim pudesse livrá-la do seu passado, de tudo aquilo que a afligiu e que lhe fez mal. Se eu pudesse, sentiria sua dor, seu desespero, daria tudo de mim para não vê-la sofrer dessa maneira.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Perdição de Vizinho
Lindo, estou chorando 😢 😢 até agora...