Perverso romance Capítulo 37

Desde que a ouvir cantar, pela primeira vez em anos senti paz. Enquanto virava uma garrafa inteira de vodca na boca, jogado em uma das mesas daquele bar fedido, parecia haver apenas nós dois, que ela cantava apenas para mim. Embora os homens ao meu redor estivessem mais encantados com as mulheres rebolando em seu colo, Jade me chamou atenção apenas com sua voz.

Uma luz iluminou seu rosto maquiado, os lábios possuíam uma cor vermelha que fazia um belo contraste com os olhos extremamente verdes e sofridos, talvez isso tenha me feito sentir tanta atração, por mais mórbido que seja. Quando seu rosto pálido não saía dos pensamentos foi que percebi estar obcecado.

Passei as semanas seguintes visitando a boate com a desculpa de "resolver assuntos" só para ouvi-la. Em uma noite, quando um homem foi mais rápido que eu e a levou para o quarto, surtei. Briguei com a primeira pessoa a minha frente e fui por um caminho que me levou ao terraço, May não interromperia, ela devia-me até sua alma.

Acendi um baseado e traguei, ouvindo sua voz em meus pensamentos.

Uma pedra caiu no chão, roubando minha atenção. Era ela.

Frente a frente senti ainda mais vontade de agarrá-la, mas não podia fazer aquilo perante a situação. Jade estava prestes a tirar sua vida. Senti-me traído, como se sua vida já pertencesse a mim e ela estivesse tirando-a sem meu consentimento.

Como poderia deixar a garota que assombrava meus devaneios morrer sem ao menos tocá-la? Fiz a promessa de tirá-la daquele sofrimento, hoje estamos aqui e ela está tão distante quanto naquela época.

Olho para a aliança em meu dedo.

Jade deu as costas para mim com os olhos marejados, senti verdade em suas palavras e vergonha pela vontade de confortar seu corpo frágil.

Essas semanas foram duras, perceber que minha plena felicidade dependia de um sorriso dela foi um baque e tanto, mas meu orgulho ferido conseguia sobressair.

Havia um rio de sangue nos separando.

Eu queria machucá-la de alguma forma, trazer Lola aqui foi apenas uma tática para fazê-la perceber que também precisa de mim, mas as duas coisas que mais odeio estavam acontecendo, eu estava apaixonado e perdendo o controle.

Essa situação não poderia se estender, pessoas apaixonadas não pensam, elas se tornam seu lado mais animal e fazem besteiras sem pensar. Eu tinha uma empresa e negócios nas mãos, não podia deixar me levar por uma bobagem.

Passo as mãos no rosto.

Meus níveis de cortisol continuam aumentando.

Olho pela janela, Lola e Marília já havia chegado com diversas sacolas.

Reviro os olhos.

Lola não parava de falar, ontem a noite quase costurei sua boca para abafar os gemidos escandalosos.

Tentar esquecer a Jade tinha um preço alto, e não estava funcionando.

Olho para Herald, ele estava no canto da sala com as mãos em frente a barriga.

— Amanhã você deixa a Lola onde encontrou, não aguento mais essa vadia! — Ordeno.

Ele assentiu calmamente.

— Prepare meu carro, tenho assuntos para resolver.

— Certo, senhor Stan.

Herald saiu da sala me deixando a sós, bebi o resto de uísque no copo em apenas um gole.

Estava na hora de seguras as rédeas novamente, meu pai estava a polegadas da morte e em poucos dias a empresa seria completamente minha.

Saí de casa sem que Lola notasse, odiaria ter que ouvir sua voz por mais algum tempo.

Meu carro, um BMW de última geração, percorria a estrada a 100 por hora, era tão deserto que seria impossível acontecer algum acidente.

Seguro firme o volante abafando um suspiro.

Eu parecia ter a Jade nas mãos, mas, ao mesmo tempo, ela era livre o suficiente para escolher se ficaria comigo ou não. Jade é uma egoísta, tanto quanto eu. Ó sim! Pelos céus, ela é.

Eu não importava com seus olhos cheios de lágrimas quando me viu com Lola, com seu queixo tremendo ao dizer o quanto me odeia ou se fico duro só de pensar em tê-la novamente em meus braços. Merda, eu me importava, e foi a partir daí que surgiram meus problemas. Talvez o nosso distanciamento tenha sido bom, pois a dias atrás eu poderia facilmente dizer que a amo sem pensar duas vezes.

° ° °

Suor pingava no ringue. Michael dava pulinhos de um lado ao outro da lona, eu mirava meus olhos em seu rosto, sua boca sem proteção alguma, seria um excelente local para um soco bem-dado, mas não seria covarde a esse ponto.

Michael tenta me acertar um jeb, mas sou mais rápido e acerto seu estomago. Ele apertou os olhos engolindo o ar entre dentes, a adrenalina em seu corpo lhe fez ignorar a dor e ele voltou a proteger seu rosto da mesma maneira de antes com uma expressão de dor. Aproveitando seu momento de fraqueza vou para cima dele e despejo uma série de socos.

Minha boca tinha gosto de sangue.

Meus olhos não focavam mais no mundo ao nosso redor, apenas em Michael.

Ele se protege caindo no chão em posição fetal, e eu continuo em cima dele exalando raiva. Michael bate duas vezes no ringue com a mão, então paro com muita relutância.

Isso costumava acontecer, na escola eu era temido por todos, não por carregar um sobrenome importante e sim porque comprava briga a todo custo. Quando via os adversários caídos no chão, meus olhos pareciam mudar, não ouvia mais as vozes ao meu redor e quando ele já estava tão ensanguentado que mal podia desviar dos meus socos, implorando para eu parar, me sentia um deus.

— Seu filho da puta — murmurou Michael se sentando no chão, apesar de proteger seu rosto a todo custo escorria sangue do seu supercílio —, você disse que queria treinar, não me matar.

Sorrio desenrolando a faixa da mão, com o peito exasperado.

— É para isso que está aqui, não?

Michael bufa.

— Sou seu treinador, não saco de pancadas.

Estendo minha mão para ajudá-lo a levantar, porém, ele a empurra para o lado e levanta sozinho.

— O que aconteceu? Você está mais estúpido que o normal. — Não respondo e continuo tirando a faixa da mão. — Brigou com a sua esposa?

Solto um sorriso nasal.

— Virou vidente?

Deu de ombros.

— Se eu tivesse uma alguém como a Jade em casa não estaria aqui vendo homens suados se esmurrando, estaria em casa fodendo.

Lanço-lhe um olhar ameaçador. Ele sabia risco que tinha em começar com esse assunto, já havia lhe dado bofetadas após ele mencionar os seios marcando na camisola da Jade. Michael costumava fazer esse tipo de piadas com a namorada de todos, mas ele sempre ultrapassava o limite quando se tratava da Jade, parecia adorar me ver perder a cabeça por ciúmes.

Um sorriso malicioso surgiu em seus lábios, ele segura as cordas do ringue e empurra seu quadril para frente e para trás ritmicamente, como se estivesse a enfiar em alguém. Meu peito arde em raiva quando o mesmo dá um tapa no ar fazendo os outros rirem.

O empurro e ele cai para trás rindo, isso me dava ainda mais raiva. Vou para cima dele com um soco pronto no punho, para realmente machucá-lo, mas ele ergue as mãos implorando para eu parar.

— Era brincadeira! — Cerro o punho apertando a mão. Os homens ao redor esperavam por um soco meu, mas brigar pela Jade parecia ainda mais ridículo quando eu pensava sobre. — Você precisa relaxar, cara.

Saí de cima dele respirando fundo, sentei no chão apoiando o antebraço no joelho. Michael olhou-me percebendo minha fúria e sentou ao meu lado.

Cuspo o protetor de dentes no chão.

— Ainda estão brigados? — Perguntou estendendo uma garrafa com água para mim.

Assenti a cabeça cautelosamente enquanto bebia a água.

— Vai mesmo liberar ela depois que seu pai morrer?

Rolo os olhos até ele.

— Pensa que sou idiota? Ela sabe demais.

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