O outro dia foi mais tranquilo. Consegui uma carona com Jorge, o noivo de Aninha e a própria Aninha. Só precisei aguentar algumas horas de tortura ouvindo ela falar somente dela enquanto Jorge continuava quieto, como se fosse mudo. Inclusive, fiquei até a pensar se ele não era surdo e mudo, pois ele realmente não disse um pio a viagem toda e Aninha continuou a disparar sua metralhadora a viagem inteira.
Queria estar em outro universo a ter que ouvir Aninha, mas era a minha carona para São Paulo e o que ajudei com o combustível nem se compararia ao preço que eu pagaria se tivesse pego um ônibus.
Fora esse problema, a viagem seguiu tranquilamente. Já tinha mandado umas três mensagens para Alexander, pedindo para ele me deixar informada, mas até o momento ele sequer havia visto a mensagem. Eu estava começando a ficar preocupada, sem notícias, mas concentrei tudo isso dentro de mim e fiquei a esperar. Uma hora Alexander lembraria de mim e me falaria algo, não é mesmo?
Cheguei em casa e a encontrei vazia, o que, de certo modo, era o que eu deveria esperar. Claro que ela ficava muito diferente sem mamãe e vovó ali, mas tudo bem. Eu me acostumava fácil a solidão. Desfiz minha mala e sentei na minha cama, ainda ruminando tudo o que tinha acontecido até então.
Fiquei a pensar. O silencio do meu apartamento favorecia que eu pudesse fazer isso. Já era hora do almoço, mas eu não sentia fome alguma. Eu só conseguia pensar em como deveria estar o Senhor Frederico e como Alexander deveria estar. Estava já ficando ansiosa por notícias. Peguei o meu celular e cliquei em Alexander novamente.
Para minha surpresa ele tinha observado a mensagem, mas não tinha dito nada. Aquilo se acendeu como um ponto de luz em mim e eu só consegui clicar para fazer uma ligação e deixar chamando esperando que Alexander me atendesse.
Mas como eu deveria imaginar, nada. Ele não atendia o telefone.
Suspirei e deitei na minha cama jogando o celular para o canto. O que diabos poderia estar acontecendo para ele não me atender? Será que era algo sério? A verdade é que eu odiava ficar no escuro e era exatamente essa sensação que eu tinha agora: De que eu estava no escuro. Respirei fundo e tentei pensar em outra coisa. Sem sucesso.
Peguei o celular novamente e me sentei na cama esperando que assim viesse uma luz divina que pudesse me dar outra ideia genial. E se eu ligasse para a Mara? Será que ela conseguiria ter alguma informação para me dar? Não custava tentar, pensei por fim.
O telefone dela, diferente do Ale, não precisou chamar muito e ela logo atendeu. Esbocei um sorriso tímido enquanto falava:
– Oi Mara, aqui é a Sara. – Disse.
– Eu sei que é você, docinho. – Disse Mara rindo. – Já está gravado no meu celular. – E eu fiquei pensando no quão patético deve ter sido tudo o que eu falei.
– É... Você sabe do Ale? Ele precisou sair rápido em virtude daquele problema que ele disse para eu não comentar, entende? Você está sabendo de alguma coisa? – Perguntei esperançosa de que Mara tivesse entendido o meu recado. Mara suspirou do outro lado da linha antes de falar:
– Sim, Sara. Eu sei do problema. Mas eu não sei muito do Ale. Depois que ele foi resolvê-lo, não tive muito contato com ele. Mas eu vou tentar ligá-lo e dizer que você precisa falar com ele, se eu conseguir falar com ele. Provavelmente ele está resolvendo algo sério, mas quando ele puder, ele deve ligar para você. – Respondeu Mara como se soubesse de alguma coisa. Pensar nisso só me fez ficar meio alarmada.
– Ele está resolvendo alguma coisa? – Perguntei e Mara bufou.
– Eu não sei, docinho. Só sei que o Senhor Frederico parece melhor, ainda que em observação. E eu não deveria estar falando uma coisa dessas por ligação. Olha, Sara. Eu vou ter que desligar, de verdade, mas faz o seguinte, espera, que assim que puder, Ale vai te falar algo. – Disse Mara meio seca e eu concordei, ainda que ela não pudesse ver, balançando a cabeça afirmativamente.
– Beleza. Vou ficar no aguardo então. – E então Mara desligou me deixando sozinha com os meus próprios medos.
Felizmente, como ela tinha dito, o Senhor Frederico parecia melhor, mas era a única notícia que eu tinha. E, de alguma forma, Mara deixou a entender que Ale está vivo e acredito que meu querido Dobby também esteja, o que é muito bom. Mas é só isso. Não tenho sequer mais nenhuma informação.
Volto minha atenção para o apartamento. O meu toque já está se acentuando, pensando em poeira, e eu decido que para afugentar toda a gama de pensamentos que me percorria, eu iria arrumar o meu apartamento. Assim, quem sabe, mergulhada na limpeza, eu pudesse esquecer um pouco de Ale, do restaurante e de tudo que envolvia esse homem cada vez mais misterioso.
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