Perdição de Vizinho romance Capítulo 29

Eu não cometerei

Os mesmos erros que você cometeu

Eu não permitirei

Causar tanto sofrimento ao meu coração

Because Of You - Kelly Clarkson

(...)

Ella

Não quero acordar desse pesadelo, quero dormir eternamente se for necessário, para não ter que encará-lo. Porque meus amigos disseram: você precisa enfrentar seus medos, bater de frente com eles… Mas aí eu pergunto: como? Como fazer isso quando a vida não te prepara para os acontecimentos que vem a seguir? 

Será que é pedir muito, somente uma vez na vida conseguir ser feliz e fazer dessa felicidade duradoura? 

— Ella? — a voz dele me faz voltar a mim.

Me agacho para pegar o copo que deixei cair, tudo isso para não ter que olhar para ele. Porém, ele toca em meu ombro, fazendo-me olhá-lo. E ali está seu sorriso, a cara mais cínica desse mundo. O puto que ferrou com a minha vida.

Marcelo está com aquele seu famoso ar de sedutor, que eu passei a odiar.

— Você aqui? — finjo surpresa, porém, sem expressar emoção em minha voz.

— Pensei que tivesse recebido minhas flores…

— Flores? — franzo o cenho e levanto — Oh, que cabeça essa a minha — bato de leve em minha testa — Aquelas flores, pensei que fossem do meu namorado, ele costuma enviar mimos para mim.

Faço o possível para não deixar transparecer minha raiva e vejo seu sorriso morrer imediatamente.

— Então, é verdade, você tem alguém…

— Sim, Marcelo. Você não esperava que eu passasse o resto da minha vida sozinha… Ou esperava? Espera aí! Como assim, é verdade que tenho alguém? Por acaso, andou me perseguindo ou algo do tipo? Aliás, como me encontrou? — falo nervosamente, gesticulando de forma excessiva, percebendo o significado de suas palavras anteriores.

Ele ri nasalmente.

— Pelo visto, você continua sendo observadora, não é mesmo? 

— Não tente mudar o foco da conversa, Marcelo. Como me encontrou? — o encaro com firmeza.

— Contratei alguém para isso — esbugalho meus olhos — Eu precisava te ver, senti sua falta. — sua voz soa sedutora e mansa.

Isso me dá nos nervos, era exatamente assim que ele costumava ganhar as mulheres.

Dou uma risada sem emoção.

— Mandou me perseguirem? Isso é o cúmulo do absurdo, Marcelo — digo entredentes — Sentiu minha falta? Como consegue ser tão sacana? Como consegue colocar a cabeça no travesseiro e dormir em paz? 

— Eu não estou mais com ela, se é isso que você quer saber. 

— Aí é que tá, Marcelo… Nada do que diz respeito a sua vida, me interessa. Pouco me importa se está com aquela piran… — comprimo os lábios, notando que estou falando mais alto do que planejei e falaria o que não deveria em meu local de trabalho — Se está com aquela mulherzinha ou quem quer que seja a mulher que esteja com você. No dia que em eu assinei o divórcio, assinei minha liberdade, estava decidida a esquecer tudo o que vivemos. Então me poupe de sua conversinha de sedutor barato e vá embora. 

Após dizer isso, iria girando os calcanhares para retornar a minha sala, mas ele segura de leve em meu braço.

— Ella, por favor… — ele suplica.

— Esquece que eu existo e pelo bem de nós dois, não me procure mais. — puxo meu braço dele e saio pisando duro.

Entro em minha sala muito nervosa e meio trêmula.

— O que houve, amiga? Parece que viu um fantasma… — Barbara pergunta, percebendo meu estado.

— E foi exatamente o que acabei de ver. Meu Deus, quando será que esse pesadelo vai acabar? Que droga! — sento e suspiro pesadamente.

— Não estamos entendendo nada, Ella. — Alexia fala.

— Ele não está somente aqui na cidade, acabei de encontrá-lo zanzando pelos corredores. 

— O quê? — os três praticamente gritam.

— Isso mesmo que ouviram. Como se não bastasse o fato de ser um ordinário, enviando esse buquê, ainda teve a cara de pau de aparecer aqui.

— Por essa eu não esperava. — Oliver diz, quase caindo na cadeira e recostando-se.

— Nem eu e o pior de tudo é que não sei o que fazer. O que direi ao Justin? Merda, merda, merda! — ralho, apoiando os cotovelos nas pernas e passando a mão no rosto.

— Olha, amiga, vou te contar viu — Barbara chama minha atenção — Isso está parecendo até aquelas histórias de novela, quando a pessoa está bem depois de ter comido o pão que o diabo amassou, no passado, a praga do problema decide aparecer, brotando da terra. Não é possível! — ela gesticula, parecendo estar pensativa.

— Babi! — Alexia a repreende — Isso não está ajudando.

Barbara estala a língua na boca.

— Desculpa, amiga. Desculpa mesmo, minha intenção não foi piorar a situação, só estava analisando os fatos. 

— Tudo bem, Babi. Vocês só estão tentando me ajudar, nem sei o que faria se não tivesse vocês. — comprimo os lábios.

Os três se aproximam de mim, se abaixam e seguram minhas mãos.

— Estaremos aqui sempre que precisar, minha deusa. — o jeito que o Oliver fala, seguido dos sorrisos deles, me desmonta.

Sei que não importa a circunstância, os terei sempre ao meu lado.

Mesmo com a minha mente em turbulência, precisava me concentrar no trabalho, porque o dia estava apenas começando. Resolvi alguns casos, me reunindo com casais pedindo divórcio, alguns até discutiram em minha frente — algo bastante comum em meu dia a dia. Infelizmente, assim como o Marcelo e eu, nem todos os casais se separam amigavelmente, diversos fatores interferem nisso e só Deus sabe quantas confusões já presenciei e presencio diariamente. 

Após uma manhã extremamente cansativa, não somente pelo trabalho, mas, principalmente pelo cansaço mental, devido ao constrangimento de mais cedo, verifico as horas em meu celular e olho se tem mensagem do Justin no whatsapp, fico matutando se devo ou não contá-lo sobre o aparecimento repentino do meu ex, em meu escritório.

— Vamos almoçar, meu anjo? Nem pense em ficar de estômago vazio, porque te conheço bem. — Barbara comenta, me fazendo voltar a atenção para ela.

— Me desculpem pelo que irei dizer agora, com toda essa confusão, a aparição do Marcelo, acabei esquecendo de avisá-los. Justin está de folga hoje, então iremos almoçar juntos. — eles arqueiam as sobrancelhas, demonstrando surpresa, mas também sorriem, parecendo contentes com a notícia.

— Não há razão alguma para se desculpar, minha deusa. Vai comer com seu homem, quem sabe a sobremesa não é você. — Oliver bate palminhas ao falar e, pela primeira vez, desde o ocorrido, consigo rir.

— Mandou bem, amigo. — Alexia diz.

— Vocês não existem. — digo, balançando a cabeça para os lados.

— Ao menos serviu para te fazer rir. — Oliver dá de ombros.

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