– Ele é tão fofo, Sara! E o livro que ele me emprestou é tão inteligente! – Disse Aninha me fazendo revirar os olhos. Eu já não aguentava mais o papo dela de Murilo para cá, Murilo para lá, pessoas apaixonadas as vezes são tão chatas.
Mas Aninha estava conseguindo ultrapassar inclusive essa cota, já que ela já estava há uma semana falando da mesma coisa! O quanto Murilo era inteligente, de que ele tinha levado ela para tomar um sorvete, que tinha feito uma poesia sobre ela, de que ela finalmente compreendia agora que era Jorge que estava a perdendo e que Murilo era tão carinhoso, e que ele isso, ele aquilo, isso acolá, não sei o que mais. Eu já estava quase me desligando para não ter que ouvir mais dessa paixonite dela.
Acho que o pior de tudo era que eu ainda estava quebrada, recuperando os meus pedaços internos, então, ouvir alguém feliz, finalmente conseguindo reestruturar a vida, me fazia ter um pouco, um mínimo de ciúme, porque eu queria ter a chance de ter o mesmo que Aninha. Queria um dia poder consertar o meu coração, queria, enfim, não me sentir tão solitária. Aparentemente, Ale tinha me feito encarar a vida de outra forma. Eu não era mais a Sara de antes, a Sara sem amigos. Até me preocupava bastante com Dobby, mas nada tão alarmante ao ponto de ficar vidrada como eu ficava antes. Eu mudei.
Em pensar que foi tudo por conta de um maldito coração quebrado.
– Sara? – Pergunta Aninha e eu a olho. Ela já está puxando a grade do restaurante, ficando apenas uma portinha pela qual sempre passávamos para sair depois. A gente ainda ia chamar o uber, pois eu ainda precisava conferir as coisas na cozinha enquanto Aninha contava o dinheiro. Mas era coisa rápida. E logo pusemos-nos a fazer. Fui então para a cozinha.
Minha cozinha estava organizada e no fim fiquei a perceber que eu só teria que fazer mais do molho agridoce de cebola, que saía muito por sinal. Suspirei tirando o avental e pegando a minha bolsa. Da minha parte estava tudo pronto, faltava só ver se de Aninha também estava.
Antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa do tipo, ouço um barulho vindo de fora da cozinha e fico a pensar se Aninha não deu uma de estabanada e deixou alguma coisa cair. Vou então para fora da cozinha percebendo que, para meu susto, não era nada disso.
Era ainda pior.
Quando ela me disse que eu ia pagar, que ela veria a minha vingança saindo uma hora ou outra, por um momento eu senti medo, mas, por outro, depois de tanto tempo passado, eu não acreditei nem um pouco. Para mim, já tinha virado passado e eu já nem lembrava mais da ameaça para sequer pensar em algo a respeito.
Mas ali estava a outra Ana nos olhando.
Engoli em seco enquanto estendia as mãos para ficar a vista dela, com medo de que ela sequer pensasse e já atirasse em mim. Ana estava com uma arma na mão, os olhos muito vermelhos, o que me fez ficar pensando se ela não estava drogada, com pensamentos muito raivosos tomando lugar na mente dela.
Pior de tudo que Aninha não tinha nada a ver com isso, mas ali estava ela na mesma enroscada que eu.
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