Sebastian passou as mãos na minha barriga sem qualquer possibilidade de haver uma vida ali, seu pai sorria através do respirador. Uma gotícula de lágrimas rola pela face do senhor, vejo os olhos dele brilharem.
Saímos do hospital, fiquei girando a aliança em meu dedo anelar por alguns instantes, vendo-a cintilar com os raios de sol, olhei para Sebastian rapidamente, o mesmo estava com os olhos vidrados na estrada e as mãos fixas ao volante.
— Não acha ruim mentir para o seu pai?
Vejo ele manear a cabeça.
— Não tem importância, ele vai morrer em menos de um mês, o médico me disse hoje.
Arqueio as sobrancelhas.
— Além disso, duvido que ele vá dizer a alguém que você está grávida. — Finalizou.
— Entendo, mas por que você simplesmente não torna isso real? — Ele olha para mim com as pestanas juntas, talvez pensará que eu quisesse viver aquelas coisas com ele. Reformulo — é jovem, poderia muito bem arranjar uma esposa e ter seus filhos. Não necessariamente... comigo.
Ele morde o lábio inferior.
— Sou uma bomba relógio, quando eu explodir todos vão cair comigo. Não penso que minha esposa e meus filhos mereçam sofrer, então é melhor não ter. — Olhou para a aliança no seu dedo. — Ou melhor, tenho.
— Por pouco tempo. — Lembro.
Ele assentiu fraco.
Voltamos para casa, ele parou o carro em frente a porta e saímos.
Marília esperava por mim plantada do lado de dentro, parecia que ela estava naquela posição desde que saí.
Sebastian não precisou rolar os olhos até a escada, já sabia onde era meu lugar.
Quando Marília me deixou sozinha com meus pensamentos pude perceber o quanto as coisas ao meu redor estavam loucas. Fazia meses que não tinha notícia sobre a Gisele, muito menos sobre a May.
Um calafrio percorre minha espinha.
Só de lembrar dos olhos dela, medo apoderava-se do meu corpo, me considerava alguém forte, porém viver tudo que vivi não era tão fácil assim.
No fim, Sebastian realmente me ajudou — pelo menos da forma dele —, eu nunca viveria mais se não fosse por ele, mesmo assim nada tirava da minha cabeça o quão doente era, me manter aqui por um plano seu demonstrava claramente isso.
Não conseguia entender o motivo das borboletas no meu estômago ao pensar nele, na noite de ontem, em suas mãos.
Balanço a cabeça.
— Ele é um doente...
Não sabia se estava me certificando disso ou tentando me convencer. As coisas ao meu redor não parecia mais tão claras.
Coloco o travesseiro no rosto.
Meu corpo inteiro ardia.
As coisas mudaram, negar isso já estava ficando chato.
° ° °
Sebastian sumiu o resto do dia, como de costume. Jantei sozinha, o barulho da colher batendo no prato de sopa já estava irritando meus ouvidos, apesar de estar sempre sozinha confesso que sinto falta de qualquer tipo de barulho.
Aprontei-me para dormir, mas não consegui, os pensamentos ainda faziam festa na minha cabeça, enquanto minha ansiedade gritava no peito.
Olhei para o teto, aquele quarto vermelho parecia abafar minha respiração.
Senti agulhadas na cabeça quando ouvi o barulho de algo caindo no chão do lado de fora, parecia ter sido um vaso, depois a porta foi aberta, a luz que emanava de fora desenhava perfeitamente o corpo do Sebastian que estava com um punho cerrado e no outro havia uma garrafa de bebida.
Sentei-me na cama, assustada.
Ele fechou a porta atrás de si com o pé, virou a garrafa nos lábios com amargura.
— Caralho de bebida barata! — Jogou a garrafa no chão que se desfez em milhares de pedacinhos.
Puxei o lençol a altura do pescoço.
— Eu odeio vodca. — Resmungou.
Vejo ele se aproximar, aperto a barra do lençol. Sebastian caminhava pelo quarto cambaleando, seus pés não acertavam o lugar certo para pisar, então quase tropeçou várias vezes no tapete.
Der repente ele freiou em uma distância confortável olhando para mim, a pouca luz que entrava no quarto pela janela era suficiente para eu saber isso.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Perverso
Amei demais ❤️...