Perverso romance Capítulo 3

As outras meninas que trabalhavam na boate não eram como eu. Algumas delas já eram prostitutas no seu país, outras eram sem-teto — como eu —, e por não terem escolhas acabaram se acostumando com essa vida, apesar das constantes humilhações o dinheiro era gordo, então elas teriam bastante quando voltassem. Uma pequena parcela delas eram naturais daqui o resto era de outros países. Maria era do Uruguai, Gisele era norte-americana, Viviane e Marta ambas eram da Colômbia, no geral havia meninas de todas as partes do mundo.

O que tínhamos em comum era ter sido enganas pela mesma pessoa: May.

Não havia escolhas para nós. Éramos o resto da sociedade.

May ficou com raiva de mim pelo meu segundo cliente me rejeitar. Ela disse que não iria me bater por que eu era carga preciosa, enquanto meu corpo cicatrizava subiria ainda mais meu valor, me dando tempo para pensar em uma forma de escapar desse lugar.

Às vezes, após as apresentações eu costumava subir no terraço, antes meus pensamentos não existiam, mas agora eu pensava em Heitor, sua promessa ainda me fazia sonhar, por mais que fosse impossível.

Suspiro.

Eu nunca mais o veria, nem sabia que ele era, mas depois de Ethan ele se tornou o homem mais bonito que conheci.

— Não deveria estar aqui. — Ouço a voz de Ethan atrás de mim.

Viro para encará-lo.

— Você muito menos. Tem que limpar os vômitos daqueles bêbados.

Limpo o local ao meu lado, em cima de um caixote de cervejas que eu usava como banco. Ethan senta olhando para a paisagem, o amanhecer daqui era perfeito.

Meu coração acelerava quando Ethan ficava perto de mim, desde que ele chegou aqui e conversou comigo pela primeira vez. Os olhos azuis dele me encantavam, assim como seus cabelos loiros e o rosto sem um pelo sequer. Parecíamos ter a mesma idade, embora ele fosse anos mais velho.

— Acho que May e Vicent não irão se importar. — Ele torce o nariz — se trancaram no escritório dela.

Reviro os olhos.

— Pelo menos ela fica de bom humor quando isso acontece.

Ele dá de ombros.

— Não percebo. May parece sempre estar prestes a matar alguém.

Ambos rimos. Só depois fui perceber que estávamos olhando um para o outro. Desci meu olhar para meus pés, as unhas sujas e os dedos marcados, nenhum parte do meu corpo escapava da ira de May.

Ethan passa seu braço ao meu redor me puxando para mais perto.

— Ainda dói quando toco você? — Perguntou.

Balanço a cabeça.

Me sentia confortável com seu toque, era meu único amigo naquele lugar.

— Já está cicatrizando. Estou com medo, Ethan. — Deito minha cabeça sobre seu peito — às vezes penso em fazer algo perigoso de novo só pra ela me punir.

Vejo sua respiração ressaltar.

— Não imagino pelo que você deva estar passando, mas peço que não faça novamente, da última vez foi preciso o Vicent interromper. — Ethan sempre ficava sensível quando falávamos sobre isso, acredito que ele se sentia tao impotente quanto eu. 

Saio de seus braços levanto e vou até parapeito.

Olho para calçada, fazia meses que eu não colocava os pés lá. Logo quando cheguei, May pagou um hotel para mim, eu cantava no bordel durante as noites e de manhã estava livre, mas depois ela mostrou sua verdadeira face e me mantém trancada nessa prisão desde então. A polícia na daqui não se importa, uma vez tentei pedir socorro a um policial, ele me deu uma tapa. Esse mesmo policial era cliente fiel da Gisele.

Sinto a respiração de Ethan na minha nuca, meu corpo inteiro vibrou.

— Não tenho mais para onde correr, Ethan.

— Não sabe como me senti quando Vicent disse que você iria se jogar daqui. — Sussurrou.

Fecho meus olhos controlando meus sentimentos.

— Prometi que não vou deixar nada de ruim te acontecer... — ele segura minha mão que estava ao lado do meu corpo.

— Ethan — interrompo —, não me entenda mal, estamos no mesmo barco. Vicent pode acabar conosco dois como se fossemos baratas.

Viro de frente para ele, estávamos próximos demais, a polegadas de distância. A respiração dele batia na minha face, e a minha era levada pelo vento.

Ethan segura meus braços levemente. Estremeci.

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