– Pode ir com o meu carro, Ale. Amanhã eu pego um ônibus. Vai, o seu caso é urgente. – Eu disse e Ale concordou meneando a cabeça.
– Eu preciso realmente ir. E você tem que ficar com seus avós, Sara. Por favor, não preocupe ninguém da festa com o caso do meu pai. Diga que eu fui resolver uns negócios. Mas não fale. Ninguém da imprensa ainda está sabendo disso. Essa notícia não pode correr. – Disse Alexander e parecia realmente preocupado. Apenas balancei a cabeça concordando, pois ainda estava em choque com a notícia, sem saber realmente o que dizer.
Ale segurou minha cabeça com as duas mãos e beijou a minha boca num beijo selvagem e rápido, como se despedisse de mim. Adentrou o meu carro rapidamente, tirando as meias dos retrovisores e jogando no banco traseiro. Eu apenas fiquei o olhando, ainda meio paralisada, enquanto ele se esforçava para manobrar o carro e sair naquela noite escura.
Pela primeira vez tive medo. Medo de que alguma coisa acontecesse com ele. Medo que ele perdesse o pai dele, tal como perdi o meu. Pois eu quase não tinha conhecido o meu pai, mas ele sim. Ele tinha uma história com o pai dele. Tive medo de Ale dirigindo por aquelas estradas escuras para chegar em São Paulo. Tive medo de ele, virando a noite, tentando buscar informações a respeito do pai. Tive medo que alguma coisa lhe acontecesse pois sim, agora ele começava a fazer parte da minha vida. Começava a ser alguém com quem eu me preocupava e muito.
– Por que o Ale saiu? – Ouvi minha mãe vindo ao meu encontro e me perguntando. Aparentemente, todo mundo da festa estava querendo saber. Mas eu precisava fazer o que ele tinha dito. Ninguém precisava se preocupar com isso. Apenas eu. Muito embora eu tivesse tido dificuldades em lhe dizer para me dar notícias.
– Alguns negócios da rede. – Disse friamente e mamãe pareceu perceber que eu não queria falar disso, puxando a atenção do assunto para outra coisa.
– Vejo que está noiva, minha filha! – Disse mamãe feliz enquanto puxava a minha mão na sua direção para olhar o anel. Eu ainda estava paralisada olhando para o horizonte, pois enfrentar o que eu estava sentindo não era algo que eu fazia com frequência e agora eu estava com medo disso: Do que eu sentia. – Muito bonito o anel que Ale te deu!
– Sim. – Respondi.
Mamãe começou a andar pela festa comigo, tentando fazer as pessoas se concentrarem no fato de que eu estava noiva e não que meu noivo agora estava resolvendo um problema da empresa / na verdade problema com seu pai, que só eu sabia. Eu me senti, por alguns minutos, uma boneca de porcelana sem vida, sendo arrastada de um lado para o outro enquanto eu me preocupava e velava por Alexander.
Eu já podia dar um atestado de que estava sentindo alguma coisa por Alexander. Ainda que não soubesse exatamente o que era, eu poderia dizer que era alguma coisa. E isso me dava medo, muito medo, pois não era para ser assim, não é mesmo? Não era para eu começar a gostar dele. Estava tudo errado.
Em algum momento da festa consegui me desvencilhar das pessoas e fui para o meu quarto. O cheiro de Alexander ainda estava impregnado ali. Ele não tinha levado nada. Intacto. Todas as coisas dele ainda estavam ali. Suspirei enquanto me jogava na cama, de qualquer jeito e aspirava nas cobertas o cheiro dele.
Eu era uma incrível babaca. Quem começa a gostar de alguém em algumas semanas? Quem começa a se preocupar com o outro em tão pouco tempo? Ainda assim, embora parecesse tão pouco tempo, parecia que já fazia tanto tempo que eu conhecia o Ale e isso me assustava. Pois ao mesmo tempo que eu achava que o conhecia perfeitamente bem, eu bem sabia que não conhecia era nada da vida dele. Ele era uma página em branco, alguém que eu ainda quase não sabia, ainda que tivesse a ilusão de que sabia algo dele.
Ouvi a porta sendo entreaberta e percebi que era vovó entrando. Me sentei na cama, ainda que não estivesse disposta para conversar. Na escuridão, vovó parecia uma alma penada sentando no fim do meu colchão. Não tinha o que falar, então fiquei esperando que vovó dissesse alguma coisa.
– Você está bem, Sara? – Ela disse depois de longos segundos.
A lua iluminava metade do rosto da minha vó que parecia reflexiva olhando para o nada. Dei de ombros.
– Estou bem vovó.
– Você e o Ale... – Começou vovó cautelosa. – Não brigaram, não é mesmo? – E eu só consegui negar com a cabeça.
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