Perverso romance Capítulo 2

Ethan passava um pano úmido sobre as feridas que May deixou nas minhas costas, não havia apenas nas costas, onde quer que seu chicote tenha pegado deixou rastos de feridas por todo meu canto. Teve um momento que ela subiu a mão, então a ponta de couro atingiu minha bochecha, marcando minha face.

Após eu voltar do terraço, May ordenou que Vicent arrancasse minha roupa na frente de todos, usei as mãos para cobrir meu corpo nu em completa vergonha. Então ela pegou seu temido chicote, eu gritei apenas na primeira chicotada, depois me joguei no chão em posição fetal protegendo meu rosto com as lágrimas nos olhos, pedindo que aquele inferno tivesse fim, porem como todas às vezes não teve, nenhum anjo desceu do céu para me buscar.

May só parou de me bater quando Vicent pediu, depois de muito tempo.

Seguro firme na borda da cama, a dor me fazia querer gritar, mas eu não tinha forças para isso. Sei que Ethan usava toda a delicadeza que tinha nas mãos, porém parecia não adiantar.

— Desculpe... — murmurou ele quando soltei um gritinho.

Heitor sumiu após seu telefone tocar, saiu do terraço alegando que cumpriria sua promessa, mas eu não me apeguei a sua palavra, não o conhecia, mesmo que eu estivesse desesperada.

Nesse momento eu me perguntava porque não me joguei, teria sido menos doloroso.

Gisele entra no quarto, ela usava uma lingerie vermelha, era "a melhor da casa", com seu corpo magro, cabelos loiros longos e olhos azuis, ela conseguia os melhores clientes, todos a queriam.

— May quer ver você. — Pude ver seus braços se cruzando, mesmo estando de costas.

— Ela mal pode falar, não vai conseguir levantar. — Protestou Ethan.

Gisele dá de ombros.

— Não se meta, garoto da limpeza! Se vista, antes que May fique ainda mais zangada.

Ela vai embora. Ouço Ethan suspirar e largar o pano no balde com força, fazendo a água respingar no meu rosto.

— Tudo bem — falo —, vou ficar bem.

Levanto com dificuldade ainda sentindo minha costa arder com meus movimentos. Ethan me ajudou a vestir o que sobrou do meu lindo vestido lilás, não se atreveu a descer o olhar para meu corpo debilitado, ele nunca faria isso.

Nós fomos juntos até a sala da May, antes passamos pelo salão, onde houve o show de horrores. Ouvi Ethan sussurrar para mim: "— Vou te levar daqui um dia, eu prometo", sorri fraco, tentando me apegar a algo.

Chegamos em frente a porta de May, Ethan deu duas batidas e ouvimos sua voz grossa — após muitos anos de fumo — murmurar algo.

Abri a porta, ela espreitou os olhos para Ethan.

— Chamei apenas ela. — Arqueou uma de suas sobrancelhas feitas à lápis.

Ethan me lançou um olhar como se estivesse me perguntando se estava tudo bem, eu assenti sutilmente com a cabeça, ele foi embora e fechou a porta atrás de mim.

May sentou na sua cadeira que ficava atrás de uma mesa de estudos coberta por papéis, com um cigarro na ponta dos dedos. Ela apoiou os braços na mesa e soltou a fumaça pelas narinas, mais parecia um demônio.

— Me pergunto onde foi que errei com você, Jade. — A ponta do cigarro é afogada no cinzeiro com água.

Permaneço calada, sem mover um músculo sequer.

— Cuidei de você após a terrível morte dos seus pais como se fosse minha própria filha, e você se nega a fazer seu único dever. — Ela leva os dedos até as têmporas de maneira sofrida. — Tem ideia de quando ele pagou para tirar a sua maldita virgindade? Uma fortuna! — Vejo ela levantar da sua cadeira e dar a volta na mesa, sentando sobre a mesma de frente para mim. — E sabe quanto eu tive que dar apenas para ele ir ao hospital? Uma fortuna também!

Acontece que May não tinha apenas minha tutela, ela era amiga dos meus pais antes de tudo, do acidente deles. Sempre a tive por perto desde que me conheço por gente, me perguntava como meus pais não perceberam com que tipo de coisa ela se metia. 

— Ele não queria apenas uma das minhas virgindades, May. — Minha voz saiu embargada.

— Que se dane, Jade! — Aperto os olhos temendo um tapa. — Terá que dar ao cliente o que ele quiser aqui dentro. Jamais iremos encontrar um homem tão rico quanto ele. E a nossa reputação?

Não diria que uma boate clandestina tivesse uma boa reputação, mas para May era sua vida.

— Você disse que eu iria apenas cantar, foi esse nosso acordo. — Alego.

Apesar da pouca iluminação e a fumaça dentro daquele cômodo vermelho, eu vi a expressão de ira que formou no rosto de May.

— Não importa mais o que combinamos antes de vir para cá, agora é um das outras, e sugiro que se enquadre como tal! — Rosnou.

Meu peito se enche de raiva, por ter acreditado nas suas palavras antes de viajar para cá. May me prometeu o mundo, disse que eu seria uma cantora famosa, que todos os cantores começam cantando em bares pelo mundo.

Fui ingênua.

Caí feito um patinho, achei que seria paga apenas pela minha voz não pelo meu corpo.

Uma tremenda idiota.

— Não tem como acabar com a reputação de um lugar sem ao menos ter uma. — Murmurei.

O tapa veio, tão forte que me fez cair no chão, ela deveria estar cansada da surra que me deu mais cedo, pois esse foi um dos que menos doeu.

Levo a mão até o lugar, minha bochecha ardia, provavelmente estava vermelha.

Subo o olhar até ela que me encarava de cima com o nariz de pé, como alguém soberana a mim.

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