Quando terminei o banho, percebi que meu celular não parava de apitar. Pensei por um instante que pudesse ser Alexander mudando de ideia e querendo me encher o saco, mas me assustei com o número que observava na tela. Parecia demais para acreditar que aquele número inusitado estivesse me ligando para falar comigo.
Aninha.
O que Aninha poderia estar querendo falar comigo? Ela que parecia só se preocupar com o seu próprio umbigo e com suas próprias ideias? Eu não fazia a mínima ideia. No entanto, quando o celular voltou a tocar pela décima quarta vez, eu achei melhor atender. Vai que fosse algo urgente?
– Aninha? – Perguntei só para confirmar, pois vai que ela teve o celular roubado e a grande ironia é eu ter sido o trote da vez. Não foi o caso.
– Sara! – Ouço entre soluços fortes, o que só me faz ficar mais alerta. – Eu preciso de alguém para conversar! Por favor, deixa eu ir aí! – Ela pede chorando e eu, encabulada, não sei mais o que dizer além de:
– Claro. É só vir. – E passar o endereço certinho para ela, pois estava assustada que Aninha estivesse num momento como esse precisando de mim.
Ela não demorou para chegar e assim que abri a porta do meu apartamento, fui recebida por uma loira chorosa me abraçando e lamentando-se ainda mais por algo que no meio dos soluços eu simplesmente não conseguia entender.
Coloquei ela no sofá ainda sem entender nada e fui buscar um copo d’água para ela enquanto a deixava respirando com certa calma. Dei-lhe o copo e ela bebeu a água toda de uma vez, sem parar para respirar. Quando parou, voltou a soluçar novamente e eu já não fazia a mínima ideia do que dizer ou fazer para que ela parasse.
Por isso, apenas fiquei sentada, no sofá, encabulada, esperando ela parar de chorar.
Quando Aninha voltou a se acalmar novamente, parecendo voltar a si, pude contemplar seus olhos inchados de tanto chorar e esperar que ela abrisse a boca para explicar. Não ia pedir explicações. Sabia que havia o momento certo que a pessoa se sentiria a vontade para falar. Eu, por exemplo, ainda não me sentia bem o suficiente para falar sobre a minha situação com Alexander. A dor me comendo por inteira, mas eu preferia guarda-la apenas para mim. Cada um havia a sua maneira de lidar com a dor.
– O Jorge... – Aninha fungou novamente parecendo abalada. – Me- me Largou. – Ela disse e voltou a chorar novamente escondendo o rosto numa almofada enquanto me jogava aquela bomba e fazia a minha mente trabalhar naquela frase pensando em inúmeras hipóteses para tal coisa, cada uma me deixando mais louca do que eu já era, já que eu sempre enlouquecia quando pensava em muitas coisas abrangentes assim.
– Como? Por que? – Perguntei e tive que esperar ainda um tempo para Aninha se acalmar novamente para explicar. Ela realmente estava muito abalada, porque eu nunca tinha visto ninguém chorar tanto na minha vida.
– El-Ele não acredita em-em mi-mim! – Ela disse e isso só me fez ficar ainda mais confusa do que eu já estava.
– Desembucha logo então, Aninha. – Disse e Aninha limpou as lágrimas com as unhas grandes, calmamente, enquanto parecia tentar se controlar de forma que pudesse explicar o ocorrido. Apenas aguardei enquanto ela se punha a falar.
– Ele acha que eu peguei o meu chefe, o Caio, mas eu não peguei! Isso foi antes da gente se conhecer! – E eu arregalei os olhos sem entender bulhufas, porque aquela história parecia mais insana do que minha mente estava tentando processar.
– É o que? – Perguntei confusamente e Aninha revirou os olhos parecendo agora mais calma para explicar.
– Antes de conhecer o Jorge, eu cheguei a ficar algumas vezes com o Caio. – E ela disse isso dando de ombros como se não se importasse. – Ele me fez o contrato para trabalhar com ele e me disse que queria pegar outras meninas, então a gente concordou e terminou como bons amigos, sem se pegar nunca mais. – Ela respirou fundo. – E então eu continuei trabalhando com ele porque a gente sempre teve uma relação tranquila. – E então Aninha voltou a encher os olhos de lágrima, como se se aproximasse da cena derradeira, que eu deveria mais prestar a atenção.
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