Resumo do capítulo Capítulo 24 do livro Perdição de Vizinho de Alê Santos
Descubra os acontecimentos mais importantes de Capítulo 24, um capítulo repleto de surpresas no consagrado romance Perdição de Vizinho. Com a escrita envolvente de Alê Santos, esta obra-prima do gênero Romance continua a emocionar e surpreender a cada página.
As pessoas falam, mas as pessoas não sabem
Você não pode fazer planos, apenas viva, como eu
As pessoas falam, eles não entendem
Amor e dor andam de mãos dadas
Ooh, digam o que quiserem, eu ainda acho que vale a pena
Lies In The Dark - Tove Lo
(...)
Ella
Retornamos para o almoço, exatamente como o Justin prometeu a sua mãe — que, por sua vez, não se importou nem um pouco com o fato do filho não ter chegado a tempo de preparar a comida. Acredito que, mesmo sem saber o que está acontecendo entre nós dois — que para falar a verdade, nem eu mesma sei — Alice esteja feliz em ver o filho sorrir. Qualquer mãe, no lugar dela, agiria da mesma forma.
Lembro-me como se fosse hoje, como meus pais ficaram estarrecidos quando lhes contei sobre o ocorrido com o Marcelo e a razão para eu ter dado entrada nos papéis do divórcio. Meu pai ficou furioso, se eu permitisse, ele teria ido atrás do meu ex para tirar satisfação, talvez até matá-lo. Poucas foram as vezes em que o vi daquela maneira, porque papai costuma ser calmo e pacífico, porém, quando se trata de mim, não existe calmaria, ele é capaz de tudo para me proteger.
Mesmo assim, diante de sua atitude, nada se comparava a mamãe. Logo após a separação, eu não queria ver o Marcelo nem pintado de ouro e temia que a qualquer momento ele aparecesse com a cara mais lavada do mundo, pedindo abrigo ou, até mesmo, para voltarmos. Então, por isso, fui para a casa dos meus pais na manhã seguinte à nossa briga, quando o coloquei para fora de casa. Não avisei nada aos meus pais e nem precisei, pois, assim que abriram a porta de casa para mim, somente em olhar em meus olhos, eles sabiam ter algo errado.
Não precisei dizer uma palavra sequer, até porque nem conseguiria… Estava dilacerada, quebrada e as manchas escuras abaixo dos meus olhos denunciavam a noite mal dormida, ou melhor, pessimamente dormida. Sem dizer uma única palavra, sem perguntas, nada do tipo, mamãe me guiou até o que costumava ser o meu quarto, me ajudou a deitar na cama — porque eu me sentia até mesmo sem forças físicas — e, ali, repousei a cabeça em seu colo e chorei copiosamente. Chegando a soluçar.
Acredito que para ela tenha sido angustiante me ver assim, nenhuma mãe quer ver seu filho sofrer, nem mesmo por um mínimo machucado. Ela acariciava meus cabelos e permitia que eu deixasse as lágrimas levarem embora toda minha dor, sem se importar em estar molhando sua roupa. Nesse dia não conversamos nada, porque eles me conheciam suficientemente bem para saber que eu precisava de um tempo para me recompor, seja qual fosse o problema. E, na verdade, já deveriam desconfiar do que poderia ter acontecido, já que anteriormente eu havia lhes contado como andava minha relação com meu ex marido.
No dia seguinte, durante o café da manhã, desabafei e chorei mais uma vez, sendo amparada por eles. Mamãe chorou junto comigo e papai só não foi atrás do Marcelo porque eu insisti, dizendo que não valia a pena o esforço.
Então, eu posso imaginar como a mãe do Justin está se sentindo, não deve ter sido fácil para ela ver o filho definhando aos poucos. Quando nós dois conversamos, pude ver em seu olhar o amor que sentia pela sua falecida noiva. Um amor genuíno e raro, poucos têm a oportunidade de sentir esse amor.
Às vezes, me pergunto se o que eu senti pelo meu ex era amor ou se foi apenas uma paixão passageira, porque apesar da raiva que, por vezes, sinto ao pensar nele e tudo o que me fez, não sinto mais o meu coração acelerar. O que sei, é que algo novo está sendo despertado em meu ser, pelo Justin, não sei como reagir a isso, mas sei com convicção que me faz bem.
Ao voltarmos para a chácara, fui até o quarto para verificar meu celular e havia várias chamadas perdidas da mamãe, assim como também, diversas mensagens do trio parada dura.
Sentei-me na cama e retornei a ligação da mamãe, que deveria estar enlouquecida a essa altura. Eu avisei que passaria o final de semana fora, porém, não disse nem onde ou com quem, tinha certeza de que se falasse, ela teria motivos suficientes para plantar caraminholas na cabeça.
No segundo toque, ela atendeu.
— Ella, minha filha! Você quer matar sua mãe de preocupação? Estou tentando te ligar há horas. — sua voz está afobada.
— Desculpa, mamãe. Desculpa mesmo, é que não tive tempo de ligar, nem de pegar o celular essa manhã.
— E como está? Pelo seu tom de voz, parece bem… — nem que eu quisesse, poderia mentir para ela, já que me conhece como a palma da mão.
— Estou ótima, mamãe. E vocês, como estão?
— Estamos bem, filha. Seu pai já estava a ponto de ligar para a polícia e dar parte de você. — ao escutar isso, solto uma gargalhada, inclinando a cabeça para trás.
— Diga que está tudo bem comigo, não há necessidade alguma disso.
— Não vai me contar onde e com quem está? É algum lance novo? Ou sei lá como vocês, jovens, chamam essas coisas hoje em dia…
— Ella, já iremos almoçar… — a voz do Justin na porta do quarto, me faz assustar e, ele percebendo, fica meio constrangido — Ops! Não sabia que estava no telefone, desculpa.
— Só um minuto, mãe.
Ponho a mão no microfone do celular, impedindo a mamãe de ouvi-lo, porque não queria que soubesse assim sobre nós, porém, acredito que não tenha funcionado bem, já que o Justin chegou falando alto.
— Tudo bem, não faz mal. Não demoro. — sorrio sem mostrar os dentes para acalmá-lo.
Ele acena positivamente com a cabeça e sai, então retorno a chamada da mamãe.
— Que voz bonita, filha. Quem é? — respiro fundo, pensando no que dizer.
— Promete não surtar?
— Sim. — consigo sentir a expectativa em sua voz.
— Ok. É o Justin, meu vizinho.
— Ah, meu Deus! Não acredito! Ella, minha filha… Nem sei o que dizer, estou sem palavras. — acabo rindo de sua reação.
— Eu disse para não surtar…
— Desculpa, mas não dá. E eu tô surtando positivamente, eu garanto. Estou tão feliz por você, filha. Tão feliz. Você e o gostosão…
— Ei! Calma, calma, respira. Não é nada disso que a senhora está pensando, mas prometo te contar tudo quando eu chegar em casa. Tenho que ir almoçar, eles estão me esperando. — ouço meu estômago roncar e tenho quase certeza que ela ouviu também.
— Tem um trem dentro dessa barriga? — rio e ela se junta a mim — E quem são exatamente eles?
— A família do Justin, mamãe. Estamos na chácara dos pais dele, porém, não tenho tempo para te contar tudo com detalhes agora. Estarei em casa hoje a noite, aí te ligo e conversamos, combinado?
— Tudo bem, né. Fazer o quê? É o que temos pra hoje.
— Até logo, dramática. Dá um beijo no papai por mim. Te amo.
— Até, minha filha. Te amo.
Encerramos a chamada e eu respondo rapidamente meus amigos em nosso grupo do whatsapp, não tenho muito tempo agora. Eles enviam um vídeo do Tom correndo atrás do ratinho de brinquedo que comprei para ele, me fazendo sorrir ao vê-lo bem. Não vejo a hora de estar em casa e pegá-lo em meu colo.
Em seguida, vou até onde estão todos para almoçar. Justin sorri ao me ver, sento ao lado dele, na espreguiçadeira. Ele segura minha mão e acaricia o dorso com o polegar.
— Vocês vão embora hoje mesmo? — Alice pergunta, assim que me sento.
— Eu amei cada segundo neste lugar, Alice. Mas o dever me chama, ou melhor, nos chama, já que o Justin também precisa trabalhar.
— Nem me fale, estou surpreso por não terem me ligado pedindo para ir ao hospital com urgência. Acho que os ventos estão realmente soprando ao meu favor esses dias. — ele sorri para mim, seus olhos chegam a brilhar.
Ele parece tão concentrado que chega a se assustar.
— Desculpa entrar assim, é que estava digamos… Aberta a porta. — digo sem graça.
— Tudo bem, só estava… — ele solta uma lufada de ar, voltando o olhar para o objeto em suas mãos.
Foi inevitável não olhar também. É um porta-retratos, nele há uma foto de uma mulher, que pela descrição que me contou, acredito ser sua falecida noiva.
— Essa é…? — ele me interrompe.
— Sim, é ela. Maria Julia. — ele encara o objeto com devoção e passa a mão pela foto, como se estivesse acariciando o rosto da mulher de sorriso meigo.
— Ela era linda, Justin.
— Muito.
— Como se sente vendo algo que te traz lembranças?
— Sinto saudade. Uma saudade que não cabe no peito.
Ouvir sua resposta me faz engolir em seco. Por um instante, inúmeras dúvidas passam em minha mente e, a principal delas é: será que ele conseguirá ter uma relação futura sem lembrar dela ou, até mesmo, sem comparar as duas pessoas? A do seu passado e do futuro?
— Vem cá. — ele me tira do transe, me puxando de leve pelo braço, para sentar ao lado dele.
Fico confusa.
— Não quero que pense nisso, Ella — franzo o cenho, porém, não digo nada — Eu amei demais a Maria Julia, jamais poderei negar isso, mas tem uma coisa que minha mãe sempre me diz: nosso coração é grande demais, é possível abrir espaço para um novo amor, se o antigo, por alguma razão, se for.
Ele coloca o porta-retratos numa mesinha ao lado da cama e segura meu queixo.
— Sei que tem medo, muitos medos, mas não se preocupe que não deixarei um fato do meu passado interferir nisso que está nascendo entre nós dois. Eu a amei, porém, sei que se eu abrir o meu coração e me permitir, posso te amar também. — ele sorri, olhando em meus olhos.
Sinto meu coração acelerar ao som de suas palavras, assim como também, uma boba por sentir insegurança por causa de uma pessoa que nem está mais entre nós.
— Obrigada, Justin. Isso significa muito pra mim, sei que pode parecer bobagem, mas é estranho pensar que alguém que já se foi, possa ser uma pedra em nosso caminho. — digo meio sem graça.
— Não é bobagem e não se preocupe com isso.
Ele vai se aproximando devagar e beija meus lábios docemente, até que o beijo se torna mais quente quando ele coloca uma mão em minha nuca e outra em minha cintura, apertando-a, solto um gemido involuntário. Justin para e encosta a testa na minha, ofegante, assim como eu.
— Temos que ir… — sua voz soa entrecortada.
— Eu sei… — digo em resposta, ainda controlando a respiração.
Nos recompomos e seguimos até a família dele para se despedir. A parte mais difícil foi a Lily, que queria ir conosco, porém, não era possível, já que minha vida e do Justin costuma ser bem corrida. Nem se quiséssemos passar um dia com ela, não daria. Ao menos não durante a semana. Mas prometemos ir visitá-la assim que possível.
Em seguida, entramos no carro e pegamos a estrada, voltando a vida normal e a realidade. Confesso que estou sentindo um frio na barriga por não saber como serão as coisas daqui em diante, mas é uma sensação boa. Sensação de mudanças e recomeços.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Perdição de Vizinho
Lindo, estou chorando 😢 😢 até agora...