Minha mãe parece ofendida, como se estivesse prestes a dizer que não foi assim que ela me criou e eu consigo perceber que o sorriso irônico de Alexander parece fugir um pouco dos lábios, como se ele estivesse começando a ficar com um pouco de raiva.
– Eles vão perceber que tem algo estranho. Eu chegando com você? – Pergunto tentando fazer ser essa a justificativa quando, na verdade, eu não queria era nunca mais pisar meus pés naquele carro novamente.
– Não tem problema. Eu te deixo lá na porta dos fundos e parto. Ainda vou ter que buscar meu pai. Ele também vai analisar o prato, ainda que seja eu o dono da última palavra. – Concordo balançando a cabeça, mas ainda não estou nada decidida de que compactuo com a palavra dele.
– Ah, Sara. Daí não tem nada a ver. E outra, ninguém vai ver ele. Nem vão perceber. – Disse minha mãe e eu tentei não rir pensando que seria sim perceptível e que seria sim um choque, já que as pessoas não estão acostumadas, por aí, em ver Sarinha com um namorado. E a simples ideia de que o homem do carro preto o fosse, já geraria um alvoroço tenebroso.
– Você pensa muito. É por isso que seus pratos são perfeitamente técnicos, amor, mas não cem por cento de alma. Você não se entrega. – Disse Alexander me fazendo ficar perplexa com seu comentário e boquiaberta por ele ter mal me conhecido há um dia e já parecer saber tanto de mim só de ter cozinhado ao meu lado.
Aparentemente, até minha mãe está boquiaberta com a sinceridade dele. Ninguém nunca chegou e disse algo assim para mim. E eu, obviamente, que não aceito isso. Ninguém pode dizer algo sobre o meu trabalho em apenas um dia. Eu colocava emoção sim! Eu colocava minha alma sim! E ele que se danasse, porque ele não sabia do que estava falando!
– Sai. – Digo entredentes para não dizer algo pior e acabar com a nossa ceninha amorosa na frente da minha mãe. Ele parece entender isso perfeitamente bem, já que ele rapidamente sai e se encaminha para o elevador e eu vou logo seguindo atrás, porque estou maquinando palavras boas para o dizer assim que eu estiver longe do espetáculo aos olhos da minha mãe.
O elevador se fecha e eu aproveito então o momento. Volto meus olhos para Alexander e sinto que estou tirando um peso das costas, já que agora não tenho mais que fingir. Nunca gostei de fingir nada.
– Olha só, eu não te dei o direito de falar assim comigo.
– Na verdade, ainda não conversamos sobre o trato, então ainda não aparamos as frestas do contrato para saber o que posso ou não fazer sem que você me xingue.
E o maldito parecia ter resposta para qualquer coisa que eu queria dizer! Mas isso não ia ficar assim!
– E temos que aparar mesmo! E essa é uma das coisas que me recuso que você fale! Não quero sua opinião sobre minha vida profissional! Na verdade, ainda que você seja o meu chefe, preferia que você não se metesse nessa parte. Se estamos tratando de uma troca, a nossa única troca é de aparências. E quanto ao trabalho vocês nunca aparecem no restaurante. Eu fazendo meu trabalho perfeitamente, está bom, não é mesmo?
– A inauguração é só daqui um mês, Sara. – Ele disse como se eu não soubesse disso.
– Que seja! – Bufei. – Quando vamos montar esse contrato, trato, sei lá? – Pergunto impaciente. Agora que ele já se meteu na minha vida e até se apresentou para minha Mãe e minha avó que nunca mais o esquecerão, eu preciso ao menos cuidar da parte importante, que é me assegurar que esse contrato seja o menos danoso possível a mim ao mesmo tempo que me dá uma oportunidade única.
– Hm... – Alexander parece pensativo até lançar-me um de seus outros sorrisos sínicos de canto de rosto. – Então você aceita fazer parte dessa grande farsa? – Reviro os olhos. Achei que isso já tinha ficado claro.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Sal, Pimenta e Amor(Completo)