A porta do consultório do Dr. Almeida se fechou com um clique suave. O ar condicionado do Hospital Santa Catarina zumbia baixo, um som constante que Clara Mendes mal notava depois de anos naquele lugar.
—Porto das Águas?
Dr. Almeida, o diretor do departamento de cirurgia, ajeitou os óculos na ponta do nariz. Ele releu o formulário de transferência sobre sua mesa, a testa franzida em incredulidade.
—Tem certeza disso, Dra. Mendes? Você é uma das nossas melhores cirurgiãs.
Clara manteve a postura ereta, as mãos cruzadas na frente do corpo.
—Tenho, doutor. É uma decisão pessoal.
Sua voz saiu firme, sem qualquer hesitação. A hesitação tinha morrido nos últimos seis anos, gota a gota.
Dr. Almeida suspirou, derrotado pela sua calma inabalável.
—Se é o que você quer... Vou dar andamento ao pedido.
—Agradeço.
Ela se virou e saiu, seus passos ecoando no corredor polido. A decisão, uma vez tomada, trouxe uma estranha leveza ao seu peito. Era como remover um tumor que a consumia por dentro.
Foi então que ela os viu.
No final do corredor, perto da ala pediátrica, estava Arthur Montenegro. Seu marido. Ele estava agachado, o terno caro e impecável amassando levemente nos joelhos, e sorria para um garotinho.
Ao lado dele, de pé, estava Isabela Ferraz.
O primeiro amor de Arthur. A mulher cujo nome era um fantasma em seu casamento.
A cena era perfeita, um quadro de família feliz banhado pela luz do sol que entrava pela janela. Isabela olhava para Arthur com adoração, a mão repousando no ombro dele.
Clara parou de repente. O ar pareceu ter sido roubado de seus pulmões.
O garotinho, Enzo, riu alto de algo que Arthur disse.
Clara não fez rodeios. Ela respirou fundo, o último resquício de esperança morrendo naquele instante.
—Dona Helena, eu quero o divórcio.
O silêncio no escritório se tornou pesado. A matriarca não pareceu surpresa, apenas... cansada.
Ela pousou a xícara no pires com um estalo delicado.
—Então, é isso. Seis anos e você não conseguiu.
Não era uma acusação, apenas a constatação de um fato. Um investimento que não deu retorno.
—É uma pena que você não tenha conseguido fazer meu neto te amar.
Dona Helena a encarou, o olhar penetrante.
—Você tem a minha permissão.

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