Perverso romance Capítulo 48

Arrastei a mesa até próximo do basculante, era pesada, mas com esforço consegui. Subi na mesa com dificuldade e aproximei meu rosto do basculante, do lado de fora só conseguia ver a floresta de pinheiros coberta de neve e atrás o sol se pondo. Passei meu braço pelo buraco da janela, o espaço era apertado demais para meu corpo. Sacudi o basculante numa tentativa de quebrá-lo, mas a solda nem sequer se moveu. Apoiei minha testa na parede, exausta e com frio.

Todos os dias eu costumava fazer isso, quando os meus pensamentos me levavam a acreditar que nunca sairia daqui. Talvez eu nunca saísse.

Alguns dias passaram, sabia quando era noite por conta do basculante e comia apenas uma vez por dia, geralmente era pão ou uma sopa com ingredientes duvidosos.

Ouvi a porta sendo destrancada, desci da mesa em uma velocidade que me fez cair no chão.

Anna apareceu com dois capangas, ela usava um batom vermelho vinho e o mesmo casaco de peles, porém desta vez era marrom chocolate.

Saber que Anna estava envolvida nisso me deixou ainda mais triste, pois realmente acreditei que ela fosse diferente. Sebastian sempre teve razão, ela não era quem eu pensava ser. Em toda minha visa sempre fui enganada pelas pessoas cujo confiei, talvez o problema fosse eu por ser tão tapada a ponto de não ver que as pessoas podem ser bem cruéis às vezes. Ela me lança um olhar penoso.

— Ainda está tentando sair? — Perguntou retoricamente.

— Não entendo porque ainda vem aqui, quer me ver cada dia mais na merda?

— Talvez. — Disse ela se aproximando de mim. — Mas desta vez você vem conosco, nos temos novidades.

Antes que eu corresse os capangas agarraram meus braços e me arrastaram para fora.

Anna caminhava logo atrás de nós, eu podia ouvir o barulho de seus saltos no chão.

Eles me arrastaram por corredores escuros e sujos.

Desisti de me debater, minhas energias estavam escassas.

Chegamos a um quarto com alguns quadros e a parede tinha um tom de sujeira, a minha frente estavam alguns homens sentados à beira de uma mesa bem servida com pernil, vinhos e frutas, Martíni estava lá conversando com eles, assim que chegamos os capangas me soltaram no chão e a porta atrás de mim, foi fechada.

Continuei no chão, com as mãos caídas ao lado do corpo, olhando para minhas pernas.

— Ela não parece estar em boas condições. — Ouço o homem falar com um sotaque diferente. — Você disse que ela era bonita e jovem.

— Levante seu rosto, menina. — Martíni fala.

Permaneço imóvel, sentindo meu lábio inferior tremer e meus olhos serem encharcados.

— Levante o rosto, agora! — Disse ele mais uma vez com a voz mais grave.

Continuo na mesma posição, até sentir alguém empurrando minha mandíbula para frente com força, obrigado-me a olhar para cima.

A expressão do homem voltou-se para um sorriso porco, a ponto que me deu dor no estômago.

Tentei mover minha cabeça, mas seguravam meu rosto com tanta força que chegava a doer.

— Fique quieta, ratazana! — O homem que me segurava falou ao meu ouvido.

Anna observava a cena toda ao lado de Martíni, com uma expressão de diversão.

— Tudo bem, vou comprá-la, mas antes preciso testar o produto.

Arregalo meus olhos. O capanga me segura com mais força.

Martíni olha para Anna.

— Não seria justo, você já vai comprá-la, tem muito para aproveitar com ela. — Argumentou ele.

— Quero ter certeza que ela suprirá minhas necessidades, você sabe que sou um homem exigente.

Anna levanta a mão, ainda com os olhos voltados para mim.

— Então duplicados o valor e cinquenta por cento do pagamento será adiantado. — Disse ela com uma voz fria.

— Mas já estou pagando uma fortuna por essa garota!

Anna olhou-lhe.

— Estamos falando sobre uma garota jovem e saudável que pode lhe dar muitos filhos, não é sobre uma das suas esposas velhas. — Anna ergue o pescoço. — Se não quiser, há muitos que pagaria até mais do que isso por ela.

O homem pareceu estar apreensivo, mas logo em seguida ergueu a mão para ela que apertou com firmeza.

— Tudo bem.

Martíni sorrio mostrando os dentes amarelados, orgulhoso de sua companheira ser tão boa para os negócios.

Anna se aproxima de mim em passos curtos, rebolando o quadril magro deixando todos na sala sedentos e se abaixa a minha altura, se apoiando nos calcanhares. Ela leva a mão até meu rosto e tira os cabelos de minha face.

— Isto vai acabar em breve, eu prometo.

May também dizia a mesma coisa, sempre que ia me oferecer a alguém, ela costumava dizer que seria rápido e que logo eu sairia do quarto, mas as meninas sempre provaram o contrário, quanto mais imersivo nesta vida mais difícil é de sair.

— Sabe, conversei com o Sebastian esses dias, ele pareceu tão leve, tão bem sem você, me disse isso enquanto estava em meus braços.

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