As vezes eu fico pensando em como a vida pode nos ser surpreendente. Meu coração ainda doía muito depois do que eu tinha visto, mas nunca mais ouvi falar de Alexander depois disso. Era como se de repente ele tivesse desaparecido.
Muito embora a minha curiosidade continuasse muito forte. Afinal, como será que ele estava depois de tudo o que ocorrera? Eu torcia para que ele estivesse bem. Não queria que ele voltasse ao que ele tinha estado.
O restaurante continuava indo bem, embora o tempo passasse. Aninha e eu já tínhamos juntado um dinheiro para comprar um carro bem barato para não ficarmos precisando de uber. E a vida seguia enquanto eu já começava a aceitar a ideia de que talvez eu não tivesse sido feita nessa existência para ter alguém.
Mas tudo bem. Eu aceitava esse fato.
Mamãe e Vovó pareciam muito felizes que eu e Aninha tínhamos nos acertado, na medida do possível, e que íamos tocando o nosso negócio da melhor forma que podíamos. Na verdade, até nós duas não demos créditos que teríamos o lucro que estávamos tendo e a forma como estávamos sendo reconhecidas. Era algo que gostávamos muito de ver, já que estávamos nos empenhando o máximo possível para fazer o Dobby dar certo.
Infelizmente, cada tempo que passava, mais distante ficava a ideia de Dobby voltar. Afinal, o carro que compraríamos seria ainda mais básico do que Dobby era, fora ser metade do preço e Dobby teria que esperar um momento quando eu conseguisse juntar dinheiro novamente e pudesse compra-lo com meu próprio lucro individual. Ou seja, Dobby ia demorar para voltar.
O movimento já começava a diminuir quando vi pela janela de recados que uma pessoa conhecida se aproximava para pedir algo para comer, embora Aninha não soubesse quem era. Sorri diante da imagem de Murilo e abri um pouco mais a janela para que ele me visse enquanto dizia:
– Sentiu minha falta? – E ele ria achando graça enquanto coçava a cabeça.
– Na verdade, vim mais parabeniza-la pelo grande trabalho com Dobby. Vim fazer uma matéria, se você não se importar. Estou devendo a você. – Disse Murilo piscando e eu baixei o olhar, ainda encabulada, pois não sabia se Murilo estava falando da cena de muito tempo atrás, que ocorrera na festa, ou se ele estava falando de agora pouco, o fundo do poço que Alexander foi capaz de chegar. Já não sabia mais do que ele falava. Estava confusa.
– Uma matéria? Estamos fazendo tanto sucesso assim? – Perguntou Aninha com um sorriso bobo de orelha a orelha, o que chamou a atenção de Murilo que passou a se apresentar para a moça.
– Sim, isso mesmo, Senhorita. Chamo-me Murilo, sou jornalista. – Ele disse e Aninha deu uma risadinha boba, que só me fez revirar os olhos, enquanto cumprimentava Murilo com um aceno respondendo-o:
– E eu sou Ana Claudia, a prima da Sara. Mas todo mundo me chama de Aninha. – E ela sorriu ao dizer isso, o que fez Murilo abrir um sorriso também.
– Você não se parece tanto com a Sara. – Ele comentou me olhando de soslaio e eu revirei os olhos porque realmente não podia acreditar que Murilo e Aninha agora estavam conversando sobre mim na minha frente.
– Ah, mas a Sara a gente aprende a conviver. Ela pode parecer meio maluquinha das ideias num primeiro momento, mas ela tem um coração de ouro quando serve para ajudar os outros. – E ouvir aquilo saindo da boca de Aninha só me fez ficar de boca aberta, pois nunca pensei que Aninha fosse capaz de um elogio, ainda mais na frente da pessoa elogiada. Até parecia outra pessoa, como se Aninha tivesse sido abduzida. O que seria uma explicação muito mais plausível do que Aninha estar bem.
– Devo concordar com você. – Ele disse rindo o que me fez arquear uma sobrancelha, fazendo barulho com a garganta para ver se assim eles me notavam e percebiam que eu estava ali. Pareceu dar certo.
– Bom, vou fazer uma entrevista, se vocês não se importarem. – Ele disse e eu neguei balançando os ombros. Por fim, antes de começar, Murilo se aproximou de mim e fez a pergunta que eu não imaginava que ele fosse capaz de fazer: – Você e o Alexander...? – E eu respirei fundo contando até mil para não morrer enquanto me fazia de indiferente na frente de Murilo.
– A gente terminou sim. Mas tudo bem. Sem mágoas, sem problemas. Eu e Aninha como você pode ver estamos muito bem. Até mesmo ela que também terminou um relacionamento. – Disse dando uma alfinetada enquanto arqueava a sobrancelha, porque não tinha me ficado nem um pouco despercebido o olhar que Murilo estava tendo na minha prima. E talvez sair com alguém fizesse bem para ela. Ajudaria ela a esquecer de Jorge. Ao menos era o que eu pensava. Não costumam falar que se cura um amor com outro amor? Eu torcia muito por Aninha e esperava de coração que ela não tivesse o mesmo azar que eu de aceitar a vida ficando para titia.
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