Resumo de Capítulo 22 – Capítulo essencial de Perdição de Vizinho por Alê Santos
O capítulo Capítulo 22 é um dos momentos mais intensos da obra Perdição de Vizinho, escrita por Alê Santos. Com elementos marcantes do gênero Romance, esta parte da história revela conflitos profundos, revelações impactantes e mudanças decisivas nos personagens. Uma leitura imperdível para quem acompanha a trama.
Oh, você e eu, no mesmo lugar
Me mostre na mesma luz
É tão bom quando pegamos o voo
Wrong - Zayn
(...)
Ella
Nunca pensei que um dia conseguiria colocar meus sentimentos para fora, que conseguiria contar para alguém o que passei ao lado daquele cretino. Como doeu e ainda dói lembrar de cada momento não vivido porque ele estava me traindo, porque deixava de estar comigo noites a frio, para estar com ela.
Só Deus sabe o que eu passei, o que senti quando Marcelo me chamou para conversar naquela noite e nas noites que se sucederam. Só Deus sabe o quanto chorei, o quanto estive despedaçada, destroçada com tudo aquilo. Mas agora, aqui estou, nos braços de um homem que parece me compreender. Me permito ser tocada, ser cuidada e protegida por ele, como nunca antes.
Um pouco mais calma, apenas dando soluços pausados, respiro fundo e me afasto do peito do Justin. Ele segura meu rosto entre as mãos e limpa cada uma das minhas lágrimas, me olhando tão intensamente, mas também, parecendo preocupado.
— Está melhor? Desculpa se te fiz passar por isso, juro que não foi minha intenção, jamais passou pela minha mente que era algo tão… Tão… — ele fala descontroladamente e, ao fim, procura por uma palavra para descrever tamanha falta de consideração, comprimindo os lábios e demonstrando raiva.
A verdade é que não há palavras que possam descrever o quão cretino foi o Marcelo. Nada justifica uma traição.
— Não se preocupe, estou bem — forço um sorriso sem mostrar os dentes — Obrigada por me ouvir, você foi um amigo e tanto.
— Eu juro que se um dia tiver a chance de cruzar com esse cara, quebro ele na porrada. — vejo suas mãos fechadas em punho e seu maxilar travado.
— Não vale a pena, Justin. Não que eu sinta pena dele, não consigo sentir nada além de repulsa. Tenho nojo de homens como ele, por isso me mantive tanto tempo afastada de você, não querendo ceder — suspiro pesadamente — Foi muito difícil me reerguer, me reconstruir. Levou tempo. E para ser sincera, até hoje, cada dia é um novo dia, um novo começo. Acho que nunca conseguirei me refazer de verdade.
— Não diz uma coisa dessa, Ella. Todo mundo merece ser feliz.
— Você acha? — o encaro seriamente, esperando que se abra comigo.
— Não acho, tenho certeza. É difícil para mim também, dizer isso, mas é o que penso. — sinto verdade em suas palavras.
— Aconteceu algo com você, Justin? Alguém te feriu, como fizeram comigo, esmagando seus sentimentos? — ponho uma mão sobre a dele, o encorajando.
Justin fecha os olhos e respira fundo.
— Não, ninguém me feriu. Eu… — sua voz embarga.
— Ei! Não precisa falar nada, eu entendo… — aperto sua mão.
Ele engole em seco.
— Você confiou em mim, tenho que fazer o mesmo.
— Não fiz isso querendo algo em troca, Justin.
— Eu sei, mas eu quero falar — uma lágrima solitária escapa de seus olhos — Eu perdi minha noiva para o câncer — esbugalho os olhos, sendo pega completamente de surpresa, esperava qualquer coisa, menos isso — Nos conhecemos quando eu estava perto de me formar na faculdade, me encantei pela Maria Julia no instante em que a vi, ela era linda, tinha cabelos ruivos e olhos cor de mel — ele sorri com as lembranças — Não era uma mulher cheia de curvas, mas isso não importava para mim, o que realmente me encantou nela foi o jeito tímido.
Ele fala com tanto sentimento que até eu me emociono.
— Ela cursava nutrição, daí que veio a minha obsessão por uma boa alimentação — dou uma risada nasal, sem graça — Eu não conseguia parar de pensar nessa garota, ficava ansioso por vê-la quando chegava no campus. Decidi então conquistá-la, por ser muito tímida, não foi fácil conseguir chegar nela, mas eu persisti e obtive êxito. Começamos a namorar e eu fazia tudo por ela, tudo que estivesse ao meu alcance para vê-la sorrir. Quando nos formamos, eu a pedi em casamento e não demoramos a trabalhar na área, já havíamos estagiado em um hospital na região e, por gostarem muito do nosso profissionalismo, acabaram nos contratando, assim como também outros colegas nossos.
Ele faz uma breve pausa, fechando os olhos.
— Devido a nossa rotina, passamos a nos ver menos, mas nem isso foi capaz de diminuir o que sentíamos um pelo outro. Um dia, quando eu saí do hospital, após dar plantão, fui até a casa dela e percebi que ela não estava bem, tinha algo errado, mesmo que tentasse me mostrar o contrário. Maria Julia estava pálida, seu semblante não era o mesmo, mas quando eu perguntava o que ela tinha, dizia ser apenas um mal-estar.
Ele olha para mim, que estou atenta às suas palavras.
— Dias e mais dias se passaram e ela apenas piorava, passou a ter crises de vômitos constantes e eu já estava sem saber o que fazer, porque não conhecia essa área da medicina. Até que um dia ela desmaiou no hospital, imediatamente a socorreram e me comunicaram o ocorrido. Corri até o quarto onde ela estava. Minha preocupação era imensa, eu não sabia o que fazer, mas fiquei ao lado dela o tempo inteiro. Fizeram diversos exames e veio o baque, algo totalmente inesperado, Maria Julia foi diagnosticada com leucemia. Ela já havia me contado que tinha histórico familiar, mas a gente nunca pensa que vai acontecer, não é mesmo?
Comprimo os lábios, meneando a cabeça em afirmação.
— Os médicos fizeram todo o possível e eu, mesmo sabendo que não entendia nada sobre o caso, comecei a estudar tudo o que estava ao meu alcance para ajudá-la, porém, ela apenas definhava. O câncer já estava em estágio avançado, disseram que ela negligenciou os sintomas iniciais. Sei que ela não queria me deixar preocupado e eu passei a me culpar. Me culpei por não ter notado nada, por não ter estado mais presente, por não insistir para que me dissesse o que estava acontecendo, mesmo quando ela me dizia não ser nada…
Ele fala tão aceleradamente e para por um instante para respirar.
— Mas o principal, me culpei por não conseguir fazer nada para evitar o pior. E o pior veio… — nesse momento, não só ele, mas eu já estava chorando — Maria Julia sabia que estava morrendo, ela segurou minha mão e chorou, pedindo perdão por tudo, eu me ajoelhei ao pé da cama de hospital, chorando, dizendo que não havia o que perdoar e que ela sobreviveria. Mas ela dizia que estava indo, porém, iria em paz, porque havia chegado a hora dela e que não havia mais o que fazer.
Levo minha mão ao rosto, limpando as lágrimas que rolam insistentemente.
— Maria Julia pedia que eu fosse feliz, que eu não deixasse de viver, que eu era um homem maravilhoso e merecia ser feliz, muito feliz. Agora imagina a cena, ela dizia tudo isso segurando a minha mão. Ella, a Maria Julia não soltou minha mão um segundo sequer, mesmo eu me culpando por tudo, isso só me dilacerou ainda mais. Ela não merecia isso, era tão jovem, tão cheia de vida… — ele suspira pesadamente, soltando um soluço.
— É um sim. Com todas as letras e em todos os idiomas. — ele levanta a cabeça e segura meu rosto entre as mãos, sorrindo. Retribuo, abrindo um largo sorriso e Justin pressiona os lábios nos meus, seguido de vários selinhos.
— Obrigado, prometo fazer valer a pena. Agora vamos entrar que está esfriando. — ele faz menção de levantar, porém, eu o impeço.
— Vamos ficar só mais um pouquinho… — peço em tom de súplica.
Ele ri e beija o dorso da minha mão.
— Vem cá, deixa eu te esquentar. — me puxa, girando o dedo para que eu fique de costas, então me recosto em seu peito e ele passa os braços em volta do meu corpo.
Ficamos assim por um tempo, ouvindo apenas o som do nosso silêncio bastante agradável.
Após algum tempo, o clima esfriou demasiadamente, então decidimos entrar. Justin trancou as portas da casa e subimos a escada em direção aos quartos. Parados em frente a porta do quarto em que estou instalada, ficamos em silêncio, ambos sem saber o que dizer.
— Obrigado por me ouvir, parece que tirei um peso enorme dos meus ombros. — ele solta um longo suspiro.
— Não tem o que agradecer, foi uma troca. — sorrio e ponho a mão no rosto dele, acariciando a bochecha.
Ele retribui o sorriso, colocando a mão por cima da minha, vira o rosto e deixa um beijo na palma da minha mão.
— Boa noite, Ella.
Ele iria girando os calcanhares, porém, toco em seu braço.
— Justin?
— Sim.
— Fica comigo até eu dormir? — ele me olha surpreso — Aliás, esquece… Não é uma boa ideia.
Viro o corpo para entrar no quarto, mas ele segura meu braço.
— Vem. — Justin estende a mão para mim, meneando brevemente a cabeça, apontando a cama.
Aceito seu gesto, então ele me guia até lá e deita. Meio sem graça e, já arrependida de tê-lo pedido isso, deito ao seu lado. Sinto quando seus braços rodeiam meu corpo, estamos tão perto que consigo ouvir as batidas aceleradas do seu coração. Confesso que isso faz as borboletas em meu estômago se agitarem. Justin aproxima o rosto do meu pescoço e cheira meus cabelos. Fecho os olhos, controlando as sensações que ele me causa. Arrepio na pele, desejo e coração acelerado.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Perdição de Vizinho
Lindo, estou chorando 😢 😢 até agora...