Passei os dias seguintes no chalé, mal olhava meu rosto no reflexo, mas já sabia que meu olho estava menos pior. Anna passava o dia fora, só voltava a noite com o nosso jantar na mão e às vezes um vinho tinto.
Ficava com raiva de mim mesma por sentir falta do Sebastian, às vezes me pegava pensando no que poderíamos ter sido e isso me deixa ainda mais ansiosa, pensando no dia que nos veríamos novamente. Como eu reagiria perante a ele depois de tudo? Sebastian me machucou de todas as formas que pôde, acredito que a cicatriz que deixou no peito foi maior e mais dolorida que qualquer uma que May deixará no meu corpo.
Abraço minhas pernas.
Passei os dias deprimida, sem conversar muito com Anna ou tocar na comida, as coisas pareciam não fazer mais nenhum sentido. A cada dia aqui, escondendo-me dele, me sentia ainda mais fraca e covarde. Meu destino estava nas mãos dele, infelizmente.
— Jade? — Ouço a voz da Anna no quarto.
— Estou aqui. — Puxo o roupão e saio da banheira. — O que aconteceu?
Abro a porta e vejo Anna com o peito descendo e subindo, sua respiração estava desigual e a expressão nada boa.
— Ele está aqui.
Pisquei algumas vezes.
— Quer falar com você, mas eu disse que iria perguntar antes se você quer conversar com ele.
Passo as mãos no rosto.
Lógico que Sebastian não me deixaria em paz, ele sabia que eu estava em suas mãos.
— Posso dizer a ele que você não quer — ela passa sua mão em meu ombro —, não precisa se esforçar para isso.
— Não, eu tenho que falar com ele. Isso teria que acontecer mais cedo ou mais tarde.
Anna arqueou as sobrancelhas rapidamente e assentiu. Parecia desapontada.
— Vista-se, ele te espera no escritório.
Assim que ela saiu do quarto fiquei algum tempo olhando para a parede, organizando meus pensamentos e temendo pelo que podia me acontecer agora. Sebastian era perverso normalmente, mas quando eu o desobedecia era ainda mais.
Vesti uma calça moletom e uma blusa de manga cumprida que Anna havia me dado, penteei os cabelos olhando meu reflexo no espelho. Meu olho não estava mais roxo, haviam apenas alguns pontos esverdeados.
Desci a escada contando os passos, segurando minha respiração descompassada.
Fui até o escritório de Anna, segurei a maçaneta, mas não havia coragem para girar. Lágrimas apareceram nos meus olhos, eu já sabia que aquilo tinha me afetado, mas não ao ponto de não querer nem olhar para ele.
Recolhi minha mão assim que a maçaneta girou sozinha, Sebastian abriu a porta surpreso por me ver do outro lado. Ficamos algum tempo apenas nos encarando, ele respirava boquiaberto, como se tivesse corrido meia maratona. Seus cabelos estavam grandes e os olhos cintilavam, parecia tão amedrontado quanto a mim.
— Entre, por favor. — Pediu ele dando espaço para eu entrar no escritório.
Entrei ouvindo a porta ser fechada atrás de mim.
— Presumo que não quis vir antes para não ver o estrago que causou. — Falo ríspida.
— Pensei que precisasse de um momento para pensar. — Exclamo um humpt. — Eu também precisava.
A voz dele estava assustadoramente suave, como se buscasse manter a minha calma.
Viro de frente para ele.
— Preciso de mais tempo longe de você.
Sebastian parecia já esperar minha resposta.
— Sei que ela parece um anjo, mas a Anna não é confiável. — Afirmou ele.
— Em toda minha vida, a única pessoa confiável que conheci já morreu — rebato. Ele olha para o lado soltando um suspiro despercebido. — Veio aqui apenas para me dizer que ela não é confiável, depois de tudo que você fez?
— Não, tenho duas coisas importantes para lhe dizer.
Dei de ombros.
— Diga.
— Mas só posso dizer se voltar a mansão comigo.
Abro um sorriso sarcástico.
— Por que voltaria?
Abriu a boca, mas não pronunciou uma palavra sequer. Sebastian, um homem árduo e bem gesticulado estava na minha frente com os ombros encolhidos e a boca seca.
Ele olhou bem para mim em seguida.
— Marília sente sua falta.
Decepção despontou meu rosto, meus ombros caíram. No fundo, pensei que ele sentira minha falta.
— Imagino.
— Eu sinto sua falta, Jade. — Finalizou ele.
Voltei meus olhos para os dele, Sebastian estava a polegadas de distância de mim, olhando diretamente para o olho que machucara dias atrás.
— Senti tanta falta sua que chegou a doer, mais ainda por saber que está tão brava com as minhas atitudes. — Sua mão estende para alçar minha mandíbula, mas eu recuo. — Sei que a machuquei, não estou falando apenas do seu olho roxo, também sei que não mereço seu perdão, mas poderia pelo menos ouvir o que tenho a dizer?
Olhei para meus pés quando percebi meus olhos nadarem em água.
Pigarreio.
— Eu realmente preciso lhe dizer isso. — Implorou ele.
— Tudo bem, eu volto.
° ° °
Anna pareceu decepcionada quando falei que voltaria com Sebastian. Ela ficou algum tempo olhando para o nada, sua expressão de compaixão sumirá dando lugar a raiva. Entendia, ela estava com medo de eu me machucar novamente com o Sebastian, mas já havia sofrido tanto que criou uma casca-grossa em mim.
— Tem certeza disso? — Perguntou ela.
— Sim.
Seus olhos castanhos olham para os meus.
— Ele conseguiu mais uma vez.
Franzo o cenho.
— Do que está falando?
Sua feição endureceu.
— Dele te manipular mais uma vez e você cair.
— Por que está falando desse jeito? Anna, preciso fazer isso.
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